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Moradora de Ribeirão completa 100 anos hoje

Família organiza festa, no bairro Colônia, para receber 100 convidados e comemorar o centenário de Maria

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
01/01/2019 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 Uma vida que pode ser contada em números: 14 filhos, 21 netos, 21 bisnetos, oito trinetos e 18 agregados. Esse é o tamanho da família da moradora de Ribeirão Pires Maria Monteiro da Silva, nascida em Alagoas, em 1º de janeiro de 1919, e que celebra hoje 100 anos. Para comemorar a data, será realizada, no bairro Colônia, em Ribeirão, festa para cerca de 100 pessoas, entre parentes e amigos.

Com a memória fraca – quadro que vem se agravando há cerca de seis meses –, dona Maria tem dificuldades para se lembrar quantos filhos teve. Uma das filha a ajuda: “São 14, mãe”. E ela completa com “é mesmo”. São os filhos, netos e bisnetos que a auxiliam a resgatar as lembranças, desde quando a matriarca da família ficou viúva, com apenas 32 anos, 13 filhos e grávida de oito meses, até a chegada em Ribeirão Pires, no ano de 1960.

Entre todos os filhos, apenas seis ainda estão vivos. A filha Albanir Ferreira da Silva, 69 anos, relembra que, quando a família veio de Rio Largo, em Alagoas, passou por período de grandes dificuldades. “Lá no Nordeste tínhamos uma vida boa, meu pai era administrador, mas minha mãe sozinha não conseguiu manter. Então, depois de algum tempo, viemos para a Quarta Divisão (em Ribeirão Pires) e foi bem difícil. Após quatro meses nos mudamos para Vila Ema, os filhos foram trabalhando e a vida foi melhorando”, relembrou.

Sem conter o choro de emoção, a outra filha, Areni Ferreira Martins, 67, contou que foi com seu primeiro salário como empregada doméstica que a mãe comprou uma máquina de costura, ofício que ajudou a sustentar os filhos. “Tínhamos dificuldades, mas nunca passamos fome”, destacou.

O neto Roberto Ferreira do Nascimento, 55, relembrou de quando era garoto, com 15 ou 16 anos, e ia, a pedido da avó, para a granja da Vila Gomes buscar os frangos que dona Maria matava e cozinhava para as refeições. “É uma coisa que me marcou, porque eu ficava triste”, declarou. Dona Maria tem mais um lampejo de memória e diz: “Beto, Beto...”. Ganha outro abraço do neto. Dona Maria consegue se lembrar de como era a cidade quando chegou a Ribeirão Pires, vinda do Nordeste e com os filhos pequenos. “Era feia, cheia de buraco. Moramos em uma casa que, quando chovia, enchia d’água”. Para surpresa geral, recordou-se do nome da rua onde morou em Alagoas: Utinga Leão. As filhas e netos a lembram que agora a cidade está mais bonita. Ela concorda.

Pequena em estatura e de aparência delicada, dona Maria já superou muitos desafios. Um deles, quando foi atropelada em 2001, então com 82 anos. A formação de um coágulo no cérebro em decorrência do acidente a obrigou a se submeter a uma delicada cirurgia. Antes disso, em 1997, perdeu o filho mais novo, Ademar Ferreira da Silva, taxista, assassinado aos 42 anos. “Na época ela morava sozinha, mas depois passou a ficar mais com as filhas. Foi um golpe muito duro”, explicou a filha Adirleide Ferreira do Nascimento, 77.

É na casa da neta, a orientadora educacional Ieda Ferreira Nascimento Garcia, 54, que será realizada a festa em celebração ao centenário. Deda, como é chamada por dona Maria, chegou a morar um ano apenas com a avó, e mais alguns junto com os pais e irmãos na mesma casa da matriarca. “É ela quem mantem a família unida. Criou todos os filhos para serem pessoas de bom caráter, sempre nos conduziu no caminho do Senhor Jesus”, afirmou. “Depois que ficou viúva, não se casou de novo por opção. Tem dedicado a vida à família”, concluiu.

 

Dona Maria verá o 29º presidente

Ao completar 100 anos, dona Maria Monteiro da Silva testemunhará o 29º presidente do Brasil hoje, na posse de Jair Bolsonaro (PSL).

Em janeiro de 1919, quando dona Maria nasceu, em Alagoas, o País era administrado por Delfim Moreira, mineiro. Antes dele, apenas nove haviam sido presidentes do Brasil em uma República jovem, de 20 anos.

Desde então, a moradora de Ribeirão Pires acompanhou a era de Getúlio Vargas, o período desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, o golpe militar, a ditadura, a redemocratização, a chegada de um operário ao poder e até mesmo a prisão de um ex-presidente. Para se ter uma ideia, quando dona Maria chegou a Ribeirão, em 1960, a cidade tinha apenas seu segundo prefeito: Francisco Arnoni, que sucedera Arthur Gonçalves de Souza Júnior.

Dona Maria comentou que parou de votar há três décadas – no Brasil, o voto é facultativo a quem tem mais de 70 anos.

Questionada sobre o que espera do governo de Jair Bolsonaro, demonstra poucas expectativas. “Acho que não muda nada”, comentou. “Antigamente eu gostava, era mais moça, tinha coragem para andar. Mas agora, já estou velha e passada”, concluiu, aos risos.

 




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