Política Titulo No segundo turno
Apenas Bolsonaro superou o ‘não voto' no Grande ABC

Haddad, Doria e França receberam menos apoios na região que total de abstenções, brancos e nulos

Por Júnior Carvalho
Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
30/10/2018 | 07:00
Compartilhar notícia
Tania Rego/Agência Brasil


O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) saiu do segundo turno como o único candidato, nas disputas presidencial e estadual, que recebeu votação no Grande ABC, berço do petismo, superior ao ‘não voto’, que totaliza as abstenções e votos brancos e nulos, de acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

No domingo, o militar da reserva recebeu 900.448 sufrágios nas sete cidades, enquanto que a soma de eleitores da região que não optaram por nenhum dos dois presidenciáveis nesta etapa decisiva do pleito foi de 645.693, o que representa 30,82% do votantes do Grande ABC (2.094.879).

O presidenciável Fernando Haddad (PT), derrotado por Bolsonaro por 55,13% a 44,87%, teve 549.074 votos no quintal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista também não triunfou em nenhum município da região, embora Diadema tenha dado maior percentual ao nome do PT.

Em números absolutos, a cidade de São Bernardo foi a que registrou o maior contingente de eleitores que não foram votar ou que decidiram anular ou votar em branco para o cargo de presidente da República: 187.432. Levando em consideração a quantidade de eleitores de cada município, Rio Grande da Serra teve o maior índice do ‘não voto’, proporcionalmente: 34,15% dos 34.865 moradores aptos ao voto.

Esse índice é maior do que a média da região que não quis escolher entre Bolsonaro ou Haddad, de 30,82%. Entretanto, a maioria dos municípios da região também registrou percentual semelhante. Em Santo André, atingiu 31,07% dos eleitores; São Bernardo, 30,19%; São Caetano (24,67%); Diadema (31,95%); Mauá (32,41%) e Ribeirão Pires (32,06%) (veja tabela completa ao lado).

Neste segundo turno, nenhum dos dois presidenciáveis fez campanha nas sete cidades. No primeiro turno, porém, Haddad desembarcou pelo menos duas vezes no Grande ABC, sendo a primeira em setembro, ainda quando estava registrado como candidato a vice na chapa então encabeçada por Lula, impugnada pela Lei da Ficha Limpa – o ex-presidente foi condenado em segunda instância e está preso. Já Bolsonaro não pisou uma só vez na região durante a campanha. No início de setembro foi esfaqueado no abdômen e, desde então, não fez atos públicos de rua. “Na região existe essa insatisfação com o PT, que no pleito de 2016 perdeu em todas as cidades. O Bolsonaro encarnou o antipetismo”, avaliou o cientista político Eduardo Viveiros.

No pleito presidencial de 2014, a então presidente Dilma Rousseff (PT), reeleita na ocasião, e seu adversário no segundo turno, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), superaram o total de votos brancos, nulos e abstenções na fase final do pleito, que naquele ano totalizou 495.637 eleitores.

GOVERNO PAULISTA
Na corrida pelo governo do Estado, o índice do ‘não voto’ no Grande ABC superou, inclusive, o vitorioso da disputa, o ex-prefeito paulistano João Doria (PSDB). Mais de um terço do eleitorado da região (35,52%) não escolheu nem o tucano nem o atual governador Márcio França (PSB).

Ao todo, 744.011 eleitores ou não foram votar ou não quiseram escolher entre o tucano ou o socialista na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Mais votado nas sete cidades, França recebeu 691.427 sufrágios na região, enquanto Doria teve 662.441 apoiadores nas sete cidades.

Para Viveiros, esse cenário indica que o eleitor do Estado, sobretudo o da região, ao não escolher nenhum candidato, almejava a alternância de poder no Palácio dos Bandeirantes. “É a mesma coisa quando a ponte cai: falência do material. O Estado de São Paulo está há anos sendo governado pelo mesmo partido (com a futura gestão Doria, serão 28 anos de governos tucanos ininterruptos). Para o eleitor, tanto Doria – que é do PSDB –, quanto França – que foi vice-governador de Geraldo Alckmin (PSDB) – representavam a continuidade desse grupo”, explicou.

HISTÓRICO
Esse quadro não é inédito na região. Desde a eleição de 2014, a soma de abstenções, votos brancos e nulos no Grande ABC no que se refere à disputa estadual supera o próprio desempenho do vitorioso. Naquele ano, Alckmin foi reeleito no primeiro turno e, na região, recebeu 635.129 votos. O total do ‘não voto’ chegou a 666.107 eleitores.

Na corrida paulista, esse contingente de eleitores da região vem aumentando gradativamente, nas duas últimas décadas, tanto em números absolutos quanto proporcionalmente, quando se leva em consideração o crescimento do eleitorado. No pleito de 2002, o total de ‘não voto’ no Grande ABC para o cargo de governador foi de 307.115 (18,43%); em 2006, subiu para 401.973 (22%) e, em 2010, saltou para 454.414 (23,52%). 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;