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Pablo Escobar voou duas vezes pela LaMia neste ano

Ex-Ramalhão, boliviano desabafa ao Diário após acidente da Chapecoense: ‘Poderia ter sido a gente’

Por Dérek Bittencourt
11/12/2016 | 07:00
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Divulgação/LaMia Charter


Se o mundo – ligado ou não ao futebol – ficou chocado após a tragédia com o voo que levava a delegação da Chapecoense à Colômbia e caiu pouco antes do pouso em Medellín, matando 71 pessoas (entre jogadores, comissão técnica, dirigentes e jornalistas) e deixando seis sobreviventes na madrugada do dia 29, imagine alguém que vive no meio desta realidade, perdeu dois amigos e ainda pior: voou no avião da LaMia por duas vezes neste ano e com a mesma tripulação. É o caso do paraguaio naturalizado boliviano Pablo Escobar, 38 anos, meio-campista e ídolo do The Strongest e da seleção nacional, que passou pelo Santo André em 2009. Ele contou ao Diário, em entrevista exclusiva, sobre as experiências na aeronave, a tristeza pelo fato, a dor de ver dois colegas partirem e se colocar na pele das vítimas: “Poderia ter sido com a gente.”

A diferença entre os voos de Escobar com a LaMia e o que encerrou de maneira precoce o sonho de um time de futebol e todas as pessoas envolvidas é que nas duas oportunidades, tanto pelo The Strongest (em abril) quanto pela Bolívia (outubro), o avião – que após o acidente teve a autonomia de voo muito questionada – fez a parada para reabastecimento. Ambos, porém, partiram igualmente de Santa Cruz de la Sierra.

“Tinha viajado duas vezes com esse avião da LaMia, ambas com aquela tripulação. A gente foi para a Venezuela, em jogo da Copa Libertadores, pelo The Strongest, e fomos para Natal, no último jogo Brasil e Bolívia (pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018)”, recordou. “Para ir à Venezuela, foi viagem longa, mas a gente desceu numa cidade na fronteira do Brasil chamada Pando (na verdade uma região, cuja capital é Cobija, onde originalmente o voo da Chapecoense também reabasteceria), recarregamos o combustível e pegamos mais umas três horas de voo até lá. E quando fomos para Natal, também viagem longa, paramos em Brasília para reabastecer. Então, os voos foram relativamente normais”, comparou Escobar que, mesmo após dez dias, ainda se mostra estarrecido. “Não consigo acreditar no que aconteceu. A aeromoça que sobreviveu (Ximena Suárez) viajou conosco, o piloto (Miguel Quiroga) também. Inclusive tiramos fotos com eles”, recordou.

O jogador ainda falou sobre as irresponsabilidades de Quiroga, ao planejar viagem com tempo similar à duração do combustível, e das autoridades aéreas bolivianas por autorizarem-na. “A gente não acredita como esse voo saiu se não tinha, pelo que li, combustível certo para chegar até o destino. Estamos indignados, porque poderia ter acontecido com qualquer um, poderia ter sido com a gente. Todo mundo quer que se faça justiça, quem permitiu que saísse esse voo tem de ir para a cadeia”, declarou. “Por muito pouca coisa poderia não ter acontecido. É muito doloroso tudo isso. Quando vejo as famílias dos jogadores é a mesma coisa de quando vemos as nossas. O que eles vivem e viveram, a gente também vive”, completou.

Escobar ainda reiterou o sentimento de compaixão por ter rotina similar às vítimas. “Passa muita coisa na cabeça. Primeiro porque a gente é jogador também, sabe o momento que estava passando esse grupo (Chapecoense) e acontece isso”, disse. “Quando vi a notícia não acreditava e pensava que poderia ter sido eu. Automaticamente ficava me colocando no lugar deles, porque minha mulher e filhos ficam me esperando quando a gente viaja, com muita preocupação. A gente viaja a cada dez dias, pegando voo daqui para lá, a família fica esperando boas notícias, que a gente chegou no destino”, afirmou o meia, que jogou com Kempes, no Ipatinga, e Josimar, na Ponte Preta. Os dois ex-colegas morreram no acidente.

Se no Brasil e na Colômbia foram vistas diversas maneiras de solidariedade com a Chape, na Bolívia existe clima de indignação, afinal a companhia aérea é do país, a exemplo do piloto, que tinha mandado de prisão por deserção às Forças Aéreas bolivianas. “O povo está indignado. Todos acham loucura o que esses caras fizeram. O povo boliviano está consternado e indignado com o que aconteceu. Queremos justiça aqui também. Estamos juntos com todos de Chapecó e o povo brasileiro, porque isso vai muito longe do futebol, é a vida das pessoas.”

A exemplo de diversos clubes, em diferentes esportes, o The Strongest também estampou em sua camisa o escudo da Chapecoense, em tributo às vítimas. “Fizemos de coração”, concluiu. O próprio clube passou por situação similar em 1969, quando seu avião caiu e matou as 74 pessoas a bordo. 




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