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Lenda, Muhammad Ali morre aos 74

Ex-boxeador teve complicações respiratórias e não resistiu; ícone dos ringues deixa legado civil

Márcio Donizete
Vinícius Castelli
05/06/2016 | 07:00
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Divulgação:


O mundo se despediu ontem de um dos maiores personagens da história do esporte. Ou melhor, deu adeus a uma lenda. O boxeador Muhammad Ali saiu de cena aos 74 anos, após ser internado em um hospital de Arizona, nos Estados Unidos, por conta de complicações respiratórias – às quais não resistiu. Há mais de três décadas, também lutava contra o Mal de Parkinson, doença que limita os movimentos físicos e mentais.

Nascido em 17 de janeiro de 1942, em Louisville, no território norte-americano, Ali fez 61 lutas como profissional e perdeu apenas cinco vezes. São 56 vitórias, sendo 37 por nocaute. Um monstro dos ringues, literalmente. Deteve três títulos do peso-pesado: 1964, 1974 e 1978. Em 1960, quando ainda se chamava Cassius Clay – mudou o nome em 1964, após se converter ao islamismo –, foi medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Roma, pelos meio-pesados.

Além das seis dezenas de combates, as rivalidades históricas com outros gigantes do boxe deram tom à carreira de Ali. Seu maior adversário era outro ícone: o compatriota Joe Frazier, com quem duelou por três vezes pelo cinturão dos pesados. Saiu vencedor em duas oportunidades. Outras lutas que não podem ser esquecidas aconteceram contra George Foreman, em 1974, na Luta do Século, e diante de Ken Norton – duas vitórias e uma derrota.

Aposentou-se em 1981 e, em 1984, teve diagnosticada a doença de Parkinson, que o debilitou com o passar dos anos.


ENGAJAMENTO SOCIAL

Muhammad Ali não se destacou somente no esporte. Também foi importante nome do engajamento civil e social. Em 1967, recusou-se a ir à Guerra do Vietnã, algo que irritou o Exército dos EUA, que o baniu do boxe por três anos e meio.

Além disso, Ali marcou época na luta contra o racismo. Em sua biografia, ele conta que acabou discriminado em um restaurante, apesar de todo seu histórico de sucesso. Irritado, atirou a medalha olímpica no rio Ohio.


Servílio relembra rápido encontro com Ali e seu legado no boxe
Primeiro medalhista olímpico do boxe nacional lutou no mesmo dia em que norte-americano


Em setembro de 1971, o pugilista Muhammad Ali esteve no Brasil, mais precisamente no Ginásio do Ibirapuera, na Capital, para uma luta de exibição contra o argentino Alberto Loveli Junior. Na ‘noitada de boxe’, como eram conhecidos os eventos da modalidade na época, Servílio de Oliveira também esteve em ação. E relembrou esse dia ao Diário.

O primeiro medalhista do boxe nacional em Olimpíada – na Cidade do México, em 1968 – estaria no confronto preliminar, antecedendo o combate de Ali, mas viu a programação mudar repentinamente. “Por causa da televisão, trocaram as lutas. A minha passou a ser a principal e a dele foi antecipada. O ginásio estava cheio e minha luta salvou o programa (da TV Tupi e da TV Cultura, que transmitiram aos duelos ao vivo). Foram dez rounds de cacete puro”, recorda falando do triunfo sobre o mexicano Josep Garcia. “O público que ia assistir ao Ali torceu por mim.”

Os dois tiveram um rápido contato, o único na verdade. Servílio foi levado ao vestiário e o ex-campeão mundial o pediu para dar alguns golpes. Depois, o norte-americano deu um sinal de ok, indicando que o paulistano seria um ótimo atleta durante a carreira, o que se confirmou, de fato.

Servílio de Oliveira também lamentou a morte do companheiro, mas não se surpreendeu. “Pegou um pouco, sim (de surpresa). Mas para quem acompanhava seus últimos problemas de saúde (em decorrência do Mal de Parkinson), seu falecimento era esperado”, conta, entristecido.

Aos 68 anos, Servílio falou do legado de Muhammad Ali – que acendeu a tocha dos Jogos de Atlanta, em 1996 –, que vai além do âmbito esportivo. “Ele é ícone do esporte e foi pessoa multiplicadora (de opinião). Procurava orientar seus iguais nos Estados Unidos contra o racismo. Outro legado é que soube usar o marketing. Sabia provocar”, finaliza ele, que é morador de Santo André.


Pugilista virou ator e ganhou homenagens nas artes


Nem só com as luvas nas mãos e dentro do ringue atuava Muhammad Ali. O desportista norte-americano participou de causas humanitárias e políticas e foi além. Lutador, que defendeu com unhas e dentes a igualdade racial, ele se recusou a ir à Guerra do Vietnã no fim dos anos 1960, decisão que quase lhe rendeu prisão. À época disse que “nenhum deles (vietnamitas) me chamou de crioulo”.

A verdade é que Ali mergulhou, ainda que sem planejar, de corpo inteiro no universo artístico. Em 1978, ele travou combate com Superman em HQ lançada pela DC Comics.

A música também tomou Ali de assalto. No universo internacional, ninguém menos que o compositor norte-americano Bob Dylan ilustrou o boxeador em seu trabalho. Foi no ano de 1964, no disco Another Side of Bob Dylan, com a canção I Shall Be Free (Eu Serei Livre).

No início do mesmo ano, pouco antes de ser consagrado campeão dos pesos-pesados, em luta que travou contra Sonny Liston, Ali, que na época tinha 22 anos, encontrou-se com os Beatles nos Estados Unidos. A banda queria, na verdade, conhecer Liston, que não deu a mínima para os músicos.

O quarteto de Liverpool posou para fotos ao lado do futuro campeão, que até fingiu dar soco em George Harrison. No Facebook, Paul McCartney prestou homenagem. “Amei esse homem. O mundo perdeu alguém verdadeiramente grande.”
Ali também foi lembrado por diversas vezes na música brasileira, homenageado por Jorge Ben Jor no álbum Negro Lindo, em 1971, e Caetano Veloso na faixa Um Índio, de 1977.

Além do universo das cantorias, guitarras e violões, Ali também ganhou as telonas de cinema como ator. Sua estreia foi em The Greatest (O Melhor), obra que conta sua história de 1960 até 1970. Voltou a estrelar no fim dos anos 1970, em Freedom Road. Encarnou papel de ex-escravo que se torna senador. Ali também é retratado em ao menos outros três filmes que contam da vida do lutador.

Entre os famosos atores de Hollywood que mergulharam na alma e vida do ex-boxeador para vivenciá-lo está Will Smith. Em 2001 ele o interpretou para o filme Ali, que rendeu ao ator indicação ao Oscar. 




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