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A hora de juntar as pontas

Imagine que o banqueiro Daniel Dantas, sob pressão do Ministério Público e da Polícia Federal, resolva contar o que sabe

Por Carlos Brickmann
23/11/2008 | 00:00
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Feche os olhos e sonhe. Imagine que o banqueiro Daniel Dantas, sob pressão do Ministério Público e da Polícia Federal, resolva contar o que sabe. Imagine que Marcos Valério, aquele do Mensalão, e também do Mensalão Tucano, agora preso por outro processo, diga de onde saiu o dinheiro para alegrar tanta gente.

Sim, é um sonho. E, provavelmente, um sonho irrealizável. Mas havia tanta certeza de impunidade nos vários escândalos que surgiram no país que, se os inquéritos forem fundo (e dentro da lei, para que não possam ser contestados), dispensarão as confissões: descobrirão ligações preciosas entre personagens e fatos.

Poderão descobrir até que, em última análise, todos os escândalos são ramos de um mesmo escândalo principal, com os mesmos atores e a mesma utilização indevida de dinheiro público. Pagava-se para ter a boa-vontade de parlamentares, de veículos de comunicação, de jornalistas; e, obtida a boa-vontade, era chegada a hora de fazer bons negócios e comemorá-los festivamente.

Essa curiosa fusão da Brasil Telecom com a Oi, antiga Telemar, envolve muitos personagens que ficaram famosos em outros casos. E por que a fusão é curiosa? Porque era proibida; era ilegal. Mesmo assim foi negociada, com o compromisso do governo federal de que, quando estivesse tudo certo, a lei seria mudada, tornando legal o que era proibido. E, claro, tudo envolvendo dinheiro público: o BNDES é o grande padrinho da fusão, financiando desde a reestruturação de uma das empresas até o negócio final. Com dinheiro próprio, qual é a graça?

CAIXA ESCURA
O banco Nossa Caixa, do governo paulista, foi mesmo vendido para o Banco do Brasil - e sem qualquer tipo de concorrência. Não se trata de levantar qualquer suspeita, nem de achar que o preço foi baixo ou alto: trata-se de lembrar que a concorrência é um princípio essencial quando se trata de dinheiro público. Seria impossível imaginar um banco privado, cuja estratégia exigisse a ampliação de sua presença em São Paulo, pagando mais que o Banco do Brasil? Pois isso já aconteceu: muita gente disse que o Santander, ao pagar US$ 7 bilhões pelo Banespa, tinha feito besteira. Os anos seguintes mostraram que não era besteira.

VIZINHO INCÔMODO
São extremamente difíceis as relações do Brasil com o Equador. O presidente Rafael Correa se recusa a pagar um empréstimo que recebeu do BNDES. O governo brasileiro chamou seu embaixador em Quito para consultas - um sinal diplomático de insatisfação. Parece que o presidente Lula se cansou de ser compreensivo com o comportamento hostil de vizinhos que se dizem aliados.

PROMOTOR PUNIDO
Lembra do promotor Wagner Juarez Grossi, de Araçatuba, SP? É aquele que, há um ano, se envolveu num acidente de trânsito com três mortos (inclusive uma criança) e que, segundo a Polícia, tinha "hálito etílico". Aliás, em seu carro havia muitas latas de cerveja. E ele estava na contramão. Pois bem: o Conselho Nacional do Ministério Público decidiu puni-lo. A pena é a transferência para a Capital - onde uma vaga é disputada por 500 inscritos. "Soa como promoção", diz o procurador João Francisco Moreira Viegas.

UM, DOIS
Há alguns anos, no governo Fernando Henrique, o Grupo Hyundai se comprometeu a construir uma fábrica de sua subsidiária Asia Motors em Camaçari, na Bahia. O lançamento da pedra fundamental foi apoteótico, com a presença do presidente da República, de Antônio Carlos Magalhães e de uma delegação coreana. Por conta da promessa de investimento, recebeu incentivos para importar algumas dezenas de milhares de carros. A empresa não fez a fábrica e deve hoje cerca de R$ 1,6 bilhão ao governo, como devolução dos incentivos e multa.




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