Setecidades Titulo Projetos sociais
Apenas 35% das crianças e jovens são assistidos no contraturno
Por Matheus Angioleto
Do Diário do Grande ABC
01/10/2017 | 07:00
Compartilhar notícia


A velha expressão de que ‘cabeça vazia é oficina do diabo’ é argumento extra para que crianças e jovens, principalmente aqueles com menos oportunidades e em condições socioeconômicas desfavoráveis, sejam estimulados por meio de atividades no contraturno escolar. O poder público até tenta criar alternativas para os estudantes, no entanto, as ações por vezes esbarram na difícil equação entre oferta e demanda.

Em cinco das sete cidades – Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires – 28 mil alunos são atendidos em projetos sociais no contraturno das aulas, número que corresponde a apenas 35,3% do total de matrículas registradas entre os ensinos Fundamental e Médio em 2016 (81,7 mil alunos), conforme o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Diadema e Rio Grande da Serra não informaram projetos que realizam.

Quarta-feira é o dia mais esperado por Marco Antonio Pereira Ullmann, 5 anos, aluno da rede municipal de Mauá. O morador do Jardim Ipê não reclama de ter de acordar cedo para ir à Escola Municipal Neuma Maria da Silva, no mesmo bairro. Isso porque ele adora participar das aulas de tênis, oferecidas por meio do projeto Química do Esporte a alunos de duas escolas, sendo a outra no Jardim Zaíra. Entre bambolês, cones, bolas, fitas e raquetes, os joelhos pretos do garoto, assim como a camiseta manchada, traduzem a empolgação. “Gosto porque ajudo a desmontar as coisas da quadra, mas queria que tivessem mais vezes (as aulas). É mais legal que futebol e já aprendi a jogar paredão e bater na bola com a raquete”, diz o garoto.

A amiga, Thifany dos Santos, 6, também não falta na aula. “É tudo fácil, bem legal e queria que tivessem todo dia. Os professores são legais e brincam com a gente”, considera.

Embora os dois pequenos ainda não saibam, eles podem se considerar privilegiados pela oportunidade, que ajuda não só nas partes cognitiva e motora do corpo, como também no desenvolvimento de capacidades sociais e na abertura de horizontes. “O pessoal abraça a oportunidade, porque é onde eles aproveitam para sair da rua e ter amizades saudáveis. Meu neto quer mostrar que é capaz de praticar, quer melhorar e crescer. Moro aqui em frente e vejo os alunos da comunidade participando”, diz a dona de casa Cleusa Prudencio Pereira, 56, avó de Marco Antonio.

Quem comanda as aulas em quadra é o professor de Educação Física Adriano Cardoso, 36, que há 12 anos ensina o esporte. O respeito pelas limitações, vivência em comunidade, incentivo à cultura e a atenção às crianças substituem a falta de áreas de lazer do bairro. Notamos mudança de comportamento de alguns alunos, que aprenderam a viver em comunidade”, diz.

A diretora da unidade de ensino, Karina Tiago Ferrareis, 39, ressalta que a frequência escolar teve alta desde o início do projeto, há três anos. “Essa é uma das únicas formas de eles terem atividade diferenciada, porque fora daqui nunca teriam acesso a esse tipo de conhecimento”, destaca.

Para o professor de Sociologia do Mackenzie João Clemente, o contraturno deve estar aliado à proposta pedagógica, à altura do desafio em áreas de vulnerabilidade social. “A criança deve ter espaço para alguém ajudá-la a entender a vida, a história e as condições de vida. Todas as crianças, mesmo as que não sofrem violência ou exclusão, deveriam ter isso para que pudessem dialogar. É um processo pedagógico com foco na convivência humana. Com isso, falamos de Educação que as ajudam a viver melhor. Se mostramos perspectiva de futuro e de sonhos, a criança se desenvolve”, ressalta.

Entre as cidades, São Caetano é a que registra maior número de atendimentos no contraturno escolar: 13,4 mil estudantes. A cidade é seguida por São Bernardo (10,5 mil alunos), Santo André (3.841), Mauá (810) e Ribeirão Pires (300).


Prefeituras destacam ações oferecidas

Cinco cidades da região destacaram oferecer atividades diversas a estudantes no contraturno escolar.
São Caetano atende 11,9 mil alunos do Ensino Fundamental e 1.500 do Ensino Médio. Entre os projetos estão iniciativas das áreas pedagógica, cultural, social e esportiva. Há apoio de instituições como PEC (Programa Esportivo Comunitário) da Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude, escola de idiomas, centro de informática, centro de pesquisa, formação e inclusão digital, escola de bailado e Fundação das Artes.

Em São Bernardo há o Educar Mais, que oferece ensino integral em dez escolas, além do Tempo de Escola, que disponibiliza aos alunos oficinas esportivas e culturais duas vezes por semana. O Mais Educação, em parceria com o governo federal, também conta com atividades e acompanhamento pedagógico.

Santo André destacou a existência de programa de ações complementares, com cursos de dança, teatro, circo, capoeira, xadrez, ginástica e taekwondo para a rede municipal. O Mais Saber, por exemplo, oferece oficinas de artes, atividades rítmicas, recreativas, de sustentabilidade, música e aulas de Língua Portuguesa e Matemática.

Em Mauá, há projetos ligados à arte e esportes como o futsal, basquete, judô e danças. Em Ribeirão Pires existe iniciativa que oferece judô e taekwondo.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;