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Para rir dos filmes de amor
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
29/10/2004 | 10:05
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O diretor José Roberto Torero tinha vários projetos para estrear em longa-metragem. Havia a possibilidade de adaptar Terra Papagalli, romance épico-cômico de sua lavra, e um documentário sobre a morte. Por questões financeiras, acabou por ficar com a comédia Como Fazer um Filme de Amor, orçada em R$ 1,5 milhão - custo baixo se comparado às olgas e carandirus do pedaço. E finalmente o cineasta santista, co-roteirista de O Pequeno Dicionário Amoroso (1997) e Pelé Eterno (2004), lança-se no cinema de longa duração com este filme que estréia nesta sexta em São Paulo.

Como Fazer um Filme de Amor é uma sátira a essa instituição chamada comédia romântica que já viu passar por suas dependências Doris Day, Marilyn Monroe, Meg Ryan e Sandra Bullock. "É raro eu assistir (a filmes do gênero) por vontade própria. Quando assisti, foi por intermédio de algumas senhoritas", afirma Torero. E olhe que as tais senhoritas insistiram muito, porque as etapas de empatia que esse gênero estabelece com o espectador estão todas exumadas em seu filme.

Denise Fraga vive a mocinha Laura, que nutre uma paixão (correspondida) por Alan (Cássio Gabus Mendes) e que defende-se das investidas da vilã Lilith (Marisa Orth) e de seu capanga Adolf (André Abujamra). O desenvolvimento dessas relações é narrado por Paulo José. Torero derrete-se pelo narrador que escolheu: "Um grande ator, um grande narrador. Tudo que ele lê fica mais inteligente. Se ele fala o número de telefone em off, você vira e diz: 'Nossa! Que número de telefone inteligente'".

Lá pelo fim do filme, a voz de Paulo José indica que toda comédia romântica, "inclusive esta", quer nada mais que seu dinheiro. Toda a relação de Torero com sua ficção está embebida em um coquetel de distanciamento brechtiano e de criticismo metalinguístico. Como Fazer um Filme de Amor cutuca os clichês e as expectativas do espectador diante desse gênero, previsível até a medula e salutar qual um copo de leite quente. Desperta o senso crítico a cada caricatura sobre o manual hollywoodiano do romance.

É um filme de roteiro preciso (de Torero com Luiz Moura) e mise-en-scène imprecisa. Situações hilárias desbotam-se em imagens de execução mediana (tanto filmagem quanto montagem), à prova de riscos e de inspiração - em suma, sem uma identidade autoral própria. Ainda assim, instantes como a cena de sexo, em que debatem-se naturalidade e artificialidade, e a seqüência em que são textualmente nomeadas as referências a Nosferatu e Janela Indiscreta estão entre os mais divertidos da metalinguagem cinematográfica.




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