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William Faulkner: a hora do olhar estrangeiro
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
21/10/2005 | 09:02
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Questões territoriais começam a preencher com mais relevo os Seminários Avançados sobre a Modernidade – Literatura e Filosofia do Século XX a partir desta semana. A nona palestra do evento – prevista para o próximo sábado (22), na Casa da Palavra e com entrada franca – terá como força-motriz a obra do romancista e poeta norte-americano William Faulkner (1897-1962). Dentro dos planos do palestrante, escritor e professor Ricardo Lísias, a obra de Faulkner funcionará como uma embaixada no Novo Mundo dos conceitos técnicos e estéticos da modernidade praticada na Europa. Um embaixador com uma queda pela subversão, diga-se.

Em pratos limpos, o que Lísias pretende averiguar é a tentativa de Faulkner em transportar para os ambientes do sul dos Estados Unidos os procedimentos em voga na literatura européia. Ou seja, pressupostos de modernidade lingüística acomodados em cenários e costumes que ainda tateavam uma trilha de desenvolvimento. Conscientemente, Faulkner aponta em sua obra que as formas de narrar e descrever da modernidade européia só têm validade diante dos conteúdos e das tradições européias. Uma modernidade encerrada por fronteiras.

"Até agora, nós falamos nos Seminários de autores que encarnavam a modernidade de um jeito mais puro, todos eles pertencentes ao Velho Mundo. Agora, não. Passaremos a tratar de autores de fora da Europa, como Faulkner e (o argentino Jorge Luis) Borges, que passam a ter consciência da limitação da modernidade, do fracasso dela em contemplar outras ideologias", afirma Lísias.

Autor de obras como O Som e a Fúria, Enquanto Eu Agonizo e A Mansão, Faulkner ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1949. Radicado no Mississipi, pretendia abarcar grandes públicos – como bem revelam seus flertes com Hollywood, em filmes como À Beira do Abismo (1946), dirigido por Howard Hawks e estrelado por Humphrey Bogart e Lauren Bacall – sem descuidar-se do afrontamento, do choque entre o progresso formal e o arcaísmo do conteúdo. "No seu caso, ele não procura novas formas adequadas para seu contexto. Ele aponta a crise da modernidade ao indicar sua incapacidade de transmitir todas as realidades, dentro e fora da Europa", conclui Lísias.

Os Seminários Avançados sobre a Modernidade – Literatura e Filosofia do Século XX são uma iniciativa conjunta da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Santo André, da Escola Livre de Literatura, da Casa da Palavra e da Fundação Santo André, com apoio do Diário. Os textos de orientação dos seminários, publicados às terças no jornal impresso, permanecem disponíveis ao longo da semana no site do Diário (www.dgabc.com.br).

Seminários Avançados sobre a Modernidade – Literatura e Filosofia do Século XX – Série de seminários; sábado (22), às 15h. Na Casa da Palavra – praça do Carmo, 171, Santo André. Tel.: 4992-7218. Aos sábados, das 15h às 18h. Entrada franca. Até 10 de dezembro.




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