Herbert George Wells (1866-1946), ou só H.G. Wells, era um socialista utópico. Suas obras escritas no final do século XIX e início do século XX exploravam o espírito científico que encarava com otimismo o progresso humano. Wells, no entanto, refletia em suas obras sobre as possibilidades nada harmônicas da tecnologia e suas conseqüências para a humanidade. A Máquina do Tempo (antecipando Albert Einstein), O Homem Invisível, Os Primeiros Homens na Lua, A Ilha do Dr. Moreau (manipulaçao genética) eram seus trabalhos.

A Guerra dos Mundos (Nova Alexandria, 208 págs., R$ 16), publicado em 1898, era um assombro de imaginaçao. Aproveitando-se da notícia da descoberta de "canais" em Marte em 1894 e a conseqüente especulaçao sobre vida no planeta, Wells imaginou sua história: uma invasao orquestrada por marcianos inteligentes para ocupar a Terra começa nos arredores de Londres, deixando a humanidade a mercê de sua superioridade.

Discos redondos com um cúpula giratória de cobre andavam sobre pernas mecânicas e disparavam um raio de calor que destruía tudo ao seu redor. Seres com olhos grandes e negros, boca em forma de V e tentáculos, usando capuz e armaduras marchavam para a conquista. Uma inevitável vitória, que deixaria a humanidade sobrevivente em uma condiçao de ratos de esgotos, com os alienígenas dominando a superfície, se nao fosse um detalhe: marcianos nao suportam as bactérias da Terra.

Seu livro foi escrito também em decorrência de outros eventos de sua época: a Alemanha estava unificada e se militarizava. A Guerra dos Mundos foi o primeiro de uma série de livros e artigos de Wells prevendo guerra na Europa.

Em 1938, Orson Welles e seu Mercury Theatre, produziram uma novela de rádio nos Estados Unidos. A narraçao radiofônica da invasao marciana de Wells feita com realismo provocou pânico nas ruas entre os ouvintes que acreditaram realmente que a Terra estava recebendo hordas de invasores do espaço. Desfeito o mal-entendido, Welles respondeu processo judicial por uma boa interpretaçao.

Em 1953, Byron Haskin dirigiu o filme A Guerra dos Mundos, modificando o design das naves e trazendo a invasao para os Estados Unidos do clima da Guerra Fria com a entao Uniao Soviética. Em 1996, Roland Emmerich retomou o tema de Wells em Independence Day, trocando o bactéria biológica pelo vírus do computador, e aumentando a dose de patriotada explícita. Wells antecipou, mais de 100 anos atrás, a ficçao científica e a crença na existência de vida fora da Terra.