A literatura do poeta português Gil Vicente, autor da renomada peça O Auto da Barca do Inferno, será retratada no sambódromo com releitura da escola de samba União das Vilas, de São Bernardo.

A ideia surgiu após os integrantes da agremiação assistirem ao espetáculo no circuito teatral da cidade e acharem que os personagens da obra seriam perfeitos para as alegorias.

"No ano passado a obra de Gil Vicente contagiou nossa escola. Quando o pessoal assistiu à peça foi paixão à primeira vista", contou a secretária da escola, Elisabete Souza Lima, 50.

As fantasias, que estão sendo preparadas desde setembro, representam os diabos, anjos, frades, alcoviteiras, fidalgos e outros personagens do autor português.

O abre-alas promete levar grandes surpresas ao público e os outros dois carros serão as barcas do inferno.

A escola acredita que transformar o tema em Carnaval é uma maneira de democratizar o teatro, já que as apresentações em salas culturais nem sempre são acessíveis à população.

"Os preços praticados em ingressos para teatro são muito altos e nem todos podem assistir. Acreditamos que a mesma emoção que tocou nossos integrantes ao ver a encenação poderia chegar ao público durante o desfile. A obra é muito rica em detalhes e é satírica. Contrapor pontos como o bem e o mal sempre leva boas risadas e identificação ao público", comentou Elisabete.

A escola terá aproximadamente 400 componentes divididos em dez alas e há poucas vagas disponíveis para quem ainda tiver interesse em participar da Folia.

Neste ano, a primeira preocupação da organização do desfile foi escalar os componentes, já que no último ano a agremiação perdeu pontos por poucos participantes.

"Antes mesmo de termos fantasias e enredo, já tínhamos os componentes. Temos duas alas fechadas só com pessoal do Riacho Grande. Vai ser tudo lindo", garantiu.

Os desfiles serão realizados nos dias 9 e 10, na Avenida Aldino Pinotti, que fica próxima ao Paço.

Festa traz boas lembranças para presidente

Em 28 anos, o atual presidente da União das Vilas, Washington Arantes, já foi componente de ala, participou da bateria e até foi responsável pela direção dos ritmistas, mas hoje tem a responsabilidade de cuidar de todos os detalhes para a Folia acontecer.

De acordo com Arantes, a agremiação é familiar. Todos que participam levam os parentes para se divertir e ajudar nos preparativos. "Eu mesmo cheguei até aqui assim. Meu primo já desfilava na União, e foi assim que me convenceu a participar. Em 1985 desfilei pela primeira vez em uma avenida e foi com essa escola. Me apaixonei por todos, é muita animação", lembrou.

Os pais de Arantes nunca desfilaram, mas aproveitavam as festas para reunir a família com muita diversão. "Minha tia morava perto da escola, então a família toda se reunia na casa dela. Era aquela bagunça. Um monte de gente para tomar banho, colocar a fantasia, fazer maquiagem. Um verdadeiro caos. Depois, quando todos estavam prontos, íamos juntos ao ponto de ônibus para ir até a avenida. Era um tempo muito bom", recordou.

Para o presidente, é importante a competição. "Quero que todas as escolas estejam lindas, assim é mais divertida a brincadeira."