Brickmann Titulo
O que não é mas não deixa de ser

Na maior parte dos escândalos atuais, procure e ache: de alguma forma, o dinheiro público fluiu de forma

Por Carlos Brickmann
21/08/2011 | 00:00
Compartilhar notícia


Na maior parte dos escândalos atuais, procure e ache: de alguma forma, o dinheiro público fluiu de forma irregular para uma ONG, Organização Não-Governamental. Serão as ONGs corruptas? Em si, não: há ONGs sérias (e devem ser a maioria), e, como em qualquer grupo humano, há ONGs mais flexíveis.

Mas a discussão é outra: se as ONGs são organizações não-governamentais, por que recebem recursos do Governo? Não é questão de saber se são corretas, eficientes, úteis (ou não): a questão é que, se pretendem agir desvinculadas dos governos - e por isso se denominam não-governamentais - não tem sentido que os governos paguem por seu trabalho. Nos tempos em que não havia ONGs, as Santas Casas já eram organizações não-governamentais, com ampla folha de serviços prestados à população brasileira; e foram mantidas por provedores privados, que trabalhavam e contribuíam pela honra de engajar-se numa causa nobre.

Um sábio empresário, daqueles que já viram tartaruga em árvore e onça comendo alface, costuma dizer que tudo que existe apenas no Brasil, exceto a jabuticaba, deve ser visto com desconfiança. Aqui uma organização não-governamental foi apresentada oficialmente nos salões de um palácio de governo, com discurso do governador de plantão (e, claro, deu com os burros nágua).

O problema, claro, não é a existência de ONGs, que podem ser muito úteis. O problema é a mistura entre a ação não-governamental e o dinheiro governamental. Que vicejem as organizações não-governamentais. Mas longe do Governo.

Civilização, enfim

Clement Attlee e Winston Churchill eram adversários ferozes (Churchill costumava dizer: um carro vazio parou na porta do Parlamento, e dele desceu Mr. Attlee). Quando Churchill se tornou primeiro-ministro da Grã-Bretanha, na Segunda Guerra Mundial, nomeou Attlee seu vice. Terminada a guerra, acabou a aliança: Attlee derrotou Churchill (que voltaria ao poder alguns anos depois).

Inimaginável? Pois no Brasil isso começa a acontecer: a presidente Dilma Rousseff se reuniu com seus principais adversários, os governadores de Minas, Antonio Anastasia, e de São Paulo, Geraldo Alckmin, no reduto tucano do Palácio Bandeirantes, para lançar na região Sudeste o plano Brasil sem Miséria e unificá-lo com o projeto similar paulista. Havia lá também um governador socialista, um peemedebista, cinco ministros e um ex-presidente - Fernando Henrique.

Foi um encontro cordial, civilizado; e a prova de que adversários políticos podem perfeitamente, quando necessário, unir esforços para melhorar o país.

Europa, Brasil

Por mais que isso irrite os adeptos de ambos os partidos, PT e PSDB são partidos com o mesmo berço, e seus militantes mais antigos tiveram dúvidas para escolher entre um e outro. A quebra do ódio dos últimos anos é boa não apenas por melhorar a educação política mas também por reduzir a importância dos partidos de aluguel, que vendem apoio para garantir a maioria de quem está no poder.

Se os partidos importantes puderem conversar, buscar o consenso, colocar-se acima da luta eleitoral, a necessidade de comprar apoio cai dramaticamente.

Lá é bom, cá é ruim

A propósito, a bancada de oposição no Congresso (por incrível que pareça, existe oposição!) criou um blog, http://cpidacorrupcao.blogspot.com/, para constranger os adversários da CPI da Corrupção, que investigaria denúncias em seis Ministérios. OK, OK: já houve várias CPIs, a oposição se esqueceu de tomar Viagra antes da briga e nada funcionou. Mas admitamos que a CPI seja uma boa idéia. A boa idéia vale também para São Paulo, onde CPIs sobre os Governos tucanos têm sido bloqueadas? Ou os tucanos de lá não gorjeiam como cá?

Que feio, Zara!

Há quem defenda a inocência da multinacional espanhola Zara no caso do trabalho degradante alegando que a rede de lojas contrata empresas para realizar determinados serviços e que cabe a estas empresas cumprir as leis trabalhistas. OK; mas quem paga dois reais para a montagem de uma calça (que inclui costura, fixação de botões, colocação do zíper, etc.) e conhece o ramo sabe que, com este dinheiro, não há como pagar salários e obrigações legais.

Sabe também que, com o que conseguirão receber, os trabalhadores não terão condições de morar em outro lugar que não debaixo de alguma máquina ou no meio da pilha de roupa. Sem queixas, pois. E não nos impressionemos com o volume de multas impostas à Zara (por enquanto, R$ 1 milhão): é preciso ver se as multas são pagas.

Meu Brasil brasileiro

Um assíduo leitor desta coluna, feliz porque a filha se formou na Universidade de Brasília, conta essa história magnífica: para receber o diploma, ela precisa pedir uma declaração da biblioteca da Universidade de que devolveu todos os livros, e entregar a declaração na Secretaria da Universidade. Já que a Secretaria e a Biblioteca pertencem à mesma UnB, por que não se comunicam diretamente sem obrigar o aluno a peregrinar? Por que facilitar se é possível dificultar?

Precaução necessária

Na Esplanada dos Ministérios, cuidado. Pode cair um ministro na sua cabeça




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;