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Região descarta vacina em escolas

Decisão de não imunizar jovens contra HPV em unidades de ensino dificulta atingir público

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
11/07/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 Visando alavancar a cobertura da vacina contra o HPV (Papilomavírus Humano), que costuma ser de baixa adesão no público infanto-juvenil que compreende, o Ministério da Saúde e especialistas recomendam que a imunização seja aplicada dentro das escolas. No entanto, municípios do Grande ABC não planejam adotar a medida.

O grupo que deve ser vacinado envolve meninas de 9 a 15 anos e, desde este mês, meninos de 11 até 15 anos incompletos (de janeiro deste ano até maio, era somente de 12 até 13 anos). “O Ministério da Saúde considera de fundamental importância participação das escolas para reforçar a adesão dos jovens à vacinação”, informa a Pasta, em nota.

Nas meninas, o principal foco da vacinação é proteger contra o câncer de colo do útero, vulva, vaginal e anal; lesões pré-cancerosas; verrugas genitais e infecções causadas pelo vírus. O HPV é transmitido pelo contato direto com pele ou mucosas infectadas por meio de relação sexual. Também pode ser transmitido da mãe para filho no momento do parto.

Para os meninos, a estratégia tem como objetivo proteger contra os cânceres de pênis, garganta e ânus, doenças que estão diretamente relacionadas ao HPV. A definição da faixa etária para a vacinação visa proteger meninos e meninas antes do início da vida sexual e, portanto, antes do contato com o vírus.

A Prefeitura de Santo André informou utilizar “informações da rede escolar para passar os comunicados aos pais e responsáveis para que encaminhem os adolescentes às unidades de Saúde do município, que possuem infraestrutura adequada, câmara de refrigeração e demais exigências sanitárias para vacinação contra o HPV”, explica o texto.

Na cidade, na campanha de vacinação de 2014 (de 9 a 13 anos), a meta foi atingida. Em 2015 (no ano passado não houve campanha de vacinação), a primeira dose chegou a ultrapassar a quantidade de meninas previstas para receber a vacina: de uma população de 9 a 11 anos, estimada em 13.578 garotas, 16.889 doses foram aplicadas.

Já na segunda etapa, de população estimada em 13.818 meninas, 11.195 foram vacinadas novamente. “Uma dose não traz proteção”, ressalta o vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri. O intervalo entre as duas doses é de seis meses. A vacina de HPV também fará parte do elenco de doses a serem ofertadas na campanha de multivacinação que ocorrerá de 11 a 22 de setembro. O Dia D da campanha será dia 16 de setembro.

No público masculino, desde janeiro – quando a vacinação passou a envolver os meninos de 12 a 13 anos – até agora, somente 1.745 doses foram aplicadas, de população estimada em 9.822. Segundo o governo andreense, “fora o disponibilizado para as unidades (de Saúde), temos em estoque na Central de Imunização de 4.328 doses”. A data de vencimento das vacinas não foi informada.

Em São Bernardo, a Prefeitura disse que, “no momento, o município não fará a vacinação nas escolas” e irá realizar palestras nesses locais para discutir a doença, além de conscientizar as pessoas sobre a importância da imunização. “Além disso, produziremos material de divulgação junto ao público alvo”, salientou, em nota. No ano de 2015, 28.147 meninas foram imunizadas na cidade, mas a administração municipal não informou qual era a população da época. No entanto, afirmou que a meta de 90% de cobertura não foi atingida. Já os meninos, 1.200 foram vacinados (o público estimado também não foi informado). O município possui 8.000 doses com validade para 2018.

Segundo a Prefeitura de Mauá, “a possibilidade de campanha nas escolas está sendo avaliada”. A enfermeira da UBS (Unidade Básica de Saúde) Vila Assis Rita Maria Magalhães de Alencar, 44 anos, recorda que em 2014, quando houve a campanha de vacinação nas escolas do município, a adesão foi grande. Apenas um ponto dificultou envolvimento ainda maior. “Pedíamos autorização aos pais para aplicar a vacina e muitos não autorizaram por acharem que isso poderia incentivar a iniciação sexual precoce.”

Ciente da importância da vacina, o aposentado Renato Antonio da Costa, 62, levou o filho de 14 para tomar a segunda dose da imunização. “Quanto mais cedo de prevenir, melhor.”

A meta da cidade, de 80% de cobertura, não foi atingida no ano passado nas faixas de 10 e 11 anos (78,73% e 49,46%, respectivamente). O número de meninos vacinados não foi informado. A cidade tem mais de 7.200 doses, também para vencerem no próximo ano.

A Prefeitura de Ribeirão Pires disse não ter previsão oficial para abordagem nas escolas. Na campanha de vacinação de 2014, 4.636 garotas foram vacinas e, na de 2015, 2.525 (não foi informado a população total). Neste ano, quando os meninos começaram a ser vacinados, 350 foram imunizados. A administração disse que as vacinas são liberadas mensalmente pelo Estado, conforme solicitação mensal da Vigilância Epidemiológico.

As demais cidades não responderam sobre o assunto.

 

Especialista é cético quanto a estratégia das cidades

O vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri, ressalta ser um desafio fazer os adolescentes buscarem a vacinação, “diferentemente da criança, que a mãe leva”. Por isso, a ação na escola conseguiria atingir êxito na cobertura e proteção dessa faixa etária.

“A vacinação desse público é problema mundial, pois eles se sentem menos vulneráveis, acham que têm mais saúde e não encaram atitudes preventivas como algo urgente e importante. Os melhores resultados que se tem de cobertura de vacina para adolescente é quando ela é disponibilizada em ambiente escolar, pois são muito mais bem aceitas do que esperar, individualmente, que cada adolescente se dirija à unidade de Saúde. A gente somente alcançará a cobertura desejada quando voltar a vacinar nas escolas”, salienta.

Porém, o especialista lista algumas questões que implicam para que a ação não ocorra. “Não é um processo fácil, porque a gente tem hoje problema para os profissionais de Saúde serem deslocados até as escolas, pois vai descobrir as UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Além disso, precisa de carro para levá-los, parceria com a escola, tem toda uma operacionalização que não é fácil. O recurso humano escasso no serviço de Saúde talvez seja a maior dificuldade, mas não acho impossível. É questão de envolvimento das secretarias municipais e estaduais de Saúde e Educação para que seja alcançado.”

O especialista pontua ainda ser “um grande equívoco” associar a imunização ao incentivo da iniciação sexual. “A vacina não é vinculada à atividade sexual, mas sim à prevenção de câncer. A vacina contra hepatite B, por exemplo, doença de transmissão sexual, a gente aplica no berçário”, destaca. “Estudos americanos acompanharam meninas vacinadas contra o HPV e não vacinadas, e não houve diferença nenhuma no início da atividade sexual. A vacina é dada aos adolescentes porque é o melhor momento de vacinar e não para liberar para atividade sexual”, conclui.




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