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Concerto celebra o fim da ditadura em Portugal
Do Diário do Grande ABC
24/04/2000 | 15:57
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A Sala Sao Paulo será palco, nesta terça à noite, de uma celebraçao pelos 26 anos da Revoluçao dos Cravos, que pôs fim ao período da ditadura salazarista, em Portugal. A meio-soprano portuguesa Dulce Cabrita apresenta, ao lado do pianista brasileiro Acchile Picchi, cançoes do compositor lusitano Fernando-Lopes Graça.

No programa estao presentes, também, cançoes tradicionais portuguesas e brasileiras, além da "Cantata d'Abril Op. 144", de Achille Picchi, composta especialmente para esse concerto, que conta com a participaçao da Banda Sinfônica Juvenil do Estado de Sao Paulo, do Coral Adventista de Sao Paulo e do tenor brasileiro Lenine Santos, dirigidos pelo maestro Fábio Gomes de Oliveira.

Na primeira parte do concerto, serao interpretadas cançoes para piano e solista vocal, que têm como ponto de partida a poesia de poetas portugueses, como Gil Vicente (Cual Es la NiIa), Fernando Pessoa (O Menino de Sua mae), Luís de Camoes (Alma Minha Gentil Que te Partiste), Sophia de Mello Andressen (Ressurgiremos) e Carlos de Oliveira (Terra e Céu), além de "Cinco Bagatelas para Piano", peças para piano-solo.

Também estao programadas cançoes tradicionais brasileiras e portuguesas, como "Eu Fui à Terra do Bravo", da regiao dos Açores, e "Xangô", canto de feitiçaria brasileiro. "Trata-se de um concerto com melodias populares, muitas delas conhecidas pelo público em geral", indica Dulce que, no ano passado editou três CDs com gravaçoes que fez com Lopes-Graça ao longo de quase 30 anos de colaboraçao.

Já na segunda parte, a Banda Sinfônica Juvenil do Estado de Sao Paulo e o tenor Lenine Santos se juntam a Dulce na interpretaçao da "Cantata d'Abril Op. 144", composta por uma abertura e cinco movimentos, que narra a trajetória do povo português desde a instituiçao da ditadura até, 48 anos depois, o fim do período salazarista. "A abertura, densa e dissonante, indica o clima de tensao na década de 20 e mostra que algo está por acontecer enquanto o último movimento, intitulado "Liberdade", narra nao só o fim da ditadura como as conseqüências que esse fato teria, por exemplo, no processo de abertura política brasileira", resume o maestro.

Ditadura - Morto em 1994, Lopes-Graça foi um dos principais compositores portugueses do século 20, além de intelectual reconhecido pela sua luta contra a ditadura. Suas obras, que constantemente resgatam elementos do folclore e da música tradicional, encontraram alguns problemas com o governo de Oliveira Salazar, sendo, muitas vezes, proibidas. "Certa vez, fiz um concerto com Lopes-Graça em Barreiro, no qual carros da Guarda Civil ficaram, durante toda a apresentaçao, rodeando o local onde nos apresentávamos", lembra Dulce, que conheceu o compositor há mais de 30 anos. "Aprendi muito com ele, nao só sobre sua música, mas sobre cultura em geral", afirma.

Uma das peças mais importantes do compositor, que desenvolveu, também, a atividade de regente e crítico musical e literário, é o "Réquiem", composto em homenagem às vítimas do fascismo. O concerto de amanha à noite é uma realizaçao do Centro Cultural 25 de Abril, instituiçao que promove intercâmbio cultural entre brasileiros e portugueses e que, em julho, foi uma das responsáveis pela realizaçao da Semana do Cinema Português.




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