Diarinho Titulo Alimentação
Vegetariano e vegano desde a barriga da mãe

Crianças relatam a experiência de como é viver sem ingerir carnes, ovos, leite e derivados

Por Beatriz Mirelle
Especial para o Diário do Grande ABC
26/03/2022 | 23:59
Compartilhar notícia
Claudinei Plaza/DGABC


O que você pensa sobre não comer mais carne? Ficaria sem consumir ovos, leite e outros derivados por mais de uma semana? Seria algo fácil ou você fica arrepiado só de pensar nessa possibilidade? Para algumas pessoas, trata-se de algo impensável. Mas, para a Alice, a Aurora e o Noah, essa é a realidade.


Existem dois termos que podem definir a rotina alimentar deles. O primeiro se chama “vegetariano” e está associado diretamente às comidas. Nesse caso, além da carne, existem algumas variações em que a pessoa também escolhe não comer ovos e laticínios.


O segundo é o “veganismo”, que engloba vestuário e consumo, sendo considerado “uma filosofia de vida” que retira qualquer alimento ou produto de origem animal. Além de carnes,
ovos e leite, a pessoa não utiliza roupas de couro ou maquiagens testadas em animais, por exemplo.


Alice Caldas, 10 anos, explica que “nasceu vegetariana”. Com toda a família adepta a esse tipo de alimentação, ela nunca consumiu nenhum tipo de carne e nem pretende começar. “Não vejo como alimento e não gosto da ideia de comer os animaizinhos. Estou bem assim.” Comum na mesa dos brasileiros, o prato preferido dela é arroz, feijão, salada e muita batata frita.


Luciana Souza, 38 anos, é mãe da Alice e proprietária de um restaurante vegano no Jardim do Mar, em São Bernardo. Ela já ouviu muitas críticas sobre a alimentação dos filhos, mas, como mantém todos os exames médicos em dia, se sente tranquila. “Quando o meu (filho) mais velho era pequeno, muitos diziam que era uma questão de escolha. Pode ser que na fase adulta, ele tome outro rumo. Em casa, envolve os nossos valores. Você não passa para o seu filho as crenças de outras pessoas.”


Ser vegetariano ou vegano não é uma tarefa fácil. Alguns amigos da Alice ficam surpresos e questionam o porquê dela não sentir vontade de comer carnes. Para essa pergunta, ela já tem a resposta na ponta da língua. “Essa não é a única fonte de vitaminas que existe.”


A nutricionista Pâmela Rodrigues, formada pela FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e pós-graduada em nutrição vegetariana pela Plenitude em parceria com a SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), concorda com a explicação da Alice.


De acordo com a especialista, tudo depende de como a pessoa decide se alimentar. “Tem gente que vira vegetariano, mas continua comendo muita gordura e (produtos) industrializados. É preciso escolher comidas naturais para ser o mais saudável possível. Essa é uma dieta rica em nutrientes.”


Moradoras do Jardim Las Vegas, em Santo André, a filha da Pâmela é a Aurora Aisling Rodrigues, 3 anos, vegana desde que nasceu. “Eu gosto de ser assim. O papai e a mamãe também são. Minha amiguinha (da escola) é vegetariana.” Mesmo pequena, ela já gosta de ver os familiares cozinhando e adora ir à feira com eles. Pâmela conta que a filha costuma perguntar para outras pessoas se elas são veganas. “Para ela, é mais comum ser vegano do que não ser”, relata a nutricionista.


Na lista de recomendações da Aurora, ela não deixou de falar sobre brócolis, sopa de ervilha, milho e palmito. Entre as diversas opções, a comida preferida é o macarrão cozido com beterraba, também conhecido por ela como “macarrão rosa esticado”. Por outro lado, é melhor tirar as cebolas do prato da Aurora se quiser vê-la comendo.


Para Noah Escobar, 6 anos, ser vegetariano é uma forma de proteger os animais. “Quando as pessoas ficam sabendo, elas acham legal. Sou assim desde a barriga da mamãe e continuo pelos bichinhos.” Na casa em que mora, na Vila Pires, em Santo André, não faltam referências, já que os pais, primos, avó e bisavó também não comem carne.


E as proteínas? A nutricionista Pâmela Rodrigues comenta que muitos pais sonham que os filhos se alimentem de maneira mais saudável. Ela reforça que tudo é questão de dar exemplo e a infância é o período ideal para isso. “Não podemos cobrar deles se o adulto não se alimenta corretamente. Então, a família também tem que ter um prato mais colorido e natural. Ser vegetariano não é sobre excluir, mas sim sobre incluir mais legumes, mais opções, preparações e deixar os filhos participarem desses momentos.”


Segundo a especialista, o único cuidado é com a B12, uma vitamina de origem animal. “Existem alimentos que são ricos e fortificados, como o leite vegetal, que adicionam a B12. Tem também o Ômega 3, encontrado em nozes, óleos e sementes de linhaça e chia.” Para obter mais ferro, é necessário que a criança consuma mais beterraba, folhas verdes escuras e leguminosas, como feijão e lentilha. Sendo assim, tudo é uma questão de equilíbrio na hora de escolher quais alimentos vão ou não para o prato. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;