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Delegado era visto como sacerdote, diz Nassif

Titular em São Bernardo se aposenta aos 70 anos

Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
06/05/2012 | 07:00
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Nelson Jorge Noronha Nassif tem 43 anos e 3 meses de uma vida dedicada à Polícia Civil. Mas no dia 18 de maio, ao completar 70 anos de idade, o atual titular do 8º Distrito Policial de São Bernardo deixa o posto ao obter sua aposentadoria compulsória, direito legal previsto ao servidor público do Estado.

"Sou do tempo em que a figura do delegado se confundia com a de um padre", conta Nassif, que entrou para a polícia em março de 1969, após passar entre os primeiros colocados no concurso público. E se entusiasma: "A pessoa procurava a gente para qualquer coisa, independentemente de ser ou não da esfera policial. Tínhamos papel de confidente e de assistente social."

Filho de mãe professora e pai médico, já falecidos, em nenhum momento o então menino "natural do Jaú", cidade localizada a cerca de 290 quilômetros da Capital, inclinou-se para seguir, por exemplo, a carreira do patriarca da família Nassif, de origem árabe. A vocação do taurino, que se classifica como pessoa "de opinião firme e difícil de dobrar", sempre foi para ser delegado de polícia.

Em 1968, formou-se em Direito pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo. Mas ser advogado estava fora dos planos de Nassif. Seis meses depois de formado, ingressaria na carreira que nunca mais abandonaria. Aos 28 anos, foi delegado assistente na seccional de Santos - local onde não ficou nem um mês. Em seguida, foi transferido para Campinas, onde atuou como titular por quatro anos.

Ao contrário da estrutura organizacional de distritos policiais espalhados hoje pelo Estado, Nassif lembra que, logo nos primeiros anos de carreira, eram poucas as delegacias. "Um delegado era responsável por várias regiões. Em Campinas, atuava também em cidades do entorno, como Mogi Mirim e Pedreira", diz.

Atualmente, doutor Nassif não faz mais plantões nos fins de semana, incumbência que praticamente pontuou sua vida profissional. Foram incontáveis os fins de semana que passou longe dos filhos.

Aliás família é caso à parte na vida do delegado envolvido diariamente com casos de violência, crimes e bandidos. Casado há 43 anos com Vera Helena Scarpelli Nassif, orgulha-se em falar dos filhos Milene, 39 anos, Christian, 38 e Nelson Filho, 33, e principalmente dos netos Gabriel e 12, Guilherme, 5. Em agosto, chegará Julia para completar a alegria do avô coruja.

Dos três filhos, a única mulher formou-se em Direito, mas não seguiu carreira. Christian é o que mais se aproxima da profissão do pai. Além de investigador, pilota o helicóptero Pelicano, da Polícia Civil.

De volta à profissão, o delegado revela que, apesar da experiência, ainda se choca com alguns tipos de crimes cometidos com requintes de crueldade. "A gente se coloca no lugar da pessoa", diz.

Quanto ao crescimento do tráfico de drogas no País, Nassif avalia como situação "quase que incontrolável". Indagado se ocorre hoje banalização do crime, principalmente com mulheres vítimas de violência, o delegado aponta como uma das causas "a mudança de valores."

Nos próximos dias, Nassif começa a recolher seus pertences em sua sala no 8º DP de São Bernardo, como os porta-retratos sobre a mesa com a foto dos netos e do helicóptero que o filho pilota. Sobre o que pensa em fazer como aposentado, o torcedor do São Paulo diz que ainda não pensou. "Saio ileso nesses anos todos e acho que cumpri a minha obrigação", afirma, com orgulho.

 

 

 




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