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Polícia aponta responsáveis pela morte de Emile
Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
26/10/2004 | 09:24
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As últimas horas de vida de Emile Perez de Souza, de 10 anos, foram de pavor e agonia. Seqüestrada no domingo de eleição em Rio Grande da Serra, ela passou quatro dias presa em um cativeiro sem iluminação e móveis, em um vale no meio da Mata Atlântica. Só comeu um pão com mortadela no primeiro dia, depois passou fome e frio. Ficou tão fraca que não conseguia parar em pé. Durante todo o tempo, ficava amarrada e ajoelhada sem roupa num canto do casebre olhando para a parede. Uma votação entre os integrantes da quadrilha decidiu pela morte da menina. Um dos seqüestradores teve de segurá-la para que outro - escolhido na mesma reunião - usasse uma lâmina de 1,8 centímetros de largura para perfurar o pescoço e quatro vezes o coração de Emile. E isso não é tudo. A menina também foi espancada e violentada sexualmente duas vezes antes de ser assassinada. Emile passou seus últimos três dias chorando e gritando por sua mãe.

Todos os passos do seqüestro amador que vitimou cruelmente Emile foram esclarecidos segunda-feira em uma entrevista coletiva à imprensa na sede do Demacro (Departamento de Polícia da Macro São Paulo), no bairro paulistano de Pinheiros. A menina é filha do candidato derrotado a vice-prefeito de Rio Grande e dono de dois mercados, Nilson Gonçalves de Souza, 40. Após ser seqüestrada, no último dia 3, ela apareceu morta quatro dias depois, em uma barranco da estrada de terra da Caracu, a 1,5 km de sua casa. "Esse foi um dos crimes mais monstruosos e cruéis que já vi", disse o diretor do Demacro, Nelson Silveira Guimarães.

A polícia afirmou segunda-feira que o caso está solucionado e que os oito acusados presos estão diretamente envolvidos. Foi confirmado que o ajudante de pedreiro Claudiomar Carvalho Alves, o Baiano, 30, foi quem assassinou Emile com facadas no lado esquerdo do peito e abaixo do queixo.

A chave usada para desvendar o crime chama-se luminol. Trata-se de um composto químico reagente a resíduos de sangue. O produto foi usado no único quarto do cativeiro de Emile, exatamente onde um dos acusados confessos, o ajudante Luciano Cardoso, o Mosca, de 25 anos, apontou como local da execução. Como o casebre foi lavado após o assassinato, somente com o luminol seria possível confirmar que ela foi morta ali. E o produto acusou vestígios de sangue no ponto do cômodo indicado por Mosca.

O crime - Tudo começou quando Fernando Salviano de Oliveira, 26 anos, o Ratinho, viu o pai de Emile pagar colaboradores da campanha política com dinheiro vivo em um bar da cidade, uma semana antes das eleições. Oliveira é de uma família humilde e viu ali uma chance de "melhorar sua vida".

Como todos os outros envolvidos, Oliveira não é um criminoso "profissional" capaz de planejar bem o seqüestro. Ele chegou em casa e contou a sua mãe, a também acusada Maria Aparecida Salviano de Oliveira, 52, que poderiam ganhar um dinheiro às custas da menina. Em seguida, falou com o lavrador aposentado Mário Antônio de Godoy, 75. Conhecido como Velho pelos comparsas, Godoy costumava manter relações homossexuais com quase todos os acusados e foi quem convidou o resto do bando.

Oliveira, apontado pela polícia como mentor do crime, queria esperar a apuração dos votos para pensar no resgate. Se o pai de Emile ganhasse, pediria mais dinheiro porque achavam que o partido (PL) iria ajudar - chegaram a cogitar R$ 2 milhões. Como perdeu, resolveram pedir R$ 10 mil. "Ela seria morta de qualquer jeito porque conhecia os seqüestradores", disse Guimarães, diretor do Demacro.

Contrataram um adolescente de 17 anos por R$ 50 para vigiar a família. Como Maria Aparecida conhecia a menina, ficou encarregada de pegá-la em casa. O menor, que fazia plantão na frente da casa, avisou que Emile tinha ido com o pai a uma escola ali perto. Com isso, Júlio César Santos Silva, 19 anos, foi até a escola e convenceu a menina a acompanhá-lo, sob o pretexto de levá-la para o local onde seria feita a apuração dos votos. Ela foi entregue à Maria Aparecida, que a levou até a entrada da estrada da Caracu - perto do bar do Marcão, no bairro Pedreira -, onde Mosca os esperava em seu Fusca, com Silva e Ratinho.

De lá, a levaram ao cativeiro. Com a projeção do caso na imprensa, os criminosos se desesperaram e, na noite do dia 6, resolveram fazer uma votação para decidir a sorte da garota. Apenas Godoy e Silva, que teria estuprado a menina, votaram contra. Depois de morta, Godoy deu a idéia de jogar o corpo no bambuzal na estrada Caracu, a 2,5 km do cativeiro. Por ser evangélico, ele diria à polícia que foi guiado por Deus até o corpo. Os acusados podem pegar até 30 anos de prisão.




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