Economia Titulo Após a crise
Setores industriais ensaiam alta dos preços
Por
24/08/2009 | 07:01
Compartilhar notícia


Depois de meses de retração nas vendas, alguns setores da indústria estão sendo beneficiados pela retomada da economia mundial e pela redução gradual dos estoques, e já ensaiam aumentos nos preços dos produtos em busca de recomposição de margens.

Os setores de plásticos, produtos siderúrgicos e materiais para construção estão obtendo sucesso nesta estratégia, embora os preços ainda estejam muito abaixo dos níveis anteriores à crise, no primeiro semestre do ano passado.

O aumento de preços das resinas para produção de plásticos chegou a 20% entre julho e agosto devido ao movimento de volta às compras, após a redução dos estoques. Na siderurgia, a alta ainda é restrita ao segmento de chapas grossas, usadas pela indústria naval e tubos de petróleo e gás, mas os outros tipos de aços planos, utilizados no setor automotivo e na linha branca, também devem seguir esta tendência até o final do ano, sustentados pela alta dos preços no exterior.

No setor de transformados plásticos, a elevação das cotações no Exterior e a expansão da demanda doméstica permitiram que as fabricantes de resinas termoplásticas promovessem dois reajustes consecutivos em julho e agosto. Esses resinas são usadas na fabricação de plásticos em geral, inclusive para embalagens. Os mais de 11 mil transformadores de plástico, que compõem a terceira geração da cadeia petroquímica, não têm condições de absorver a alta de quase 20% e, por isso, devem repassar grande parte do aumento para seus clientes.

O momento para os reajustes da indústria petroquímica não poderia ser mais propício. Diante da ainda escassa oferta de linhas de crédito para empresas de menor porte, os transformadores se viram obrigados a consumir seus estoques. Com isso, ingressaram no segundo semestre com a necessidade de manter um ritmo acelerado de compras.

"Registramos recuperação da demanda mês a mês", destacou o presidente da Braskem, Bernardo Gradin, referindo-se à venda de resinas usadas na produção de itens da cadeia plástica.

A previsão para o terceiro trimestre é de nova alta nas vendas, puxada pela recuperação da economia e pelo aumento da demanda oriunda das festividades de final de ano.

Outro setor que começou a articular uma recuperação nos preços foi o de siderurgia. Além de reduzir os descontos que eram concedidos, a indústria já fala na possibilidade de praticar aumentos de preço até o final do ano. Em entrevista recente, o presidente da CNS (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch, disse que os preços dos aços no mercado interno podem reagir no final deste ano.

A tendência de alta se sustenta principalmente na recuperação do preço do aço no exterior, que deve proteger as siderúrgicas brasileiras da concorrência dos importados. Do lado da demanda interna, a retomada ainda é tímida e seria insuficiente para justificar aumentos, embora os estoques estejam caindo.

Mesmo com alta, inflação está longe

Dados da Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) apontam que, em agosto, o uso da capacidade instalada do setor era de 83%. Em outubro do ano passado, a utilização da capacidade atingiu o máximo, de 88%.

"O uso da capacidade instalada caiu até chegar a 78% em junho, mas agora voltou a subir", afirma a consultora da FGV Projetos.

Esse movimento de recomposição de margens das empresas, no entanto, está longe de significar uma ameaça de alta da inflação. Segundo economistas, o aumento nos preços destes setores da indústria não é suficiente para gerar pressões inflacionárias porque trata-se apenas de uma pequena recomposição parcial de rentabilidade que não será acompanhada por um expressivo aumento da demanda interna.

"Do ponto de vista dos custos não há pressão porque o câmbio se apreciou", disse o economista da RC Consultores, Fábio Silveira.

O coordenador da Pesquisa de Preços da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Antonio Evaldo Comune, destacou que o aumento dos preços só deve se traduzir em inflação ao consumidor caso ocorra de forma mais acentuada e atinja também outros setores da economia. "Teria de ser um movimento mais generalizado para repercutir nas cadeias produtivas e atingir o consumo das empresas e famílias", afirmou.

Para agosto, Comune prevê uma alta de 0,42% no IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, impulsionado principalmente pela alta de energia elétrica, reflexo do reajuste médio de 14% praticado pela Eletropaulo no início de julho. No mês passado, a inflação ao consumidor em São Paulo subiu 0,33%, após alta de 0,13% em junho.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;