Setecidades Titulo Investigação
Região ainda aguarda resultados de 82% dos testes para Covid-19

Pesquisa aponta que até quarta-feira o Grande ABC tinha 3.087 casos e 57 óbitos em investigação; laboratório dará fluidez à fila

Por Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
17/04/2020 | 00:01
Compartilhar notícia
Pixabay


O Grande ABC aparece com altos índices de incidência da Covid-19 com relação a outras regiões do País, com 44 mortes, 666 casos confirmados e 3.087 pessoas à espera do resultado de testes até quarta-feira. Apesar de contar com sistema de saúde funcional, ainda vê um déficit na obtenção de resultados dos testes dos pacientes: segundo a mais recente pesquisa do ABC Dados, 82% das pessoas que efetuaram a testagem continuam sem saber o diagnóstico (incluindo 57 vítimais fatais que esperam pelo causa mortis). 

O credenciamento do laboratório de análises clínicas da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) para realização das provas está fazendo com que haja maior fluidez, com a avaliação de 200 exames por dia (com espera de 24 horas a 30 horas), de cinco das sete cidades, desde o início desta semana. Ou seja, grande parte das amostras enviadas antes de sexta-feira da semana passada – quando a permissão foi oficializada no Diário Oficial do Estado – seguem na fila à espera de um veredicto.

Segundo a pesquisa – baseada nos boletins epidemiológicos atualizados diariamente pelas prefeituras –, apenas 18% dos casos relatados no Grande ABC obtiveram diagnóstico. “O País é o que menos testa entre os mais atingidos (pela Covid-19). Diante dessa evidência, surge a dúvida em relação aos números de infectados e óbitos atingidos pelo vírus. Qual seria o alcance real da epidemia, uma vez que já se sabe que a grande maioria que procura o sistema de saúde com os sintomas da Covid não fez ou ainda aguarda o resultado dos testes?”, questiona o cientista social Marcos Soares, especialista em opinião pública, mídia e estratégias em comunicação política, um dos idealizadores do ABC Dados. “Tentando dimensionar esse fenômeno, buscamos nos dados divulgados diariamente pelas prefeituras da região alguma indicação que nos ajudasse nesse sentido. Se apenas 20% desses casos forem confirmados, isso já seria suficiente para dobrar o número de infectados na região”, continou ele.

De acordo com o vice-reitor da FMABC e coordenador do laboratório de análises clínicas do centro universitário, Fernando Luiz Affonso Fonseca, existe necessidade e urgência para realização da testagem. “Enquanto não testa, se o paciente tem o sintoma e não chega no sistema de saúde, a gente não consegue identificar a doença. E nós também não sabemos quanto tempo este paciente ficou sem o sintoma para poder infectar outras pessoas. Saiu trabalho recente na Nature (revista acadêmica), de um grupo chinês, que é no início, na fase assintomática da doença, que se tem a maior contaminação”, explicou.

Municípios buscam alternativas

Testar, diagnosticar e tratar. Este tem sido o mantra praticado nas secretarias de Saúde por todo o Brasil na luta contra a Covid-19. Entretanto, desde que haja teste suficiente para a população. E, mais do que isso, é necessário ter local apropriado para que as amostras sejam devidamente avaliadas e notificadas como positivas ou não. A oficialização do laboratório de análises clínicas da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) pelo Instituto Adolfo Lutz como um dos permitidos a realizarem a testagem beneficiou cinco cidades da região (a princípio): Santo André, Ribeirão Pires, Mauá, São Bernardo e São Caetano. Assim, a expectativa é para que os números do Grande ABC disparem e, ao mesmo tempo, a espera pelo resultado diminua.

Para dar ainda mais agilidade a esta fila de exames, São Caetano fez parceria com laboratório da USP (Universidade de São Paulo), que não é validado pelo Adolfo Lutz, mas envia os dados ao município, que contabiliza em seus boletins. “É laboratório fidedigno. Assim tem número mais real para considerar a letalidade, porque você tem numerador e denominador. Se você tem dez óbitos e 100 positivos, tem 10% de letalidade. Agora, se você tem dez óbitos e 1.000 positivos, tem 1%. Isso faz muita diferença. Então teremos número mais próximo do real do que o Estado, mas pacientes testados do que o Estado. Somos o terceiro município com mais positivos por 100 mil habitantes. E vai ser o primeiro, porque estamos testando mais do que todo mundo”, explicou a secretária de Saúde de São Caetano, Regina Maura Zetone. Segundo ela, seguem para a USP os testes que vêm sendo realizados em casa, enquanto para a FMABC vão as amostas das pessoas internadas na rede de saúde municipal. 

Na visão da secretária, esse tipo de parceria só traz benefícios, inclusive para pacientes e familiares que anseiam por respostas. “Facilita e agiliza muito o trabalho e causa menos transtorno, porque pacientes e familiares querem saber se é positivo ou não. Se você diz que é e o Estado não reconhece, é obrigado a fazer enterro como suspeito e aquela pessoa vai demorar quanto tempo para saber se é verdadeiramente Covid ou não? Temos 12 ou 13 casos que são suspeitos e não têm resultado. Agora, daqui para frente, melhora muito a qualidade do atendimento e do acolhimento para os familiares também”, disse.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;