Política Titulo São Bernardo
Lula resiste à prisão e se abriga no Sindicato dos Metalúrgicos

Ex-presidente descumpriu exigências de Sérgio Moro, que deu até as 17h de ontem para petista se apresentar à PF, o que deve acontecer hoje

Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
07/04/2018 | 04:00
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Denis Maciel/DGABC


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu resistir ao mandado de prisão expedido contra ele pelo juiz federal Sérgio Moro, anteontem, e se abrigou na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na região central de São Bernardo, onde passou a segunda noite consecutiva. O magistrado havia exigido que o petista – condenado a 12 anos e um mês de detenção pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro – se apresentasse até as 17h de ontem à PF (Polícia Federal) de Curitiba, no Paraná.

Em momento tenso, o prazo expirou e o ex-presidente continuou no segundo andar da sede do sindicato, berço de sua ascensão na política. Não houve movimento interno que indicasse a sua entrega. Lula se refugiou na entidade ainda na noite de quinta-feira, cerca de uma hora depois de o mandado de prisão se tornar público. Foi lá que o petista passou já a primeira noite. Esperava-se que aquela madrugada antecederia sua detenção.

Do lado de fora do sindicato, nas imediações das ruas João Basso e José Bonifácio, uma multidão formada por militantes do PT, de outros partidos de esquerda (Psol, PCdoB e PCO), de movimentos sociais e de simpatizantes, aguardava algum desfecho para o decreto de prisão.

Um caminhão de som foi colocado no meio da rua e a espera do prazo dado por Moro virou um ato político e até de festa (leia mais abaixo) em apoio ao ex-presidente. Milhares de pessoas passaram pelo local durante todo o dia de ontem. Muitas delas estavam munidas de bandeiras dos mais diversos movimentos de esquerda, com cartazes e vestidas com camisetas exigindo que o ex-presidente permanecesse livre. No auge do ato, por volta das 14h, as redondezas do sindicato ficaram intransitáveis. A Polícia Militar não divulgou a estimativa de público.

Boa parte dos manifestantes chegou ainda na noite de quinta-feira, após convocação do presidente do sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, por meio das redes sociais. Entre os que dormiram na calçada da entidade sindical na madrugada de ontem, a maioria era formada por integrantes da ocupação Povo Sem Medo, do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), que desde setembro ocupa área particular no bairro Assunção, na cidade.

Passaram-se 24 horas da chegada de Lula ao sindicato e nada de o petista deixar o local ou sequer fazer um discurso. Volta e meia, o ex-presidente aparecia na janela e acenava à militância, para delírio dos presentes. Por volta das 18h, Lula fez a última aparição do dia.

Em cima do caminhão, vários dirigentes de movimentos sindicais e sociais e lideranças partidárias, como os deputados federais Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, Maria do Rosário (ambos do PT), Ivan Valente, Luiza Erundina (ambos do Psol) e Jandira Feghali (PCdoB), além dos senadores petistas Lindbergh Farias, Fátima Bezerra e Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT. A palavra de ordem era “resistência”. “O Supremo parece o ‘supremo tribunal do frango’, porque deveria resguardar a Constituição e foi o primeiro a descumpri-la. Quando o Estado é opressor temos direito à desobediência civil”, esbravejou Vicentinho, já com a voz embargada.

Não houve anúncio oficial sobre o que Lula deverá fazer. Segundo informações, a defesa negociou para que o ex-presidente se entregue hoje à PF, na Capital, após participar de missa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro do ano passado. A celebração também ocorrerá na sede do sindicato, às 9h.

Clima de Carnaval e tensão se misturam

Desde a manhã até o início da tarde de ontem, o clima era de Carnaval entre os militantes e apoiadores do ex-presidente Lula, nas redondezas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Com cerveja em mãos, diversas pessoas cantavam a marchinha Alalaô, que tocava no caminhão de som. Muitos já aparentavam embriaguez.

Por volta das 16h, quando se aproximava o prazo dado pelo juiz Sérgio Moro, a tensão começava a tomar conta. Os presentes se perguntavam o que iria acontecer. Helicópteros de emissoras de TV e da Polícia Militar sobrevoavam o local e deixavam o cenário ainda mais angustiante. Quase quatro décadas depois das lutas sindicais que projetaram Lula na política, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC voltou a fazer parte da história política do ex-torneiro mecânico. 

Desprovidos de informações oficiais sobre o futuro de Lula, muitos dos militantes tentavam, sem sucesso, acessar portais de notícias em busca de alguma informação, mas a internet, falha por conta da quantidade de pessoas tentando se conectar ao mesmo tempo, pouco ajudava. Algumas que conseguiram saber sobre a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça, leia mais ao lado), lamentavam. “Que Justiça de m...”, criticou um militante. Outras, por outro lado, aparentavam tranquilidade e tiravam selfies e mandavam mensagens de aniversário pelo WhatsApp. 

Faltando segundos para as 17h, uma contagem regressiva entoada pela multidão marcou o início da segunda longa noite de Lula.




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