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Região ainda viverá novas tragédias
Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
17/01/2011 | 07:00
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Ricardo Trida/DGABC


Infelizmente, o pior poderá ocorrer mais vezes para quem mora em áreas de risco no Grande ABC. A falta de investimentos e de vontade política nestes locais serão os principais responsáveis por novas tragédias. Quem garante é o professor de Geologia da USP (Universidade de São Paulo) e especialista em áreas de risco Edilson Pissato.

A carência de políticas públicas referentes à ocupação irregular de terrenos é o maior motivo. "Esse é um problema conjuntural da urbanização. Os casos de deslizamentos se repetem e ninguém faz nada para melhorar a situação. Basta acabar o período de chuva para não se tocar mais no assunto. Vale lembrar que não é a natureza ou o aquecimento global, mas sim os órgãos públicos, os responsáveis por esses episódios de destruição", critica Pissato.

Nas últimas semanas, as histórias se repetiram, principalmente em Mauá, onde cinco pessoas morreram após as suas casas desabarem. Nos últimos dez anos - somadas a deste ano -, 36 pessoas perderam a vida na mesma situação na região.

Segundo o especialista, dificilmente ocorrerá no ABC o que houve na região serrana do Rio de Janeiro. "Os terrenos da área de Teresópolis são diferentes dos de São Paulo. Lá houve uma combinação infeliz entre a erosão natural e a ocupação irregular. Em São Paulo, apenas na Serra do Mar pode se repetir a corrida de lama e pedras, mas no Grande ABC, como na periferia de São Paulo, o que existe são casas construídas em lugares que não têm a menor infraestrutura para suportar o peso durante anos."

Essa é uma história onde todos os envolvidos têm a sua parcela de culpa. Os moradores, por necessidade ou por interesses financeiros, invadem terrenos e, no primeiro momento, retiram a vegetação natural e, sem instruções técnicas, fazem modificações nos barrancos. E, por outro lado, o poder público pela omissão e a falta de fiscalização.

 SINAIS DE DESLIZAMENTO

 Para evitar mortes mortes, as pessoas que residem em áreas de risco podem prestar atenção em detalhes que servem como um alerta. São fissuras nos terrenos, rachaduras nas paredes ou nas calçadas, postes de energia e árvores que começam a tombar. Esses são os principais indícios de que a casa pode vir abaixo a qualquer momento.

Segundo o geólogo, durante os últimos anos melhorou o preparo das prefeituras apenas em relação à Defesa Civil, mas ainda falta muito para chegar a uma posição privilegiada. "Alguns municípios contam com um profissional capacitado para trabalhar. As Defesas estão até que preparadas para lidar. O importante não é no atendimento posterior, era melhor investir em prevenção", afirma Pissato

Moradores insistem em não deixar suas casas e se arriscam

Mesmo após a tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, alguns moradores não querem deixar suas casas. Apesar do risco iminente. A história se repete em Santo André e Mauá, onde cinco pessoas já morreram neste ano.

No Jardim Santo André, alguns moradores receberam a carta de despejo da Prefeitura e decidiram não sair do lugar até receber garantias do poder público de que ganhariam uma nova residência.

Mas até lá, disseram à equipe do Diário, que não vão sair do local, mesmo se a Polícia Militar for chamada para a realização do despejo. "Não vamos sair daqui. Mesmo com o perigo, acreditamos em Deus", disse um morador.

A região do Jardim Santo André já sofreu com diversos deslizamentos e uma parte já foi desocupada. "Não adianta nada tirar as pessoas e não realizar a urbanização do local. Depois de um tempo, esse lugar vai ser invadido novamente e a história se repetirá", avalia o geólogo Edilson Pissato.




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