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Brasil festeiro
Por Rodolfo de Souza
23/08/2020 | 07:29
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O povo brasileiro é mundialmente conhecido pela sua alegria, pela sua musicalidade e pelo jeito de lidar com celebrações de todo tipo. Festança de verdade por qualquer motivo! Trata-se, afinal, de uma gente incapaz de passar longo período de tempo longe de um agito legal, de uma comemoraçãozinha maneira. O distanciamento desses encontros, aliás, tem o poder de lhe provocar efeitos colaterais diversos, como dor de barriga e até danos mais sérios, como crise de ansiedade, por exemplo.

E é justamente a abstinência que sujeita essas pessoas a botarem a corda no pescoço ao correrem para as ruas, para os bares, para as calçadas, nas noites das cidades. Noitadas das boas que fazem o incauto esquecer de que vivemos novos tempos, tempos de vírus matreiro que adora fazer morada no peito desavisado.

E esta parte ensolarada do mundo, onde nos deitamos todos os dias para o merecido sono dos justos, ainda é, como não podia deixar de ser, o paraíso das praias. Locais onde os encontros se dão com frequência, com muita descontração e sentimento de liberdade. Lugares em que as pessoas se juntam sem dar a devida atenção a um conjunto de regras criadas exclusivamente para orientá-las em tempos pandêmicos. Apesar de que é preciso admitir que não há regalia maior para este povo de meu Deus do que quebrar regras. Diverte-se mais com esta farra do que com as ondas salgadas ou as cervejas geladas. Aliás, sempre fez parte do gene social tupinambá dar as costas para normas e regulamentos. Por que, afinal, seria diferente em época virótica?

Noutro dia a ‘Cidade Maravilhosa’ anunciou a abertura de locais turísticos badaladíssimos, e se formaram filas imensas para visitá-los. Nada contra os passeios, mas é sabido que não vivemos um só minuto sem oxigênio, a despeito de passarmos muito bem sem algumas visitas aparentemente indispensáveis.

Brasileiro também não vive sem um shopping. As gerações atuais, inclusive, não entendem como é que as antigas sobreviveram sem ele.

E é justamente esta a cara deste alegre povo varonil. Gente batalhadora que se rebela contra um vírus letal simplesmente porque a sua presença impõe a necessidade de se cumprir regras. E a estupidez crônica implica no desdém pelos avisos da presença da molécula tinhosa. E o resultado não é outro senão a proliferação da peste e a morte por atacado de um povo que se nega a admitir a letalidade da coisa, até que a sinta no coro.

Mas é preciso dar as costas aos números para que fique mais fácil negá-los. É preciso que se dê ouvidos à ignorância suprema que convida o povo a refestelar-se e ainda prescreve droga inútil quando do mal for acometido.

Definitivamente o Brasil não é um País para amadores. Lidar, em momento tão crítico, com uma população gigantesca a quem fora negado o desenvolvimento intelectual, geração após geração, não é trabalho fácil. Trata-se de um povo que procura seguir sempre o caminho aparentemente mais fácil, aquele para onde, astutamente, alguém dirige seu olhar míope. E o oba-oba verde-amarelo, mais amarelo em dias atuais, ganha as manchetes do mundo, enchendo de orgulho essa pobre gente que também se entrega ao fundamentalismo religioso, por não ter a menor noção do seu significado.

Segue, pois, esse povo levado pela enxurrada de desinformação que rapidamente faz dele besta que não sente o peso da canga, e ainda carrega consigo o compromisso de guiar as gerações vindouras para o mesmo beco obscurantista. Na mesma linha, segue o que não abre mão do churrasco de sábado, da festa de aniversário, da partida imperdível de final de campeonato, da festa rave, do raio que o parta...

Fica difícil, pois, quase impossível para a ciência, falar a um público que carrega a bandeira da estupidez como estandarte que deve ocupar o ponto mais alto de suas vidas. Acima de tudo e de todos. 




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