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‘Paulo Serra pode ser candidato em 2022 ou 2026’
Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
25/01/2021 | 00:15
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Claudinei Plaza/DGABC


Ex-vereador de São Paulo e hoje superintendente da Unidade de Planejamento e Assuntos Estratégicos de Santo André, José Police Neto (PSD) apontou, em entrevista ao Diário, que o prefeito Paulo Serra (PSDB) “tem tamanho e competência” para alçar voos fora dos limites do Grande ABC nas próximas eleições, podendo entrar na disputa, inclusive, ao governo de São Paulo. “É quadro que pode ser governador ou vice-governador em qualquer arranjo político”, alegou o pessedista. “Pode ser 2022 ou 2026.” Liderança ligada ao ex-ministro Gilberto Kassab (PSD), ele criticou Doria e o grau de abandono do Estado com a região.


O senhor iniciou atuação em área estratégica na Prefeitura de Santo André. O que é projetado como prioridade no governo?

Expectativa é muito realista com duas informações que a cidade produz. A primeira que se dá é política, vem da urna. Cidade reconhece administração que deu certo, conferiu 76% (dos votos válidos). Mais de três quintos da sociedade, que foi à urna, diz: ‘Vou com esse cara’ (Paulo Serra, PSDB). Isso tem valor muito grande. A segunda é aquilo que podemos oferecer. O que o mundo produziu nos últimos anos, de inovação técnica e científica, teremos que aplicar para cá. Durante dez dos 15 anos em que fiquei na Câmara (como vereador) fui delegado junto à ONU. Isso acaba tendo relações internacionais e experiências. Vamos ter que ser muito mais competentes.

Há direcionamento de áreas a serem enfrentadas logo no começo do segundo mandato?

Faremos muito planejamento, por exemplo, voltado à mobilidade. Um nó que a Região Metropolitana tem é a questão de custos, tempo que toma na sua vida, uma hora, uma hora e meia por dia. Um terço da sua vida. Preciso devolver vida para esse cara. Segundo e está entrelaçado com isso, verificar como vou garantir saneamento e saudabilidade para todas as residências. É desafio robusto. Tem núcleos habitacionais, loteamentos precarizados, favelas, que precisamos trabalhar. Prefeitura vai ter que ter diálogo muito mais forte com o Estado. CDHU tem dívida com a cidade.

O senhor tem relação antiga com Paulo Serra, mas quanto pesou sua ligação com Kassab e PSD para ingresso em Santo André?

Peso relativo, não de tomada de decisão. Quando junta técnica e política tem ingredientes fundamentais para fazer a coisa funcionar. O Paulinho não me trouxe para nenhuma função política, zero. A única seria falar com a imprensa, para contar um pouco a parte técnica que se traduz em bônus político ou redução de danos, como enfrentar dívida, situação complexa. O que sinto é que o Paulo Serra deixou de ser só um dos prefeitos de cidade grande. Poderia ser só mais um para ser prefeito que superou todas as marcas. Jovem. Foi carregado por esse ou aquele nas costas? Foi o inverso. Sem muleta, sem carregar no colo. O prefeito podia ter chamado para função política, exige menos aplicação, não conta tanto resultado. Venho para ser garçom, oferecer cardápio de soluções, com muito diálogo com a sociedade, Parlamento, academia, as universidades.

O Grande ABC já se mostrou refém no passado de decisões da Capital. O que esse resultado nas urnas de Santo André pode impactar em novas ações na cidade?

O Paulo Serra conseguiu unir duas coisas: ninguém faz política sem pretensão, mas também não precisa atropelar ninguém. E ele fez isso sendo discreto. Esteve em tudo, sem precisar ser o primeiro a ter importância. Teve presença. A cidade está entre as cinco mais importantes do Estado, entre as 25 mais do País e entre as 35 na América Latina. É referência. Queremos conduzir inovação, tecnologia, tratar a questão do arranjo de políticas de recepção da indústria 4.0. Como vai ser protagonista? Deixar de ser aquele que copia para ser aquele que inspira. Precisamos voltar a ser referência. Digo nós, porque o Bruno Covas (PSDB) depende de referências metropolitanas, até para tirar o peso que toda solução tem que sair de São Paulo. A escala da Capital não dá ao prefeito condição de fazer todas as inovações lá.

O senhor sinalizou que mantém residência em São Paulo. Pretende vir para Santo André todos os dias de bicicleta, a exemplo do que sugeria fazer quando atuava na Câmara e secretário na Capital?

Primeiramente, estou vindo de trem. Já vim de carro e duas vezes de bicicleta. Preciso encontrar meu destino aqui. Fui investigar as travessuras da Prefeitura quanto à ocupação da área preservada e histórica do distrito de Paranapiacaba. Estou programando essa vinda para me instalar, mas analisando onde é importante estrategicamente ter essa residência. Quando se tem paixão, não tem limite. Um pouco da minha oferta é de vida. Em São Paulo, morei no Centro, cracolândia. Não vai ser diferente a minha atuação aqui.

A votação obtida pelo prefeito Paulo Serra em 2020, somada ao cenário incerto na disputa ao governo do Estado, coloca a figura dele, nos bastidores, em construções políticas já em 2022. Como o senhor enxerga essa movimentação?

Em 2022, acredito que ele vai liderar um processo. Acho improvável como candidato. Não posso falar que não (será postulante), mas considero improvável. A tarefa que enxergo é de quadro técnico político, forjado no trabalho, que nunca teve refresco, que teve que mudar de partido, que brigou com partido de origem, voltou ao partido. Tem curva de aprendizado que pouca gente teve. Não teve setor econômico que ofereceu tapete vermelho, não teve atacadista, supermercadista, peças, construção civil. Ele construiu tomando bordoada. Tendo paciência, esperando fila. Eu vi quando ele falou que não seria candidato a nada (em 2012). Assisti à decisão. Foi para secretaria (de Obras e Mobilidade) em gestão que muitos tinham dúvida se ia performar, mas ainda assim ajudou em tudo o que podia e não jogou contra.

Dentro deste contexto, qual papel o senhor avalia que o prefeito pode ter daqui para frente?

Ele pode ser senador a qualquer momento. Conhece o que é defender Estado e as cidades. Tem tamanho, competência e idade para isso. É quadro que pode ser governador ou vice-governador em qualquer arranjo político. É em 2022? Acho improvável. Mas não tem figura deste potencial na Região Metropolitana no momento, pela importância e dimensão, e ponho o Bruno Covas dentro (deste prisma). É só olhar os resultados eleitorais. Isso deve dar orgulho ao cidadão daqui. Cidade tirou oito na prova. Quer mais? Liderar processo? Terá que fazer mais gestão. Quem tem que querer isso é o cidadão andreense. Por isso, que digo que é improvável. Se depender dele (prefeito), não vai ser. Se depender de mim, não vai. Pode também preparar para 2026, com muita responsabilidade. Passa pelo cidadão, que deu nota 8, a maior do Estado, uma das maiores do País em cidade deste porte, disparado, mesmo com todas as dificuldades, carregando precatórios de mais de R$ 2 bilhões.

O senhor vê espaço para crescimento no PSDB, pelo qual já fez parte, neste sentido ou existe avaliação de que isso poderia acontecer somente em outra sigla, como o próprio PSD?

Tem espaço para isso no PSDB. O (governador João) Doria tem que expandir para ser (candidato à Presidência). Ele não pode impedir ninguém de crescer, porque ele tem que ser empurrado por todos, PSDB, DEM, PSD, MDB. Todos aqueles que ele sonha ter do lado para elegê-lo presidente, tem que deixar crescer. Quanto maiores forem os parceiros, maior a eleição dele. A questão é que quem vai decidir é estrutura que vai além do PSDB. Agora, tem a força política do vice-governador Rodrigo Garcia (DEM). Tem força política tucana, que é o ex-governador Geraldo Alckmin, que pode querer voltar. Sou daqueles que aceitam a fila desde que ninguém volte para o posto anterior depois de ter passado dele. Saí do PSDB por conta disso. Aqui acertaram. Se o PSDB não fosse buscar o Paulinho era capaz de não levar nem o PSDB nem a gente com ele (então filiado ao PSD). Quem ia se desgraçar seria o PSDB e era capaz de ficar mais quatro anos sem prefeito, poderia fechar a cidade depois da curva com (João) Avamileno, Aidan (Ravin), que estamos no luto por ele, e (Carlos) Grana. Santo André está disposta a oferecer quadro político que criou tão rapidamente? Ou vai querer abraçá-lo, e dizer: ‘Fica mais quatro anos, faz processo de sucessor, deputado federal, dois estadual eleitos e sai mais fortalecido’. Ou constrói por aqui senador, da aliança. Tem tudo isso. Não é só posto de governador. Tem arranjo, e possivelmente mais forte para 2026. Tem tempo, vai ter 30 anos para fazer isso.

Qual a leitura que o senhor faz do resultado geral de 2020, em relação à escolha do eleitorado, que pode impactar daqui um ano? População está evitando extremos, candidatura de centro ganha musculatura?

Doria não pode produzir mais ódio contra ele. Ele tem que ter capacidade agora de trazer mais gente para o lado dele. Não é político, é sociedade. Fala tem que ser mais otimista, mais discreta. Ele tem buscado ser contrassenso do (presidente Jair) Bolsonaro, mas parecido com ele. Tem causas que ainda mobilizam, só que não é mais o que carrega. Discurso de ódio está ficando enfadonho. (Donald) Trump levou isso a escala que ninguém está aguentando mais. A sensação que tenho é que Paulinho se antecipou a esse movimento. Ele não precisa falar que é cara de centro. As pessoas têm que perceber equilíbrio, posicionamento político. Toda vez que precisa contar é que deu errado na prática. Hoje registro histórico é implacável.

Em relação ao PSD e Kassab, qual a avaliação do saldo na região e âmbito nacional?

Kassab tomou decisão estratégica de crescer mais para fora do Estado do que para dentro. Foi produzir mais no Paraná, Bahia, Santa Catarina. Maior partido de centro no País é o PSD. Urna referendou isso. Qual a importância do Kassab na eleição? Não precisa necessariamente estar nas urnas. É cara de alta performance. Levou o (senador Antonio) Anastasia em Minas. Poucos partidos têm mais de um candidato à Presidência. O PSD pode ser para o Doria o partido mais importante para vitória nacional. Pode ser dele? Pode, mas não necessariamente. Esse é papel nacional, abdicou do Estado para fortalecer nacionalmente o PSD. Kassab lidera isso, trabalha com questão de geração. A questão é não querer ser titular sempre ou dono do time. O Paulinho vai ser aquilo que o cidadão daqui quiser dele. Se quiser que seja governador, vai ser governador em 2022 ou 2026. Se ele decidir, perdeu. Se for a população, ganha ele e a cidade, seja qual for o tempo. 




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