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Coronavírus ceifa 3.003 vidas na região

Marca é atingida oito meses após a primeira morte; famílias relatam saudade de falecidos

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
29/11/2020 | 00:01
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Enquanto países da Europa e os Estados Unidos passam pela segunda onda de infecção do novo coronavírus, o Brasil enfrenta mais um pico de casos, internações e óbitos. No Grande ABC, não é diferente. Ao mesmo tempo em que máscaras, álcool gel e o distanciamento físico se tornaram parte da rotina, o vírus já matou 3.003 pessoas na região, marca atingida ontem após a confirmação de mais seis mortes.

São 3.003 indivíduos que, com vidas, empregos, famílias e hobbies tão diferentes, deixaram saudade, assim como as mais de 172 milhões de pessoas que morreram em consequência da Covid-19 em todo País, e as mais de 1,4 milhão que faleceram nos cinco continentes.

São 3.003 indivíduos que deixaram de ir ao estádio torcer pelo time do coração, como no caso do aposentado João Francisco de Melo, 72 anos, de Santo André. No caso, eram times do coração. Pernambucano, com passagem pelo Rio de Janeiro, ele torcia pelo Vasco e pelo Ramalhão. Se instalou e formou família na região, onde era conhecido como Carioca. “Quando eu era mais nova, ele sempre me levava aos jogos, inclusive, estávamos na final da Copinha contra o Palmeiras em que o Santo André levou a taça (em 2003)”, lembrou a filha Tatiane Henrique de Melo, 28.

Carioca era alegre. Contava piadas, viajava, jogava dominó com os amigos na praça perto de sua casa e amava passar tempo em família. Leitor assíduo do Diário, adquiria o jornal diariamente e, quando não podia, pegava emprestado do sobrinho. “Ele amava o jornal, lia todo dia. Eu achava exagero alguém comprar jornal em pleno século 21, hoje, vejo o quanto isso era importante”, relatou Tatiane.

São 3.003 pessoas que deixaram de educar, de tocar piano, de espalhar alegria e de escrever. “Um dia quando a morte, de mansinho,/Arrebatar-me resolutamente,/Há de ficar na escarpa do caminho/Do coração a rútila semente”, escreveu, em 1965, Wanderley Carlos Martins, 80, de Santo André. Vítima da Covid-19, ele era poeta, professor de história e diretor de escola aposentado, músico, pianista e sonhador “de um mundo livre de injustiças e de preconceitos, onde só espalhou amor, bondade e alegria”, contou a filha Thais Barleta.

São 3.003 cidadãos que deixaram de viajar de motocicleta, como sempre gostou o empresário da área de tecnologia Raul Marcos Rosolini, 55, de São Caetano. Acometido pelo coronavírus, ele faleceu em 25 de março, apenas três dias depois de o vírus ceifar a vida de seu sogro, o engenheiro aposentado Sylvio Lizidatti, 86, também são-caetanense, que tinha como uma de suas maiores paixões dirigir.

São 3.003 moradores da região que tiveram a vida ceifada pelo inimigo invisível e que hoje não vão poder viajar ou estar com a família, como alguns lembrados nas fotos ao lado.

HISTÓRICO
O primeiro óbito causado pelo coronavírus na região foi registrado em 25 de março, em Santo André – a morte, de fato, ocorreu dia 18, mas demorou uma semana para ter o diagnóstico de Covid. A quarentena havia começado há dois dias no Estado e as sete cidades tinham 212 casos positivos. A média diária de infecções era menor do que cinco – na semana passada, como comparação, foram 469 diagnósticos por dia.

Três meses depois, em 23 de junho, o Grande ABC ultrapassou a marca de 1.000 vítimas fatais do vírus. Na ocasião, 2.793 casos haviam sido confirmados em período de 24 horas. O segundo milhar, por sua vez, foi alcançado em 19 de agosto. Vale lembrar que entre o sexto e o oitavo mês do ano a região enfrentou a fase mais crítica da pandemia.

ESPERANÇA PELA VACINA
Uma vez que ainda não há tratamento ou medicação específica para combater a Covid e as vacinas estão em fase de estudo, Gabriel Zorello Laporta, especialista em saúde pública e pesquisador da Faculdade de Medicina do ABC, destaca que o único meio de frear novos casos, sobretudo nas pessoas que pertencem ao grupo de risco, cujo quadro da infecção tende a agravar, é o isolamento físico. “O ideal é evitar confraternizações, até mesmo em família, porque o fato é que temos uma incidência e letalidade muito mais em idosos e este grupo realmente precisa de isolar”, ressaltou. 




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