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A vez do Tigre

Xangai inspira empreendedorismo e modernidade; Expo
2010 vai se estender por seis meses na cidade chinesa

Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
06/05/2010 | 07:00
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Para os chineses, 2010 é o Ano do Tigre, marcado por muita coragem, iniciativa, ímpeto empreendedor e acontecimentos imprevisíveis. E é exatamente essa impressão que a cosmopolita Xangai tem passado ao mundo desde sábado, com a abertura oficial da Expo 2010, que se estenderá por seis meses em meio ao ritmo frenético da cidade. Tudo lá inspira empreendedorismo, modernidade e beira o imprevisível. Mesmo sob as rédeas do comunismo e à sombra de um passado pulsante que o governo reprimiu e os jovens se esforçam por resgatar, a metrópole acolhe o novo e o estrangeiro como em nenhuma outra parte do país.

Em uma mesma avenida, é possível vislumbrar arranha-céus de contornos ultra-arrojados (entre eles, o World Financial Center, segundo maior do mundo, com 101 andares e sem antena) convivendo ao lado de templos históricos. E as metamorfoses não cessam nunca: basta uma semana fora de Xangai para descobrir, no retorno, que aquele restaurante que você costumava comer fechou ou que um prédio foi erguido do dia para a noite no lugar da antiga mercearia. A percussão de britadeiras e bate-estacas da construção civil vai das 8h às 22h, sete dias por semana.

Mas durante a Expo o ritmo das construções deve desacelerar: o governo determinou que as obras sejam interrompidas para que o barulho não incomode os visitantes. Em compensação, a prestação de serviços continua a todo vapor: tudo lá funciona aos sábados e domingos, inclusive agências de banco e correio. E haja atendimento para suprir as necessidades dos mais de 18 milhões de habitantes e 70 milhões de estrangeiros que deverão passar por Xangai até outubro por conta da exposição internacional.

Se perde em crescimento vertical, a cidade ao menos ganha em investimentos, cultura e exposição na mídia. Estima-se que US$ 45 bilhões tenham sido investidos na cidade por conta da Expo, mais do que o gasto nos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim.

À noite, os tratores e guindastes são desligados, mas nem por isso a cidade dorme. Seja em casas legalizadas ou em porões escondidos, a juventude xangainesa mostra a cara e a mistura de influências da sua veia artística e cultural, batizada de haipai, ou ‘estilo de Xangai'. Estilo esse que não se difere apenas na arquitetura dos gigantescos edifícios, mas nas peculiaridades da língua, dos costumes, da gastronomia e do comportamento dos nativos, que fazem de Xangai uma tribo urbana diferente de todo o resto da China.

Embora o governo tenha tentado unificar a língua, difundindo uma versão padronizada do mandarim, muitos habitantes dos lilongs (bairros antigos do subúrbio) usam o dialeto xangainês como código secreto para indicar que são legítimos nativos da cidade - o que garante melhor tratamento por parte dos comerciantes locais.

Tradição que advém de muitas décadas atrás, quando a língua era a única identidade sobrevivente em meio à profusão de culturas trazidas por imigrantes endinheirados que transformaram Xangai numa outra China. Ao contrário da Pequim imperial, há um século e meio Xangai não passava de uma vila de pescadores, destino cobiçado única e exclusivamente por mercadores ocidentais que lá aportavam para trocar ópio por chá e seda.

Não demorou muito para as embarcações passarem a trazer, além de mercadorias, imigrantes estrangeiros ávidos por fazer negócios da China, além de dançarinas russas, refugiados judeus, banqueiros ingleses, magnatas franceses e empresários norte-americanos.

Salada cultural que chegava a afrontar os valores morais e os padrões econômicos da tradição imperial chinesa. Na década de 1930, a cidade já se destacava como terra de enriquecimento e vida fáceis, onde o dinheiro se multiplicava nos bolsos em velocidade tão vertiginosa quanto as novidades de artigos de luxo nas vitrines e o número de bordéis - não à toa, muitos diziam que Xangai tinha mais prostitutas que qualquer outra cidade do mundo. E apesar do esforço dos nativos em preservar os preceitos do confucionismo, os trajes eram ocidentais e o sistema, capitalista.

Pura luxúria que o governo fez questão de pôr fim a partir de 1949. Nas quatro décadas seguintes, a elite econômica foi exilada; as propriedades, confiscadas; e o dialeto xangainês, proibido. Só nos anos 1990 é que a cidade pôde finalmente dar vazão à sua nata vocação futurista no embalo das reformas econômicas empreendidas no país. E desde então, nunca mais parou.

Hoje, a cidade conta com mais de 4.000 edifícios, 2.500 quilômetros de novas ruas e estradas e dois aeroportos novinhos em folha. Para solucionar o problema do trânsito, sete linhas de metrô foram construídas nos últimos cinco anos, incluindo uma que leva até a Expo. Bicicletas também ajudam a vencer os engarrafamentos. Ao todo, há 120 milhões no país. E boa parte delas nem precisa de pedais: são elétricas e dobráveis. Basta estacionar, retirar a bateria e ir sossegado para o trabalho.

Além da praticidade, as magrelas ajudam a conter a poluição, que já começa a preocupar os xangaineses. Por isso, ao planejar a Expo, cujo tema propõe ideias que garantam cidades melhores para se viver, a maior preocupação dos organizadores foi a de oferecer meios de transporte não só eficientes como limpos. Um desafio e tanto para uma cidade que sonha em se tornar o centro financeiro e cultural do planeta no século 21. E é este novo filhote de tigre asiático que a China pretende revelar para o mundo nos próximos seis meses, em pleno Ano do Tigre.




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