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Ford vai dar licença remunerada
Evando Nogueira
Da Regiao
16/01/1999 | 15:42
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A Ford deu mais um passo para desarticular o movimento de resistência contra as 2,8 mil demissoes na empresa. A empresa comunicou este sábado ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que estará concedendo licença remunerada aos seus trabalhadores de segunda até o dia 31 de janeiro.

O secretário-geral da entidade, Carlos Alberto Grana, informou que o sindicato está orientando que, mesmo assim, todos os trabalhadores devem comparecer na empresa. "Com a licença, os ônibus que transportam o pessoal nao circulam e diminui o comparecimento de trabalhadores nas assembléias. Mas peço a todos que, de alguma forma, tentem ir até a porta da Ford para continuar nosso movimento", disse Grana.

A medida fará com que a montadora fique exatos 30 dias úteis sem produzir um único veículo. Isso porque a companhia havia concedido férias coletivas em 16 de dezembro para todos os funcionários. Desde o dia 4 de janeiro, os trabalhadores entram na fábrica, mas só encontram máquinas desligadas. A Ford justifica a medida como forma de manter a segurança da unidade.

Mas a falta de produçao parece nao ser um problema para a companhia, uma vez que existem cerca de 40 mil veículos em estoque, entre pátios da montadora e na rede de revendas. Em dezembro, a marca comercializou no atacado - para suas concessionárias - pouco mais de 10,2 mil automóveis e comerciais leves.

Homologaçoes - O coordenador da comissao de fábrica da Ford, Rafael Marques Júnior, informou que, até a última sexta-feira, cerca de 120 demitidos foram até a agência do Unibanco da rua Santa Filomena, no centro de Sao Bernardo, para receber as verbas da rescisao contratual. "O problema é que para sacar o dinheiro eles tinham de assinar os documentos que caracterizavam a demissao, coisa que o sindicato nao aprova."

Antes disso, a montadora já havia disponibilizado outro local em Santo André para que os trabalhadores se desligassem da empresa. O sindicato realizou uma reuniao na sexta-feira com cerca de 50 pessoas que foram até esse local e informou que apenas 12 estavam realmente interessados em deixar a companhia. Nesta segunda, o sindicato enviará à companhia uma lista com esses nomes.

Batalha - Sabendo que a queda-de-braço com a companhia vai ser longa, a comissao de fábrica e o sindicato já estao articulando meios de nao deixarem o desânimo abater os trabalhadores, principalmente os demitidos. "Esse golpe de depositar as verbas rescisórias foi baixo. A companhia sabe que o pessoal vai começar a ficar apertado logo e fez isso para desestabilizar nosso movimento", disse Marques Júnior.

A principal estratégia do sindicato agora é a criaçao de um fundo de arrecadaçao, que irá distribuir dinheiro aos dispensados pela empresa. As açoes para arrecadaçao estao começando por contatos com centrais sindicais do Canadá, dos EUA, da França e Alemanha. A comissao de fábrica da Volks já propôs, por exemplo, que cada trabalhador contribua com duas horas de trabalho.

As demissoes na unidade na regiao, na verdade, fazem parte de uma estratégia mundial da Ford para reduzir seus custos de produçao. Ao todo, as demissoes na companhia atingirao 8,8 mil funcionários em todo o mundo. As operaçoes sul-americanas da empresa dispensarao 4,6 mil trabalhadores, enquanto que o corte deve atingir 2,2 mil pessoas na América do Norte. Na Europa, as demissoes alcançarao 2 mil trabalhadores. A Ford vai desembolsar nesse processo US$ 730 milhoes.




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