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Cat Power hipnotiza plateia
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20/07/2009 | 07:13
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Há umas duas décadas, todo estudante de violão costumava chatear os amigos dedilhando os primeiros acordes da balada folk House of the Rising Sun, um hino que ganhou o mundo em 1964 na voz de Eric Burdon, do grupo Animals.

Megaconhecida, hipertocada (Bob Dylan gravou, Dolly Parton gravou, Marcelo Nova gravou), foi justamente essa a canção escolhida pela diva indie Cat Power, nome de guerra da norte-americana Charlyn Marie ‘Chan' Marshall, para abrir seu show na Via Funchal, na noite de sábado, às 22h19.

Era a senha de toda a ambição da cantora: na real, ela se ocupa de inventar novos atalhos para os nossos ouvidos, reavivando brasas de emoções batidas. Ilusionista de covers, crupiê de jukebox, a partir daí Cat Power passou então quase duas horas brincando de esconde-esconde com canções que pertenceram a Aretha Franklin, James Brown, John Fogerty, Kitty Wells, Joni Mitchell, Patsy Cline.

Praticamente às escuras, círculos de luz negra projetados no chão, casa lotada (mas uma plateia reverenciosamente silenciosa), o cenário estava cuidadosamente preparado para a conversão coletiva, que seria de arrepiar.

A cantora é hoje a contrapartida feminina de intérpretes viscerais como Leonard Cohen ou Jeff Buckley. Não conhece meias emoções, entra de cara e alma na espinha dorsal de cada música. No tipo de arte que agarrou, há pouquíssima concorrência - ninguém tem aquele ronrom de gato na voz, raras conseguem ser tão delicadas e poderosas ao mesmo tempo, nenhuma consegue dominar uma banda como uma legítima bandleader do jeito que ela faz (talvez só Cassandra Wilson).

Houve diversos momentos celestiais no show de Cat Power, difícil destacar um apenas. Foi rascante o jeito que ela passou de Silver Stallion (que cantou cavalgando pelo palco) para New York New York, megahit de Frank Sinatra do qual ela ignorou o DNA e fabricou outra versão.

Passavam 10 minutos da meia-noite quando Cat se despediu, após cantar o folk cucaracha Angelitos Negros. Ficou ainda mais 10 minutos no palco, distribuindo set lists para os fãs, abraçando, beijando mãos, fazendo reverências e batendo continência para a galera hipnotizada.




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