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Pessoas criam grupos para trocar gentileza e serviços durante a crise

Em tempos de pandemia, vizinhos se ajudam como podem, geram atmosfera positiva e passam até a se conhecer mais e melhor

Vinicius Castelli
Do Diário do Grande ABC
15/05/2020 | 23:04
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Há alguns anos era comum as pessoas, antes de saírem de casa para comprar o açúcar que faltava para uma receita, ou mesmo ir até a farmácia buscar comprimido para sanar a dor de cabeça, perguntarem ao vizinho se ele tinha para emprestar. Vida corrida e estresse fizeram com que as pessoas, pouco a pouco, fossem se distanciando, salvo em cidades menores, onde a vida parece passar mais lentamente.

Mas com a chegada da pandemia do coronavírus, medo de sair de casa, necessidade de isolamento físico, a vida, por si, tem voltado a unir as pessoas. É isso o que aconteceu em prédio na Rua Belém, na Vila Assunção, em Santo André. Alguns dos moradores criaram grupo de WhatsApp, hoje com 20 pessoas, com a sugestão de trocarem serviços e até mesmo gentilezas. E com isso, passaram a se conhecer. Silvia Monice Garcia, 53 anos, que trabalha com acupuntura e terapia com florais, é uma das que deram o pontapé inicial.

Ela conta que entre os serviços anunciados tem uma jornalista, que faz traduções e transcrições, por exemplo. Tem terapeuta quântica que colocou os serviços à disposição. Há até serviço de marmita e bolo de pote. “Quem vai entrando e tem serviço ou produto vai fazendo anúncio. Temos tido boa interação”, diz Silvia.

Sueli Berton, 59, por exemplo, elabora máscaras de proteção. Já vendeu cerca de 200 só por meio do grupo. “Fiz artesanato em patchwork com minha nora há uns dois anos e por causa disso tenho muito tecido, linha e elástico” conta.

A empreitada tem lhe ajudado, inclusive, com as crises de ansiedade que surgiram junto com o isolamento físico. “Fui em busca de uma ocupação, até mesmo para cuidar da cabeça. Deu certo. Não paro mais de trabalhar”, diz. Além disso, a reunião virtual fez com que as pessoas passassem a se integrar. “Não conhecia todos os moradores , agora, como a gente faz contato no grupo, passa a se conhecer”, celebra.

E além das trocas de serviços, há também as gentilezas. “O grupo é flexível”, diz Silvia. Ela conta que teve caso de uma moradora grávida que torceu o pé. Para evitar ir ao hospital por causa da Covid-19, perguntou no grupo se havia algum médico disponível. Alguém lhe passou contato de um profissional, que a ajudou à distância.

Teve outra moradora que foi mordida pelo cachorro. Após consulta virtual com médico, o marido foi à farmácia buscar os medicamentos necessários e quando voltou notou que havia esquecido uma pomada. Recorreu ao grupo e conseguiu, evitando, assim, sair novamente. “É um tipo de ajuda que a gente não teria sem o grupo. Despertou o instinto de ‘moramos juntos, vamos ser mais cooperativos e colaborativos uns com os outros’”, explica Silvia.

DOS TEMPOS ESCOLARES
Também em Santo André, pessoas que se conheceram nos tempos do ensino fundamental, em escola na Vila Lucinda, hoje todos na casa dos 50 anos, criaram grupo virtual para se ajudar em tempos de pandemia. São 80 pessoas.

“O que fizemos foi organizar relação das pessoas do grupo que prestam algum serviço ou têm comércio e começamos a consumir com esse pessoal”, explica o andreense Pedro Batista, 50. “Chegamos a 19 pessoas, que têm lojas de roupas e material para construção, mercado, salão de cabeleireiro, fazem comida, bolo, vendem seguros etc”, acrescenta.

E entre eles também há gentileza. Pedro conta que teve gente que foi comprar comida e medicamentos para uma família que estava com pessoa infectada pela Covid-19 em casa. “Outro dia ganhei comida vegetariana. Comentei que virei vegetariano e estava difícil adaptação por causa da pandemia, não poder sair para comprar muita coisa, e uma amiga veio me entregar de presente”, comemora.

Aplicativos conectam vizinhos e comércios

Idealizado com a sugestão de criar conexão entre vizinhos do mesmo bairro e também pequenos comerciantes que desejam vender algo na região onde atuam, o recém-lançado aplicativo Nok-Nok é opção em tempos de isolamento físico por causa da pandemia do coronavírus.

A plataforma oferece ao usuário opções de compartilhar ou vender alimentos, objetos, serviços e boas ações com a vizinhança. “Nossa ideia é que o aplicativo também seja usado para conectar comunidades. Quem sabe a pessoa que mora ao seu lado é uma enfermeira ou presta serviço que você precisa e nunca soube?”, diz Pedro Xavier, fundador da startup.

Ele explica que já tinha a ideia do aplicativo há muito tempo, “pois sempre me intriguei com o fato de a tecnologia não aproximar de forma efetiva vizinhos. Descobri nos Estados Unidos conceito parecido chamado nextdoor e me intriguei como isso ainda não existia no Brasil”, diz.

Nicholas Hortegas, diretor de marketing do Nok-Nok, que é gratuito, explica que, além de os vizinhos passarem a se conhecer, o aplicativo fará com que as pessoas saibam o que a pessoa que está na residência ao lado pode fazer em caso de emergência. “Queremos também trazer a possibilidade de aumentar a sua renda vendendo para seus vizinhos, ser novo canal de comunicação para oferecer produtos e serviços para pessoas próximas”, explica.

Outra opção gratuita com a mesma finalidade é o aplicativo Fica em Casa. Desenvolvido por grupo de jovens de diferentes regiões do Brasil, a plataforma pretende unir pessoas que estejam respeitando o isolamento físico. Sem fins lucrativos, a plataforma estreita contato entre voluntários e pessoas que necessitam de ajuda para realizar diversos tipos de atividades, como ir a mercados, farmácias ou buscar alimento para o pet, até atividades domésticas, auxílio psicológico, além de oferecer serviços e produtos. 




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