Diário apura que decisão já foi tomada, embora prefeito de Mauá pregue cautela ao atacar ato de sua vice
O prefeito de Mauá, Atila Jacomussi (PSB), vai revogar nos próximos dias o decreto de calamidade financeira editado pela vice Alaíde Damo (MDB) em julho. O socialista ainda prega cautela e evita antecipar a ação, mas, segundo apurou o Diário, já prepara o terreno para reverter a decisão tomada pelo governo interino enquanto estava afastado.
Publicamente, Atila tem adotado caminho republicano para enfraquecer o discurso encampado pela gestão de sua vice de que o decreto era a saída para sanear as contas públicas. Internamente, porém, a análise que o socialista faz é bem mais crítica: além de não surtir efeitos práticos a curto prazo, isto é, de não ter colocado as finanças nos trilhos, o ato assinado por Alaíde também atraiu imagem negativa para a cidade, que já tinha seu nome nos noticiários nacionais com os desdobramentos da Operação Prato Feito.
Ao Diário, o prefeito, que retornou ao posto no dia 11, evitou antecipar a ação, mas voltou questionar a eficácia do decreto, em claro indício de que não pretende deixar seu mandato seguir pautado por ato que tem as digitais do governo interino. “Se o decreto foi para chamar a atenção dos governos estadual e federal, seria necessário que o município fizesse a lição de casa. Não houve redução de contratos nem da folha de pagamento. Outra questão que chamou a nossa atenção foi a frequente quebra da ordem cronológica dos pagamentos (aos fornecedores)”, criticou, ao emendar que a medida “não foi eficiente” e não surtiu “retorno por parte do Palácio dos Bandeirantes e da União”.
Atila também rebateu as insinuações de seu próprio secretário de Finanças, Valtemir Pereira, que, no exercício de chefe da Pasta durante a gestão temporária de Alaíde, disse que o socialista tinha parcela de culpa no desarranjo das contas. “A população de Mauá vem sofrendo abalo financeiro desde a (segunda) gestão de Amaury Fioravanti (1973-1977 e 1989-1992), com o empréstimo para canalização dos córregos. (Essa situação) Passou pelas gestões do Leonel (Damo, de 1983 a 1988 e do fim de 2005 a 2008), do Oswaldo Dias (PT, 1997-2000, 2001-2004 e 2009-2012) e do Donisete (Braga, Pros, 2013-2016). Resolvi a cidade mesmo tendo assumido com R$ 1,3 bilhão em dívidas, sendo R$ 400 milhões em débitos a curto prazo e em nenhum momento pensei em decretar estado de calamidade financeira”, comparou o prefeito.
Atila ficou 126 dias longe da cadeira para o qual foi eleito em 2016. O socialista ficou preso por 37 dias e é acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de lavagem de dinheiro. Ao deflagrar operação que desmontou esquema de desvios em contratos de merenda e material escolares, a PF (Polícia Federal) encontrou R$ 87 mil em dinheiro vivo guardado no armário da cozinha de sua residência. Tanto a soltura quanto o retorno ao cargo foram conquistados por decisões do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Atila nega as acusações a garante que os recursos têm origem lícita.
Porta-voz da emedebista rebate socialista
Porta-voz e homem forte do governo temporário de Alaíde Damo (MDB), Antônio Carlos de Lima (PRTB) rebateu os questionamentos que o prefeito Atila Jacomussi (PSB) tem feito sobre o decreto de calamidade financeira adotada pelo governo interino.
“Se o mesmo (Atila) diz que o decreto é ilegal, por que não o revoga?”, indagou o ex-secretário de Governo. Atila, na verdade, não tem pontuado a legalidade da iniciativa. A narrativa do prefeito vai no sentido de contestar a eficiência da medida. A legalidade ou não do documento tem sido colocada em xeque pela Câmara, através do presidente da Casa, Admir Jacomussi (PRP), pai do prefeito.
Antônio Carlos também refutou o discurso do prefeito, que afirmou que retornaria sem sentimento de vingança, mas que exonerou 12 secretários, indicados por Alaíde, e fez devassa no segundo escalão ao demitir 18 adjuntos. “Se o Atila acha que ela (Alaíde) errou ao trocar os secretários por serem da mesma coligação que os consagrou, por que ele não dá o exemplo e mantém os secretários dela?”
O prefeito ainda não nomeou todos os substitutos para os postos desocupados no primeiro escalão. Apesar de não ter anunciado a demissão de Valtemir Pereira, de Finanças, no site da Prefeitura, Israel Aleixo (PSB), atual secretário de Governo e braço direito do prefeito, aparece como responsável pelo setor.
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