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Uma noite no Bussaco
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
26/08/2010 | 07:03
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Situado em uma antiga floresta plantada pelos monges Carmelitas Descalços, com árvores gigantescas e mais de 700 espécies de flora nativa, o Bussaco Palace Hotel seria apenas mais um majestoso palácio de caça aberto a hóspedes em Portugal não fosse o misterioso ranger de passos no chão, os instigantes detalhes da arquitetura e as desconcertantes portas de acesso ao quarto vizinho.

Isso mesmo: se não deixá-las bem trancadas, você corre o risco de ser surpreendido por um vulto em frente à cama na calada da noite sem saber se é um fantasma ou um hóspede perdido do apartamento ao lado à procura de mais um cômodo. Afinal, em alguns quartos chega a ser difícil achar o banheiro. Até que você resolve abrir as portas do guarda-roupas e descobre que o acesso ao tão sonhado conjunto de chuveiro, banheira, pia e vaso sanitário está ali, dentro do armário! Nem os cineastas de Hollywood pensariam em idealizar uma ‘passagem secreta' tão funcional...

E se, assustado com tanta esquisitice, você tentar correr de pijamas para o corredor, sempre coberto de pomposos tapetes vermelhos, cuidado: além de pagar um mico você ainda poderá dar de cara com uma sinistra armadura de olhos acesos que, a essa altura, só faltam voltar-se aos seus para fazê-lo rolar de medo escada abaixo numa espécie de déjà vu à la Scarlet O'Hara.

Mas, apesar dos ares e preços sinistros - a diária no quarto do rei chega a custar 1.150 euros (cerca de R$ ) -, vale passar uma noite no Bussaco. O que não significa, necessariamente, dormir. Melhor ainda é poder contar tudo aos amigos, esbanjando coragem, no retorno ao Brasil.

QUINTAS
Portugal, aliás, parece ter certo fascínio por construções tão velhas quanto sombriamente luxuosas. Na Quinta das Lágrimas (em Coimbra), por exemplo, o hóspede pode escolher entre dormir bem de frente para a fonte onde Inês de Castro teria sido assassinada ou no pavilhão ao lado, mais moderno porém sem histórias para amedrontar.

Já na mística Sintra, a Quinta da Regaleira faz qualquer um arrepiar enquanto o guia explica a extraordinária força telúrica do local, onde "o poder da luz choca com o reino das sombras" atraindo os amantes do oculto.

Foi assim com António Augusto Carvalho Monteiro, homem de vasta cultura que fez fortuna no Brasil e, depois, escolheu Sintra para realizar seu projeto onírico e espiritualista nos jardins - com misteriosas grutas, estátuas e lagos ocultos - da Quinta da Regaleira.

Apesar do estilo neomanuelino evocar tempos e glórias quinhentistas, a construção do palácio e da capela data somente do início do século 20 e, não por acaso, esteve a cargo de Luigi Manini, o mesmo arquiteto responsável pelo tal palácio de Bussaco. A idéia era misturar as mais sincréticas tradições espirituais com a linguagem cifrada da alquimia abrindo portas a símbolos mitológicos, templários e maçônicos, num verdadeiro percurso iniciático das trevas à luz. E deu certo. Como diriam os lusitanos: Ai, Jesus!




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