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Linda Hutcheon discute a tênue fronteira entre arte e sociedade
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
23/05/2006 | 07:54
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Nenhuma obra de arte é inocente até que provem o contrário. Ou – para falar de forma mais clara, bem ao gosto da professora e ensaísta canadense Linda Hutcheon – toda manifestação artística é uma expressão política ou social, a princípio. Autora de ensaios como A Teoria da Paródia (Edições 70) e Poética do Pós-Modernismo: História, Teoria, Ficção (Imago), é Linda o ponto de fuga dos Seminários Avançados sobre a Pós-modernidade nesta semana. Conduzida pelo professor e escritor Ricardo Lísias, o seminário ocupará a Casa da Palavra, em Santo André, no próximo sábado. A entrada é franca.

Linda Hutcheon é daquelas que ignoram a existência de um muro que segregue arte e sociedade. Sob a meia-luz do pós-modernismo, pernas históricas e braços artísticos se confundem num leito só.

O ponto de partida de sua análise é a literatura, mas com aplicações possíveis para além da capa dura. Entre suas grandes contribuições está o estudo sobre o novo romance histórico, por ela classificado de metaficção historiográfica. Diferentemente do romance histórico que fez a festa ao fim do século XIX – e cujas linhas eram absorvidas como verdade, como testemunho incontestável dos fatos –, essa nova modalidade sustenta-se nas versões. Não existem verdades monolíticas, apenas relatos (quando não reinvenções da história) que têm o panorama histórico como pretexto ou cenário. Possível exemplo está na recente controvérsia em torno de O Código Da Vinci, que reinterpreta a "maior história de todos os tempos" a partir da fêmea (Maria Madalena), representante de uma minoria social que assim persistiu ao longo dos séculos.

Esse desvio de perspectiva acarreta, junto aos julgamentos éticos, a transferência de relevância na narrativa (não coincidentemente, procedimento que se repete tanto na transmissão da história com H maiúsculo quanto na literatura e no cinema). Antes, os relatos históricos eram associados a alguma espécie de autoridade, fosse ela destreza artística ou o lastro de órgãos oficiosos. Hoje, a pluralidade e a multiplicação dos pontos de vista pulverizaram a documentação do tempo e do espaço em que se vive, sem necessariamente a pretensão de ser assim ou assado. Há variações sobre o mesmo tema: as desventuras de um mendigo acampado sob uma marquise será igualmente um registro do mundo atual quanto a biografia de um chefe de estado. Entre os brindes da pós-modernidade estão os benefícios da dúvida e do palpite.

Os Seminários Avançados sobre a Pós-Modernidade são uma iniciativa conjunta da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Santo André, da Escola Livre de Literatura e da Casa da Palavra, com apoio do Diário. O texto de orientação dos seminários, publicado às terças no jornal impresso, permanece disponível para consulta ao longo da semana no site do Diário.

Seminários Avançados sobre a Pós-modernidade – Sábado (27), das 15h às 18h, na Casa da Palavra – praça do Carmo, 171, Santo André. Tel.:4992-7218. Entrada franca. Até 1º de julho.




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