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Desmatamento chega
ao limite no Grande ABC

Trechos de Mata Atlântica preservada estão em locais de
difícil acesso; desflorestamento está estável desde 2008

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
30/05/2012 | 07:00
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A falta de áreas de Mata Atlântica intactas e passíveis de serem exploradas, seja pela dificuldade de acesso ou por estarem protegidas por leis ambientais, faz com que o índice de desmatamento do Grande ABC tenha chegado perto do limite. Apesar de a região concentrar cerca de 35% de remanescentes florestais deste tipo de bioma, o desflorestamento tem se mantido estável desde 2008 entre as sete cidades.

Os dados integram levantamento divulgado ontem pela Fundação SOS Mata Atlântica e Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), referente ao período de 2010 a 2011. Na região, há aproximadamente 28,8 mil hectares de floresta nativa, o equivalente a 28,8 mil campos de futebol.

Entre as cidades que concentram maior percentual de área de Mata Atlântica está São Bernardo, com 43,5%. O município é seguido por Rio Grande da Serra (41%), Santo André (35,4%), Ribeirão Pires (26%), Mauá (9,9%) e Diadema (2,5%). Já São Caetano não possui mais nenhum hectare de cobertura nativa.

Os números seguem tendência observada na pesquisa anterior, referente ao período de 2008 até 2010, quando o desmatamento se manteve estável. Já o estudo relacionado aos anos de 2005 até 2008 apontou corte de 139 hectares, devido à construção do Trecho Sul do Rodoanel.

A coordenadora do atlas pela SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota, explica que há cada vez menos áreas de remanescentes florestais para serem exploradas, e esse é um fator importante que inibe o desmatamento. "Estes espaços estão dentro de parques ou em APPs (Áreas de Proteção Ambiental). É difícil acessar esses espaços. E também há a fiscalização", diz.

Já o especialista em Direito Ambiental Virgílio Alcides de Farias aponta para o fato de a mata nativa da região estar concentrada na encosta da Serra do Mar, espaços de alta declividade, o que dificulta a instalação de infraestrutura para a ocupação de famílias. "Além disso, há consciência ambiental maior nas comunidades, que passaram a denunciar as invasões", destaca.

O professor do curso de Gestão Ambiental da FSA (Fundação Santo André) Murilo Valle lembra ainda que o dado poderia melhorar, tendo em vista a recomposição vegetal induzida ou natural com espécies nativas. "Apesar de lento, este processo pode trazer resultados positivos", comenta.

Minas e Bahia lideram ranking negativo

Em âmbito nacional, a Mata Atlântica perdeu 13.312 hectares de área em um ano. O número corresponde a espaço de 133 km², segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. O Estado de Minas Gerais liderou o desmatamento, com 6.339 hectares, seguido pela Bahia, que apresentou desflorestamento de 4.686 hectares.

O ritmo de desmatamento é inferior ao registrado no estudo anterior, quando houve perda de 31.195 hectares. Apesar disso, a Mata Atlântica é o bioma mais ameaçado do Brasil. Restam apenas 7,9% de remanescentes florestais em fragmentos acima de 100 hectares.

Em relação aos municípios, o destaque ficou por conta do considerado Triângulo do Desmatamento, entre Bahia e Minas Gerais. A explicação é simples, segundo o diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani. "Há pressão forte por parte dos ruralistas, das indústrias e da expansão urbana. Nas regiões mais ricas, como Sul e Sudeste, há maior estrutura de fiscalização", diz.

No Estado de São Paulo, o município de Ilhabela, no Litoral Norte, é destaque positivo. A cidade possui 80% de cobertura vegetal nativa da Mata Atlântica. Segundo Mantovani, o dado não é negativo por esta ser uma ilha em região acidentada e, portanto, de difícil exploração.

A tendência é que o Litoral Norte paulista sofra consequências com a duplicação da Rodovia dos Tamoios e com a construção do Porto de São Sebastião.




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