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Comércios ao redor de universidades e escolas sentem o peso da crise

Copiadora contabiliza queda de 90% no faturamento; sem aulas, restaurantes sofrem

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
25/06/2020 | 00:08
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Já são aproximadamente 100 dias de recesso escolar determinado por causa da pandemia da Covid-19 nas escolas e universidades da região. Como resultado, os comércios e restaurantes que dependem da comunidade escolar por estarem nas proximidades sofrem as consequências, com queda no faturamento de até 90%. Nem mesmo a flexibilização serviu de alívio.

Em Santo André, entre os bairros Bangu e Santa Terezinha, nas proximidades de vias importantes como Avenida dos Estados e Rua do Oratório, os comércios sentem a retração. Isso porque, além do campus da UFABC (Universidade Federal do ABC) a região abriga escolas particulares e públicos, como a EE Amaral Wagner e a EE Oscavo De Paula e Silva.

A Eco Brasil Copiadora teve queda de 90% no faturamento e, de acordo com o proprietário, Adriano Ament, os valores voltaram para os mesmos patamares de 2009, quando ele abriu o estabelecimento. “O ano passado foi muito bom para nós, então trocamos todo o maquinário e ampliamos a estrutura da loja. Ninguém imaginava que ia acontecer isso. Costumo dizer que estamos vivendo uma maré lenta, sinto como se tivesse acabado de abrir a empresa, é um recomeço”, disse.

Para ele, a reabertura gradual do comércio, na última semana, ainda não fez muita diferença no movimento. “A maioria dos nossos clientes é formada pelo pessoal da universidade e de cursinhos preparatórios. Nós também estamos localizados na mesma rua do Colégio Ideal. Anteriormente, nós atendíamos média de 200 pessoas por dia no balcão, mas agora geralmente não passa de três a cinco.”

Durante o período, a saída foi um serviço de retirada, no qual o cliente faz o depósito e manda os arquivos, só retirando o documento. Ament também precisou demitir nove funcionários. “Hoje, só temos eu e mais um. Infelizmente, a folha de pagamento era uma despesa alta. Digo que graças a Deus só não fecho porque aqui é meu, o gasto de aluguel já é um custo a menos.”

No mesmo bairro, o Restaurante Três Pássaros também enfrenta problemas. “Perdi 90% dos clientes, sendo que só a universidade representava 70%. Não fazia delivery e tive que passar a fazer por meio de aplicativo para manter o local aberto”, disse o proprietário Alexandre Alves. “Costumo dizer que estamos vivendo um dia após o outro.”

Fundado em 1996, o Tiozinhos Hot Dog funciona em um trailer em frente à EE Celso Gama, na Vila Assunção, é bem procurado por alunos da unidade. Mas metade da clientela diária também é composta por estudantes de escolas particulares. Devido à suspensão das aulas, o trailer se mantém fechado. A saída, então, foi sobreviver das entregas feitas pela loja, que fica no mesmo bairro, segundo o fundador do negócio, Antonio Martins, o Tiozinho. “A crise vinha desde ano passado, mas essa foi a pior, por não podermos trabalhar.”

Outro negócio que tem sofrido os efeitos da pandemia é o Restaurante Fogão de Minas, na Rua do Sacramento, via onde fica também a Universidade Metodista, no Rudge Ramos, em São Bernardo. Naquela área também está instalado o Colégio Metodista.

“Tivemos queda de 80%. O meu negócio sempre foi o salão, mas com a pandemia tivemos de recorrer às entregas. Entramos nos aplicativos, contratamos motoboys e usamos panfletos para fazer a divulgação”, contou o proprietário, Fernando Mota .

Mesmo com a expectativa de retomada das aulas, prevista pelo governo do Estado para setembro, o empresário não está tão otimista. “Até temos esperança, mas essa data pode mudar de novo. O meu maior movimento é do pessoal da universidade, que ainda não tem data de retorno. Hoje estou vendendo cerca de 20% do que vendia”, disse.

Localidade prejudica no momento atual

Para representantes e especialistas, o segmento acaba sendo mais prejudicado por causa da localização em relação ao comércio das regiões centrais das cidades, ou daqueles que não têm público segmentado – como das instituições de ensino, no caso. A revisão de fases por cidade no Plano São Paulo, responsável pela flexibilização, está prevista para ser anunciada amanhã pelo governo do Estado. Agora, a preocupação das entidades de classe é que o Grande ABC vá para a Fase 3 (a amarela).

“Aquele que já usava o delivery manteve o negócio dele assim, mas para quem começou agora é ainda mais difícil por causa do grande número de restaurantes que estão nas plataformas”, disse o presidente licenciado do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC), Beto Moreira. Segundo ele, para estes negócios, a volta do cliente está diretamente ligada ao retorno das aulas. “Até tem pessoas dentro destas instituições, fazendo a manutenção, por exemplo, mas é um número ínfimo comparado ao do dia a dia normal. Enquanto as coisas não voltarem à normalidade será difícil”, disse ele, ao destacar que as cantinas são ainda mais afetadas dentro do segmento.

A situação pode piorar caso a região volte uma fase no plano de flexibilização. O presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), Pedro Cia Júnior, afirmou que o efeito seria “desastroso” para a região como um todo. “A manutenção já seria ruim, mas voltar de fase seria péssimo. A expectativa é ir para a fase amarela para ampliar um pouco o horário do comércio (hoje são quatro horas).”

“O empresário tem feito a lição de casa. A população também precisa ser consciente e só sair se for preciso. Ainda não é hora de passear”, disse o presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), Valter Moura.  




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