Dois anos depois, ele havia terminado o único romance que escreveu e concluído a epopéia pela língua portuguesa que colocou Grande Sertão: Veredas entre as maiores obras da literatura universal contemporânea. Há duas semanas, Grande Sertão: Veredas foi o único livro brasileiro a constar em uma lista publicada pelo jornal inglês The Guardian sobre as 100 melhores obras do século XX. A relação foi feita por 100 escritores convidados a indicar os melhores livros do século passado.
Na saga do ex-jagunço Riobaldo, que narra sua relação com Diadorim, suas guerras com homens, Deus, o diabo e os sentimentos humanos, estão presentes locais visitados por Rosa na travessia do cerrado mineiro. A Fazenda da Sirga, ponto de partida da viagem, aparece em Grande Sertão como o lugar onde Riobaldo passou a infância.
O capataz da boiada que o escritor acompanhou durante os dez dias era Manuel Nardi. Sobre ele, Rosa escreveu o conto Manuelzão, no qual narra a história da construção de uma capelinha em homenagem à mãe de Manuel e a festa da inauguração. A primeira vez em que foi publicado no livro Corpo de Baile, o conto sobre a história de Manuelzão era chamado de Uma História de Amor. Antes de sair com a comitiva, Rosa ficou 35 dias na Fazenda da Sirga.
De acordo com depoimentos feitos por Manuelzão, antes de começar a viagem com a boiada, Rosa pediu para que arranjassem no caminho velhas contadeiras de história, tocadores de viola, de pandeiro e cavaquinho e pessoas “antigas”, com histórias reais sobre fatos acontecidos no passado. Nascido em Cordisburgo em 1908, no norte Minas, Rosa se formou em medicina e seguiu carreira como diplomata, trabalhando em vários países da Europa. Morreu em 19 de novembro de 1967, três dias depois de tomar posse na Academia Brasileira de Letras.
Para o professor de literatura brasileira da Faculdade de Letras da USP (Universidade de São Paulo) Luiz Roncari, a viagem pelo cerrado de Minas Gerais só reforçou o conhecimento que Rosa acumulou durante toda a vida sobre a cultura e os costumes do povo mineiro e para dar uma base real e concreta à obra de ficção do escritor. “A viagem só veio complementar uma base sólida que ele já tinha”, afirma Roncari. Na longa narrativa feita por Riobaldo em Grande Sertão, o ex-jagunço sentencia que “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.
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