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Som além do visual
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
10/05/2010 | 07:02
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Quando o Fresno passou a fazer parte da discografia básica dos adolescentes fora do Rio Grande do Sul, o visual dos integrantes era o principal tema das resenhas sobre a banda. As calças ajustadas e os cabelos lisos cortados de maneira assimétrica eram basicamente o mote que muitos críticos preferiam seguir para justificar a implicância com o som emo e, logo, destinado apenas a uma parcela de adolescentes de visual semelhante.

Desde o mês passado, porém, o vocalista e guitarrista do grupo gaúcho, Lucas Silveira, 26 anos, tem recebido apenas críticas positivas sobre sua música, agora em formato solo, no projeto paralelo Beeshop, em que canta apenas composições próprias em inglês. "Acho que finalmente deixou de ser novidade o nosso estilo. Surgiram outras bandas com outro visual. E agora podem reparar no som que a gente faz", pondera.

The Rise and Fall of Beeshop (Universal, R$ 24,90), o primeiro álbum, ocupa hoje o espaço das boas surpresas do mercado fonográfico. "Me sinto um pouco vingado. As pessoas achavam que tudo que sou capaz de fazer estava dentro de uma banda", admite.

Mas a desforra é o último dos sentimentos que o músico tem buscado privilegiar neste ótimo momento. "Saiu numa hora boa. Mesmo quem não gosta da Fresno (no Rio Grande do Sul, os grupos musicais são chamados assim, no feminino) chegou para ouvir. Isso é muito significativo a três meses de lançamento do novo CD da banda. Para mim foi uma vitória", comemora. Coincidência ou não, o álbum do Fresno, em fase de mixagem, já tem um nome bem sugestivo para a fase: Revanche.

A alcunha Beeshop - corruptela do sobrenome Bishop - foi escolhida por um motivo bem mais singelo do que se pode imaginar. "Acho meio brega colocar num álbum solo", ri. "Tem muita banda de um cara só que tem outro nome. É o caso do Dashboard Confessional e do City and Colour, que são bandas que gosto bastante", lembra.

Apesar do gosto de novidade, Lucas assumiu a faceta Beeshop há certo tempo. E isso os fãs antigos já sabiam, já que as músicas eram postadas no MySpace. "Sempre compus essas músicas em inglês. Tudo o que não tinha a cara da Fresno, eu ia colocando no Beeshop", afirma. O que era um projeto acústico acabou se transformando ao longo do tempo. Lucas introduziu piano (caso de Come and Go) e naipes de metal que remetem ao jazz, como em Lovers are in Trouble, que também tem boa base de piano.

O resultado é um disco bem pouco coeso, mas que colabora para deixar à mostra a riqueza dos arranjos de cada uma das canções. Os vocais também estão mais amadurecidos e o compositor não faz feio no inglês. "Foi tudo mais espontâneo. Fiz exatamente o que gostaria de fazer na hora, justamente porque não tinha compromisso algum", diz ele, nascido no Ceará e criado em Porto Alegre (Ceará também é o seu apelido entre os amigos mais antigos).

As letras são em sua maioria sobre amor e momentos bastante confessionais. I Was Born in the 80's, retrospecto divertido sobre infância/adolescência é das únicas que fogem ao tema romântico. Pop de qualidade para os dispostos a ultrapassar os preconceitos.


Referências bem-sucedidas

Alguém aí já ouviu falar em Further Seem Forever? E em Alexisonfire? Se não um ativo pesquisador da cena emo do fim dos anos 1990, é provável que ninguém saiba responder. Foram dessas bandas que nasceram, respectivamente, os projetos solo Dashboard Confessional e City and Colour, que Lucas Silveira, do Fresno, cita como entre suas preferências e que, a exemplo do que acontece com seu Beeshop, conseguiram atrair atenção fora das paradas adolescentes.

Criado pelo canadense Dallas Green, o City and Colour conquistou também os fãs do folk rock. Se a Alexisonfire é relacionada a uma lista de bandas pós-hardcore de rapazes de calças justas e tatuagens coloridas, o trabalho de seu vocalista se relaciona principalmente ao movimento de barbudos do folk rock, como os norte-americanos William Fitzsimmons, Justin Vernon (‘dono' da Bon Iver) e Sam Bean (que também responde pela alcunha Iron & Wine).

Sem os companheiros emo, Green faz letras bem confessionais e consegue mostrar com mais clareza seus dotes como violonista. A ‘brincadeira' começou em 2004, quando lançou um EP. No ano seguinte, mais um disquinho e um álbum completo, batizado de Sometimes. O segundo, Bring Me Your Love, é de 2008. O trabalho foi agraciado com um Juno, principal prêmio musical no Canadá.

Dividido ainda entre as duas vertentes, até o visual de Green fica lá e cá: as calças apertadas continuam, acrescida da barba espessa dos colegas do folk melódico. Quando se apresenta como City and Colour, também costuma cobrir com golas fechadas e mangas compridas as inúmeras tatuagens que tomam peito, braços e mãos. Seria para marcar a diferença de imagem?

Se a Alexisonfire só tem lucrado com a atenção extra que a carreira paralela de seu vocalista trouxe, a Further Seems Forever, nascida na Flórida no fim dos anos 1990, não pode dizer o mesmo. Chris Carrabba criou o Dashboard Confessional em 2000, numa brecha de sua banda oficial.

O projeto acústico deu tão certo que ele deixou o Further Seems Forever já em 2001, pouco depois do lançamento do primeiro álbum. Desde 2002, é acompanhado mais ou menos pelos mesmos músicos: John Lefler (guitarra e piano), Scott Shoenbeck (baixo) e Mike Marsh (bateria). Em dez anos de carreira, Carrabba já lançou seis discos. A antiga banda? Não existe mais desde 2006. (Ângela Corrêa)




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