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Batendo asas

Cultuada banda psicodélica de Pernambuco,Ave Sangria lança disco após 45 anos

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
19/05/2019 | 07:11
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Flora Negri/Divulgação


O pássaro está solto. Nos anos 1970, em Pernambuco, um grupo de jovens músicos conseguiu registrar em disco um punhado de canções que tinham em sua receita poesia, guitarras ácidas de rock, psicodelia e som regional. Esse conjunto, assim como o disco, leva o nome de Ave Sangria.

Agora, após adormecer por 45 anos, o conjunto ressurge como uma fênix e coloca seu segundo disco de estúdio no mercado. Vendavais (Sun7) ganha vida ilustrado por 11 canções inéditas e que foram escritas entre 1969 e 1972, guardadas até então a sete chaves no baú da banda. O álbum pode ser conferido nas plataformas digitais. Para quem gosta de disco de vinil, há uma vaquinha digital em andamento para prensagem do mesmo pelo link www.catarse.me/ave_sangria.

Ave Sangria retoma a vida formada por três de seus integrantes originais: Marco Polo (voz), Almir Oliveira (guitarra e voz) e Paulo Rafael (guitarra e viola). São acompanhados por Juliano Holanda (contrabaixo), Gilu Amaral (percussão) e Júnior do Jarro (bateria).

E por essa volta nem o próprio cantor esperava. “Sou um homem sem nostalgias, vivo inteiramente no presente. Por isso, não pensava que íamos voltar”, diz. Segundo ele, a volta aconteceu porque os jovens descobriram o disco de estreia do grupo pela internet. “Houve uma identificação imediata por causa da nossa postura rebelde e crítica. Nossas letras surrealistas se prestam a muitas interpretações, é uma obra aberta, e eles viram ali o que procuravam”, explica.

“É uma espécie de continuidade do nosso trabalho, como se não tivesse acontecido o tal hiato de 45 anos”, diz Marco Polo, sobre Vendavais. Há nele entretenimento, mas também críticas social, moral e política, como de praxe no trabalho da Ave Sangria. Claro que com o tom poético já conhecido da banda. “Tudo mais ou menos cifrado, sem panfletarismo ou partidarismo. Letras instigantes, melodias criativas, arranjos elaborados, tudo marca do nosso trabalho. Como estou me sentindo? Como se todo o exílio estivesse apagado”, diz.

E ao entrar em estúdio, com canções escritas há mais de quatro décadas e com uma banda que não grava pelo mesmo tempo, os artistas conseguiram fazer com que tudo soasse atual, mas sem perder toda a originalidade conhecida.

Tanto que em canções como Dia a Dia, Sete Minutos, Silêncio Sagrado, O Poeta, na delicada O Marginal, e na psicodélica Em Órbita parece que o tempo nunca passou para o grupo. “Quisemos manter a sonoridade da banda, que é uma marca forte no nosso trabalho. Mas estávamos abertos às contemporaneidades”, diz o compositor. “A alma e a essência estão preservadas”, frisa.

Marco Polo conta que retomar a banda foi algo natural e que a química foi perfeita. “Sempre tivemos um relacionamento que ia além da música. Era um relacionamento pessoal, de amigos, de irmãos. Estávamos (e estamos) no mesmo barco, lado a lado. Até porque, a época em que vivemos, durante a ditadura militar, nos aproximava fortemente uns dos outros. A música era a liga que nos unia, então foi muito fácil retornar à estrada e aos palcos. Fluiu naturalmente.”

Segundo o cantor, o reencontro com o público nos palcos tem sido fantástico. E a maioria, segundo ele, é formada por jovens. “Gosto de conviver com eles. São estimulantes”, diz. Com a banda traçando novos voos, os artistas já pensam em alçar outras rotas. Mas tudo vai depender da resposta do público a este novo trabalho. “Pelo que temos visto até agora as chances são muito fortes”, afirma o cantor.

Sobre como seria um próximo disco, agora com temas escritos atualmente, Marco Polo não faz a menor ideia. “A gente não se programa. Segue a espontaneidade. Certamente alguma coisa deve permanecer, mas outras serão acrescentadas. Afinal, mudou o mundo e nós também mudamos.” 




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