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'Máfia do Óbito': Maurílio depõe nesta terça-feira na polícia
Renan Cacioli
Do Diário do Grande ABC
02/08/2005 | 08:28
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O dono da funerária São Paulo e ex-diretor-superintendente do Secom (Serviços Comunitários Municipais) da Prefeitura, Maurílio Teixeira Martins, depõe nesta terça-feira na Polícia de São Caetano, em inquérito que investiga a atuação da "Máfia do Óbito". A empresa foi palco da negociação para compra de atestado de óbito falso, assinado pelo médico Eduardo Agostini. Segundo Adilson da Silva Aquino, delegado titular da cidade, Agostini poderá ser indiciado por falsidade ideológica ainda nesta semana. Nesta segunda-feira, foi a vez do gerente da funerária São Paulo, Pedro Azevedo Gazani, falar à polícia.

Para esta terça-feira à tarde, porém, a expectativa ao interrogatório não é das mais animadoras. Se seguir a mesma linha do colega de trabalho, Maurílio dificilmente abrirá o jogo. Bastante nervoso no depoimento desta segunda-feira, Pedro Azevedo Gazani iniciou a primeira resposta do interrogatório afirmando que tudo aconteceu muito rápido e que ele apenas falaria sub judice, frustrando, assim, as aproximadamente 12 perguntas que o delegado Adilson preparou para o depoimento.

"Isso é normal, depende da linha de defesa adotada", afirmou Adilson após o término do interrogatório. E acrescentou: "É questionável, tem quem ache melhor (não falar), mas eu não vejo dessa forma. Se você falar a sua versão desde o início, é mais convincente", ressaltou o delegado.

Ao lado do advogado José Vilmar da Silva, Pedro limitou-se a declarar dados básicos. O gerente da funerária é nascido em Caruaru, Pernambuco, e tem 39 anos. Disse ter estudado até a sétima série do primeiro grau e que trabalha há um ano e quatro meses como "gerente e agente funerário" do estabelecimento em São Caetano, recebendo um salário mensal de R$ 632.

Jogo-da-velha – Em meio ao nervosismo do depoente, que chegou 20 minutos atrasado na delegacia, quem aparentava maior tranqüilidade era seu advogado. Em determinado momento do interrogatório, José Vilmar da Silva rabiscava num pedaço de papel um jogo-da-velha entre ele e ele mesmo. Após o gerente da funerária responder que só falaria sub judice, Vilmar fez um aceno positivo com a cabeça para seu cliente.

Especula-se que Vilmar representará também o dono da funerária São Paulo, Maurílio Teixeira Martins. Ao ser questionado pela reportagem do Diário, o advogado disse que o sigilo profissional lhe possibilitava não declarar se a informação era verdadeira ou não. Mas o delegado-titular Adilson da Silva Aquino relatou que fez a mesma pergunta a Vilmar e este respondera-lhe que "provavelmente sim."

Testemunha – Além de Pedro Gazani, a Polícia ouviu nesta segunda-feira à tarde outro funcionário da funerária São Paulo, Antonio Carlos Sanchez Martin, conhecido como Toninho, e que fez o primeiro contato com o Diário no dia da apuração de como funcionava o esquema de venda de documento falso.

Toninho, que ao contrário de Pedro não esteve na delegacia como interrogado, mas sim, testemunha, afirmou morar na funerária há cerca de um ano, recebendo R$ 300 mensais para cuidar do prédio: faz faxina, limpa os carros e realiza o primeiro atendimento aos clientes, repassando-os, em seguida, aos cuidados do gerente. Ele disse também não saber do esquema de venda de atestados falsos, e que conhece o médico Eduardo Agostini "porque ele foi vereador de São Caetano."

No dia 20 de julho, o Diário comprovou a ação da "Máfia do Óbito" após obter declaração de óbito falsa assinada pelo médico Eduardo Agostini, por R$ 200. O primeiro passo foi procurar a funerária São Paulo. No local, foi realizada toda a negociação, inclusive o pagamento.

Após retirar o documento em branco no PS Municipal, o gerente da funerária, Pedro, foi direto à casa de Eduardo Agostini. Já na residência do médico, o Diário registrou, por meio de gravação, a conversa com o cardiologista, que confirmou praticar a irregularidade.

A história criada pelo Diário era de que Carlos Rodrigues (identificado como tio do repórter) havia morrido naquele dia em uma chácara em Ribeirão Pires. Na verdade, Rodrigues faleceu em 4 de agosto de 1993, portanto, há quase 12 anos. A denúncia foi publicado no dia 27 de julho. Eduardo Agostini também foi indiciado pela polícia de Santo André, no ano passado, por falsificar delcaração de óbito. De acordo com o delegado Marcelo Bianchi Fortunato, que presidiu o inquérito contra o médico, a ação da "Máfia do Óbito" não se limita apenas a agir em São Caetano e possui integrantes nas outras seis cidades da região.




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