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Hugh Jackman é cotado para ser novo James Bond
Elvis Mitchell
The New York Times
23/11/2003 | 17:01
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À medida que 2003 chega ao fim, a expressão “vencedor do Oscar” aparece mais freqüentemente nos anúncios de filmes, as capas de todas as revistas estampam um olhar atraente de Tom Cruise, e começam as apostas anuais sobre quem será o próximo James Bond. Essa questão tem peso maior agora. Os estúdios MGM acabaram de lançar uma série completa dos filmes de 007 em DVD; Pierce Brosnan declarou que está pronto para seguir adiante depois do próximo filme de Bond, o 21º (a ser rodado em 2005); e a proposta de Halle Berry voltar como Jinx, a sensual agente secreta de Um Novo Dia Para Morrer, foi descartada.

Bond terá outra definição, apesar de não ser perfeita como a releitura feita no fim dos anos 80, quando Timothy Dalton – possivelmente o melhor ator que interpretou Bond – obteve um mandato não-prazeroso. O hedonismo anterior do personagem pareceu desagradável nos primeiros vislumbres da Aids na mídia. Assim, Dalton despojou seu carisma com um Bond melancólico, induzido e monogâmico, tão confiável que parecia um impostor.

O mais cotado para ser o sexto 007 da lista – Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton e Pierce Brosnan – é Hugh Jackman, cuja presença forte e briguenta faz Wolverine parecer um personagem da vida real nos filmes X-Men e, mais do que isso, convenceu os fãs de quadrinhos. Clive Owen, cuja impulsividade chocante o levaria a ser o primeiro candidato, parece fora da disputa. O talento físico de Jackman mostra que ele pode incorporar a veia viril, pré-requisito de Bond.

Roger Moore pode ter sido o único Bond que nunca pareceu ter perdido uma noite de sono – ele parecia estar cochilando, mesmo durante Octopussy. Na minha opinião, a melhor escolha para substituí-lo era David Bowie, cuja malícia era próxima ao Bond descrito nas histórias. Sua voz agradável e perolada regularmente contrastava com um espaço diabólico entre seus dentes tortos quando sorria, e ele poderia facilmente interpretar a elegância predatória. Imagine Q mantendo distância segura enquanto demonstra os últimos armamentos... Mais recentemente, escutou-se Sharon Stone limpar sua garganta, apesar de o som não ter se propagado o suficiente para ser registrado – ou foi educadamente ignorado. Poderia ter feito dela uma opção atraente para o papel de Bond pois daria ao personagem algo não familiar – uma risada.

Na década de 80, os heróis de ação como Mel Gibson e Bruce Willis – que suavam para salvar o mundo, ou, pelo menos, as regiões onde viviam – começaram a suplantar James Bond e seus acessórios de alta tecnologia. Os produtores dos filmes de 007 se deram conta de que o complexo de inferioridade norte-americano não era mais uma parte importante dos filmes de ficção.

Quando os filmes de Bond pareciam qualificar-se para a seção de objetos antigos de sites de leilão na internet, Brosnan teve sua chance. Ele conquistou o papel na abertura da seqüência de Goldeneye. Durante uma cena importante, ele liga um dispositivo enquanto um edifício próximo explode, e hesita brevemente – uma demonstração de indiferença de um homem de ação, o equivalente a pálpebras calejadas – mas continua montando sua bomba. Postura própria ao papel que, aliás, lhe fora oferecido antes, mas os compromissos com Remington Steele, um seriado de TV que o fez parecer uma fruta de cera, forçou-o a recusar o convite. Ao deixar a TV antes de ficar vesgo com as voltas do enredo, mostrou hábil julgamento.

No entanto, a inclusão de Jackman na lista de Bonds provavelmente significa resfriar o martini de Ian Fleming do passado. Fleming, o criador de 007, era elitista – seus livros estão recheados da atitude delicada e protetora de um homem que vivia sob a ilusão de que o sol nunca se punha no império britânico. Suas preferências diletantes por tecidos, licores e tabaco fazem seus livros parecerem catálogos de presentes. O que o meticuloso Fleming acharia do escocês Connery, do irlandês Brosnan, do galês Dalton e – que a rainha nos ajude! – do australiano Jackman e seu conterrâneo Lazenby? Ele não teria se importado em erguer os olhos se um deles lhe servisse um drinque, não teria achado nenhum deles qualificado. Depois, nos livros, como tributo à contribuição de Connery à figura de Bond, o autor daria a 007 um pedigree escocês.

Uma escolha apropriada, e tão qualificada como a de Jackman, seria Chow Yun Fat – alternativa certa para o século XXI –, cuja urbanidade sombria e profunda também daria a Bond uma característica natural que ele poderia usar tanto quanto uma risada: um coração.




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