Londres literalmente pegou fogo depois que Mark Duggan, 29 anos, foi assassinado por policiais sem justificativa no dia 4 em Tottenham, periferia da capital inglesa. A morte do rapaz pobre e negro foi o estopim para duas semanas de conflito intenso. No entanto, as causas reais do episódio são outras.
Acredita-se que quase a metade dos milhares de manifestantes eram jovens, alguns tinham menos de 12 anos. O dado reflete a realidade enfrentada por eles. A Europa ainda não conseguiu se recuperar da grande recessão econômica, iniciada em 2008. Assim, na prática, quem iria se aposentar não o faz. O mercado de trabalho, então, absorve menos pessoas, tornando-se cada vez mais competitivo. Resultado: taxas altíssimas de desemprego juvenil.
Para se ter noção, um a cada cinco jovens entre 16 e 25 anos na Europa não tem trabalho; calcula-se que sejam 5,5 milhões. A Espanha é o país com um dos piores números: 40,5% (quatro em cada dez) desse público encontra-se nesta situação. Grécia (36%) e Itália (29,6%) enfrentam desafio bem semelhante. No Brasil, a taxa entre a galera de 18 a 24 anos chegou a 15% em abril.
Isso tudo sem contar os cortes de recursos para Educação, Cultura e Assistência Social, que geraram insatisfação, principalmente das classes menos favorecidas, contra o governo. Os protestos e o quebra-quebra - de quem não tem voz política - foram a forma encontrada para chamar a atenção das autoridades. Entretanto, nada justifica a violência. O vídeo no YouTube em que Pauline Pearce, 45, briga com saqueadores tornou-se emblemático. "Caiam na real. Façam isso por uma causa", disse.
Nos países desenvolvidos, as desigualdades sociais e a distância entre ricos e pobres têm aumentado nos últimos anos. A classe média está empobrecendo. Para os jovens, é difícil aceitar o fato de ter uma vida pior do que a dos pais. Isso não tinha ocorrido desde o fim da 2ª Guerra Mundial. A economia ainda deve demorar alguns anos para se recuperar. Por enquanto, as perspectivas não são otimistas.
Situação no Brasil é mais favorável - O jovem brasileiro pode sonhar com futuro promissor. Embora haja desemprego, os impactos da crise econômica afetam o País com menos intensidade. Ainda há muito espaço para desenvolvimento. Isso não significa, porém, ausência de problemas. Violência e outros aspectos sociais ainda assombram.
Enquanto aqui ninguém se rebela, jovens de outras nações saem às ruas no mundo todo. Desde maio, estudantes chilenos fazem manifestações para pedir a reforma da Educação. E quem não se lembra das revoltas árabes no início do ano? Ocorreram depois que Mohammed Bouazizi, 26, ateou fogo no próprio corpo para protestar contra abusos de autoridades. O ato levou outros à luta. Milhares tomaram a Praça Tahrir, Cairo, para exigir a renúncia do presidente Hosni Mubarak, que governou o Egito por 30 anos; o que de fato ocorreu.
As redes sociais têm papel fundamental nesse fenômeno. O primeiro ministro britânico David Cameron até cogitou bloqueá-las - inclusive mensagens via celular - por serem usadas para organizar protestos em Londres. Um erro. Afinal, não se pode calar ainda mais aqueles que precisam ser ouvidos.
* Consultoria de Marcus Vinicius de Freitas, professor de Relações Internacionais da Faap
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