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Região elege um prefeito e dez vereadores negros

Claudinho é o único entre os chefes de Executivo eleitos; nos legislativos, número praticamente continua

Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
20/11/2020 | 00:22
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O Grande ABC elegeu um prefeito e dez vereadores negros na eleição de domingo, números superiores à atual legislatura, mas que mantêm aquém a igualdade de representatividade de cargos políticos na região. Hoje, as sete cidades não contam com chefe de Executivo declarados pretos. Entre os 142 vereadores, nove são negros. O índice de parlamentares pretos subiu de 6% para 7%. E, paradoxalmente, Rio Grande da Serra, cidade que elegeu o negro Claudinho da Geladeira (Podemos) como prefeito, só terá brancos e pardos na Câmara a partir de 1º de janeiro.

Os outros quatro prefeitos eleitos no domingo são brancos. Dos 142 parlamentares, 87 são brancos (61,3% do total) – há 43 pardos e dois amarelos.

No Grande ABC, São Bernardo é o município que reúne mais vereadores que se consideram negros: Ana Nice (PT), Lucas Ferreira (DEM) e Eliezer Mendes (Podemos). Compõem a lista regional Evilásio Santana, o Bahia (DEM-Santo André), Suely Nogueira (Podemos-São Caetano), Lilian Cabrera (PT-Diadema), Ricardinho da Enfermagem (PSB-Mauá), Samuel Enfermeiro (PSB-Mauá), Anderson Benevides (Avante-Ribeirão) e José Nelson Paixão (Patriota-Ribeirão).

“Realmente, 7% é número muito pequeno na proporção de negros e negras do Grande ABC. Isso é resultado de diversos impedimentos que ainda existem para que homens e mulheres negros cheguem aos espaços de poder, apesar de alguns avanços, como as cotas dentro dos partidos”, afirmou Ramatis Jacino, professor de ciências econômicas e ciências da humanidade da UFABC (Universidade Federal do ABC) e integrante do núcleo de estudos africanos e afrobrasileiros da instituição.

O dado mais atualizado sobre o número de pretos no Grande ABC é de 2010, medido pelo Censo. À época, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que 135.298 pessoas se consideravam negras na região – a população à ocasião era de 2.551.328 habitantes. O índice é de 5,3%. Mas o especialista avalia que esse percentual está defasado.

Vereadora recém-eleita por Diadema, Lilian Cabrera se considera afrodescendente mesmo aparentando ser uma mulher branca. Conforme a parlamentar, isso se deve ao fato de ser filha de um homem negro com mulher branca. “Eu sou filha de um homem negro, por isso me intitulo na condição de afrodescendente e no momento de fazer registro de candidatura, eu, que sou da cor branca, mas afrodescendente, por causa do meu pai ser um homem negro, coloco que sou da raça preta. Sei que a luta é grande e que a tarefa pela promoção da igualdade racial é de todos nós, mas o povo negro precisa ter vez e voz”, avaliou Lilian.

Tenho orgulho de ser negro e nordestino, diz Claudinho

Prefeito eleito por Rio Grande da Serra, Claudinho da Geladeira (Podemos) diz ter orgulho de ser negro e afirma que debaterá políticas públicas específicas para a comunidade assim que assumir a cadeira, em 1ª de janeiro de 2021.

“Sou o primeiro prefeito negro da história de Rio Grande da Serra. Tenho muito orgulho de onde vim (é de Recife, no Pernambuco) e do que sou. Estou muito feliz em representar meus antepassados aqui onde cheguei (na chefia do Executivo)”, declarou Claudinho, que tentou ser prefeito em outras duas oportunidades, sem obter vitória.

“O Dia da Consciência Negra (hoje) nos faz lembrar da luta do povo afrodescendente no País. A luta contra o racismo e a desigualdade. É uma data importante, que não deve ser lembrada apenas por ser feriado”, sustentou.

O prefeito eleito também relembrou a descendência nordestina de sua família e afirmou que, provavelmente, a maioria dos moradores da cidade de Rio Grande da Serra deve ser negra ou parda – pelo Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a soma de pardos e pretos na cidade é 22.926 pessoas, 52% da população do município de dez anos atrás.

“Grande parte da minha família é nordestina. Meus avôs e avós. Minha bisavó era índia. Sou mescla de tudo que é o Brasil. Tenho orgulho de tudo isso. É muito bom poder dizer que saí de onde saí, de quando trabalhava arrumando eletrodomésticos e me tornar prefeito da cidade. Minha família faz parte disso tudo”, disse, emocionado.

Antes de chegar à função de prefeito, Claudinho foi vereador por três mandatos, todos pelo PT. Foi no petismo que ele se candidatou à Prefeitura em 2012 e em 2016. O prefeito eleito chegou a ser apontado como o xodó do ex-presidente e maior cacique do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2012. Sete anos depois, deixou o partido e migrou para o Podemos, como forma de se distanciar da legenda, envolvida em denúncias de corrupção, e também com intenção de concorrer à Prefeitura.  




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