O novo coronavírus fez a primeira vítima fatal no Grande ABC no dia 25 de março e, desde então, já matou mais pessoas na região do que os casos de homicídio doloso (quando há intenção de matar) e latrocínios (roubo seguido de morte) em todo o ano de 2019. Segundo levantamento realizado pelo Diário, no ano passado os dois crimes tiraram 178 vidas, enquanto que, em apenas 50 dias, a Covid-19 já matou 290 cidadãos – de janeiro até ontem foram 38 casos de morte decorrentes dos dois delitos (veja tabela ao lado).
De acordo com informações oficiais da Secretaria de Saúde do Estado, assim como os boletins epidemiológicos das prefeituras regionais, a cidade que mais perdeu munícipes para a doença foi São Bernardo, com 102 mortes. Santo André também apresenta número mais alto do que os demais distritos, computando, até ontem, 80 vítimas fatais, seguida de Diadema (39); Mauá (33); e São Caetano (23). Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra ganham vantagem nos números, já que são as cidades com as menores populações do Grande ABC, registrando a baixa de dez e três munícipes, respectivamente.
Já nos dados criminais, Santo André foi a cidade que perdeu mais pessoas no ano passado – somando homicídio doloso e latrocínios –, com 53 vítimas, conforme registros da SSP (Secretaria de Segurança Pública) do Estado de São Paulo. São Bernardo computou 43 mortes, seguida de Mauá (37); Diadema (32); São Caetano (seis); Rio Grande da Serra (cinco); e Ribeirão Pires (quatro). Já em 2018, as sete cidades registraram 204 pessoas mortas pelos delitos – número também menor do que as perdas decorrentes da pandemia neste ano.
Infectologista e professor do curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Fábio Leal avalia que os dados reforçam a relevância do impacto da Covid-19, não somente no Grande ABC, mas em todo o País. “Em período tão curto, a doença foi capaz de matar mais do que homicídios e roubo seguido de morte. Estes números fazem cair por terra, de vez, a ideia de que não é relevante o impacto que esta doença tem quanto as mortes e casos graves na nossa população” comentou o especialista.
Leal reforça que, no início, houve especulação de que o vírus seria como epidemias de gripe. “Antigamente costumava-se dizer que o vírus seria como a Influenza, e não foi. A adição da Covid-19 ao grupo de doenças que já temos normalmente na população causou impacto muito grande na saúde pública e também na nossa sociedade em geral”, disse o infectologista.
Especialista em segurança pública e privada, Jorge Lordello avalia que, diante do contágio rápido da Covid-19, os casos de mortes decorrentes de crimes tendem a diminuir ainda mais neste ano. “A medida de isolamento físico adotada nas cidades leva a prevenir o contágio da doença, mas por si só, esta ação diminui também os índices criminais, porque tem menos gente nas ruas, portanto, há menos vulnerabilidade também.”
Lordello ressalta que crimes contra o patrimônio, ou seja, roubos e furtos – resultantes dos latrocínios –, são os que mais devem cair com as pessoas ficando em casa. “Há menos circulação de carros, tem menos pessoas com celular nas ruas, cai então a facilidade para estes crimes ocorrerem”, explica, ressaltando ainda que os criminosos adaptam suas práticas, alterando os crimes cometidos. “O criminoso migra. Ele vai continuar criminoso, porque não tem opção, já está na vida criminosa. Mas com a sociedade diferente, o indivíduo busca alternativas, mas dentro do crime”, finaliza Lordello.
(Colaborou Raphael Rocha)