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Nossa fábrica foi projetada para os próximos 20 anos, diz dono da Otis
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
30/07/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


A norte-americana Otis Elevadores completa, neste ano, 57 anos no Grande ABC e 112 no Brasil. Em 2013, a companhia investiu US$ 30 milhões na unidade de São Bernardo, a única na América do Sul que fabrica e exporta para todo o continente. Há seis meses, adquiriu divisão de elevadores e escadas rolantes da Mitsubishi no Brasil, por valor não revelado, e projeta horizonte de pelo menos mais 20 anos para a operação da região.

Julio Bellinassi, 45, que ingressou na companhia em 1996, desde 2014 é presidente no Brasil e, em 2016, assumiu comando para a América do Sul. “Entre cinco e dez anos poderemos produzir o dobro do que é feito hoje.” 

Confira a entrevista completa abaixo.

Neste ano, a Otis Elevadores celebra 57 anos de operações no Grande ABC. Como esta história começou?
A Otis, multinacional norte-americana, iniciou as operações no Brasil em 1906, quando instalou o primeiro elevador do País, no Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, na época pertencente à família Guinle e hoje residência oficial do governador do Estado. Até hoje este elevador está em funcionamento e em nossa carteira de manutenção. Nossa história no Brasil, portanto, tem 112 anos. Na década de 1930 instalamos a primeira fábrica de elevadores no País, no Rio, e em 1961 ela foi transferida para Santo André, motivada pela expansão da Região Metropolitana de São Paulo – a verticalização daqui veio depois da do Rio. Em 1991, houve nova mudança, desta vez para São Bernardo, já aqui no bairro Cooperativa, e a matriz da Otis no Brasil veio do Rio para São Bernardo. Até 2013, permanecemos no local. Foi quando começamos a construir esta fábrica nova, que é a matriz da Otis para a América do Sul e possui centro de engenharia e desenvolvimento com torre de testes. Para isso, foram investidos US$ 30 milhões. E, há seis meses, adquirimos a divisão de elevadores e escadas rolantes da Mitsubishi no Brasil (aporte não foi revelado). Ainda temos importante operação no Rio, mas só fabricamos elevadores aqui, de onde exportamos para toda a América Latina.

Quanto da produção local é destinada a outros países?
Hoje mais de dois dígitos, de 10% a 20%. Porém, se compararmos com cinco anos atrás, quando o mercado brasileiro vivia boom imobiliário muito grande, esse percentual era muito menor, menos de 5%.

Quando a economia se restabelecer, a Otis considera rever sua estratégia?
Não vamos diminuir a quantidade de itens exportados, mas ampliar a produção para o mercado doméstico. Esta fábrica foi projetada pensando num horizonte de até 20 anos, então ela está preparada para todo crescimento que o mercado de elevadores ainda terá no Brasil. Acreditamos nesta expansão porque o deficit habitacional no País ainda é muito grande. Esperamos incremento do setor imobiliário vertical nos próximos dez a 15 anos, haja vista que a vocação do mercado brasileiro não é horizontal, é muito mais de apartamentos que casas, ou seja, estamos falando de prédios residenciais que, por sua vez, puxam o mercado de elevadores.

Por isso a opção por fixar a produção da América Latina no Brasil?
Sim. O Brasil representa mais de 50% da demanda por elevadores em toda a América Latina. E a localização em São Bernardo é estratégica porque estamos perto do maior mercado do País – a Região Metropolitana de São Paulo, e a cinco minutos do Rodoanel, da Rodovia dos Imigrantes e a menos de uma hora do Porto de Santos. Também reforça a decisão de permanecer na cidade a preservação da mão de obra, super especializada, com muitos anos de investimento em treinamento e conhecimento. No Brasil são mais de 2.000 funcionários, sendo em torno de 400 em São Bernardo. Afinal, aqui não só replicamos tecnologia desenvolvida em outro país,também desenvolvemos, e temos equipe de engenheiros altamente qualificada, que cria e aprimora produtos.

Quais, por exemplo?
Acabamos de lançar a Porta Inova, que é a substituição da porta de puxar para a automática, cujo pacote de modernização foi desenvolvido aqui. O Gen 2, elevador com cintas, sem casa de máquinas e que não usa óleo lubrificante para manutenção, e que reduz em até 70% o consumo de energia elétrica, é um projeto mundial com costumizações para o mercado nacional que saíram daqui, onde ele também é feito.

O mercado de elevadores vem na esteira da construção civil. A região viveu boom entre 2009 e 2013, ganhou quatro shoppings e alguns dos já existentes passaram por expansão e melhorias. Com a crise, foi colocado o pé no freio. Como a Otis viu este momento?
No boom, o mercado de elevadores duplicou de tamanho. Depois, de 2014 a 2017, também houve queda significativa. Caiu pela metade e voltou ao que era antes de 2008, com mercado de 7.000 a 8.000 novos elevadores por ano em todo o País. No pico, em 2012, chegou a 15 mil elevadores. Agora, começamos a perceber discreta retomada, porque o mercado pelo menos parou de cair, e nos deu expectativa de retomada mais robusta a partir do ano que vem. É importante ressaltar que esse segmento se divide em dois. Um é o de novos equipamentos, que depende muito da construção civil. Outro é de manutenção, que se manteve na crise. Estimamos que existam mais de 300 mil elevadores instalados no Brasil. Então, embora a expansão seja menor, nos mantemos em atividade por conta da prestação desse serviço.

Quanto da receita da Otis provém da manutenção?
A receita é muito equilibrada entre novos equipamentos e manutenção. Existe mercado que agora está tomando corpo, o de retrofit, no qual apostamos. Quando o prédio faz reforma de fachada ele já aproveita para modernizar o elevador, mas não só a parte estética, e mudar a cabine. Trocamos equipamento eletromecânico por comando microprocessado. O elevador hoje é como um computador. Antigamente tinha casa de máquinas com quadros de comando grandes, e hoje tudo é feito por controle com placa eletrônica. A modernização traz conforto ao usuário, com viagem mais suave, mais segura e com redução de energia elétrica.

Quanto custa a atualização?
O investimento é pago em três ou quatro anos, só com redução do consumo de energia. Mas é importante por nesta conta a significativa valorização do imóvel, de 15% a 20%, depois do retrofit com a modernização de elevadores.

Quanto a Otis faturou em 2017 no Brasil? E qual seu market share?
Não posso revelar, somente o global, que foi de US$ 12 bilhões, sendo US$ 2 bilhões de lucro. Somos líderes mundiais desse mercado, com dois milhões de elevadores em manutenção em 200 países. A cada três dias, estimamos que seja transportada população equivalente a população terrestre. O Brasil está entre as dez maiores operações do grupo.

Quanto a região representa nas vendas nacionais?
De 3% a 4%. E isso foi mantido tanto no boom como agora. Isso porque a região cresceu no boom, mas o mercado imobiliário nacional cresceu como um todo. E na queda, todo mundo caiu. Durante os cinco anos de boom também nunca vimos crescimento de shoppings centers tão expressivo. Mas esse setor teve queda mais intensa do que o residencial.

O que o senhor acredita que irá impulsionar a retomada?
De um ano e meio para cá, temos cenário marcado por queda significativa dos juros, inflação baixa e sob controle e taxa de dólar estável, na casa dos R$ 3,40, que após a greve dos caminhoneiros mudou um pouco (hoje em R$ 3,71). São fatores macroeconômicos melhores do que no passado e que afetam significativamente o mercado da construção civil. Juros baixos são fundamentais porque influenciam no crédito imobiliário e impulsionam o setor. Vemos que os estoques de imóveis, até então super elevados, caíram, e as incorporadoras voltam a fazer lançamentos. É isso que vai puxar a retomada.

O alto desemprego, porém, ainda é calcanhar de Aquiles...
Sem dúvida. Mas aquelas pessoas que estavam empregadas e com comportamento de desempregadas, que tinham muito medo de dar próximo passo e aderir a crédito imobiliário, agora devem mudar conduta devido à queda da taxa de juros. Teremos crescimento mais sustentável. O boom repentino nunca é muito bom. Vejo expansão um pouco menor, mas mais sustentável no longo prazo. E se o desemprego voltar a cair, teremos incremento ainda maior do mercado mobiliário devido ao deficit habitacional muito forte. É diferente do mercado europeu, em que a taxa de juros pode ser a menor do mundo, com estabilidade econômica, mas as pessoas já têm seu primeiro e até segundo imóvel. A mola que vai impulsionar o mercado da construção civil e, consequentemente, o de elevadores no Brasil, é a da casa própria. Aqui, 80% do mercado é de prédios residenciais. Vemos potencial de expansão por mais 20 anos. Entre cinco e dez anos poderemos produzir o dobro do que é feito hoje.

Diante disso, a Otis vê espaço para contratar?
Sim. Assim que Brasil consolidar retomada haverá necessidade de reforçar quadro de funcionários. Mas com perfil diferente, em linha com a revolução digital. Já existem elevadores na nossa carteira de manutenção que não exigem que um técnico vá até o local para solucionar o problema. Eles estão interligados com a matriz, em São Bernardo, e meus engenheiros daqui conseguem capturar informações de um equipamento em Porto Velho (Rondônia), por exemplo, fazer o diagnóstico e, em alguns casos, a intervenção e conserto a distância, incluindo casos com passageiro dentro. Daqui, inclusive, falamos com a pessoa. Esse modelo vai mudar a forma como prestamos serviços. Estamos lançando aplicativo em alguns países, e que em breve chegará no Brasil, o e-call, em parceria com a Microsoft e com a AT&T. Ele sabe onde a pessoa mora e identifica que ela está chegando e que vai do S1 até o 5º andar. O elevador a espera com a porta aberta e com a chamada para seu andar já feita. A viagem deverá ser mais lúdica, com entretenimento e conteúdo. Esse é o futuro dos elevadores.

Em quanto tempo essa tecnologia deve chegar aqui?
Em dois anos. Nesse período deverá chegar uma série de aplicativos. Por exemplo, em vez de fazer manutenção preventiva, faremos preditiva. Ao sabermos com antecedência que um elevador está com a porta reabrindo com alguma frequência, e que em dois meses vai fazer o elevador parar, o arrumamos antes que isso ocorra. Prevemos que haverá ganhos com redução de custo, porque evitamos que o elevador pare. E as manutenções serão muito mais planejadas.

Em sua opinião, qual a importância do Diário para a trajetória da Otis no Grande ABC?
A história da Otis está muito ligada à do Diário, que acompanhou todo grande passo da Otis. Como estou há 20 anos aqui, o Diário também faz parte da minha carreira. Ele estava quando foi lançada a pedra fundamental da fábrica nova e quando fomos dar o nome da rua. O maior número de aparições da Otis foi no Diário. O jornal é meio de comunicação com a comunidade ao redor, os funcionários, já que a maioria mora na região, e os clientes.




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