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Humor é a marca registrada do inimigo secreto
Por Artur Rodrigues
Especial para o Diário do Grande ABC
12/12/2004 | 12:38
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Fim de ano é época de inimigo secreto. A brincadeira, que troca a adulação do tradicional amigo secreto pela gozação à custa de presentes baratos, já virou febre nas escolas, escritórios e festas familiares. De olho nesse novo nicho de mercado, algumas lojas de R$ 1,99 criaram especialmente para o mês de dezembro uma seção voltada especificamente para presentear o amigo inimigo.

Angela Fortes Belchior, 65 anos, dona do Bazar Angela, no Centro de Santo André, se gaba de ser uma das primeiras a inaugurar uma seção em sua loja para artigos usados na brincadeira. “Já faz dez anos que nos especializamos nisso, mas de quatro anos para cá passamos a vender mais”, conta.

Cerca de 100 itens fazem parte do catálogo de inimigo secreto do Bazar Angela. A dona da loja tem na ponta da língua qual é o presente para cada tipo de pessoa. “Temos um vestido de noiva para dar para mulheres encalhadas, roupa de empregada para viciados em limpeza, microcamisinhas para brincar com o ponto fraco dos homens e chicletes que mancham a língua para as crianças”, diz a comerciante, apresentando cada um dos itens e até vestindo alguns deles. “Essa máscara com um sorriso (mostra) é boa para dar para aquele chefe carrancudo, que nunca dá risadas”, exemplifica.

Muitas pessoas, porém, preferem botar a mão na massa e abusar da criatividade para pegar de jeito o amigo/inimigo sem gastar muito. “Às vezes, o melhor é comprar o material e fazer o presente”, diz a estudante de publicidade Lívia Polisel Jordão, 20 anos. Foi o que fez no ano passado, no primeiro inimigo secreto que participou. Ela mesma confeccionou um colete à prova de balas para uma pessoa que estava de mudança para o Rio de Janeiro, uma referência às balas perdidas que já viraram marca registrada da Cidade Maravilhosa.

Lívia gostou tanto da brincadeira que neste ano resolveu organizá-la com colegas da faculdade. João Paulo Trevisan, 24, que estuda na classe de Lívia, afirma que “vai pegar pesado” com seu inimigo secreto. “É a primeira vez que participo, mas já sei que a idéia da brincadeira é pegar de jeito no ponto fraco da pessoa.”

Se os universitários não dão moleza para os inimigos secretos, os adolescentes são ainda mais cruéis na escolha dos presentes. Eduardo Edwin Wolffsohn, 14, ganhou uma vassoura de seu inimigo secreto, em brincadeira realizada na escola. O motivo: “Me deram esse presente porque beijei uma menina muiiiito magra.” Ele não deixou por menos e deu uma escova de dentes para um colega não muito adepto à higiene bucal. A classe caiu na gargalhada.

A psicoterapeuta Celina Sevieri de Lima não enxerga a brincadeira com a aura inocente de quem a pratica. “Muitas vezes, principalmente quando os presentes fazem referência ao físico da pessoa, pode trazer problemas de auto-estima para o adolescente”, diz Celina. Já no ambiente de trabalho o inimigo secreto pode funcionar como uma “válvula de escape”, segundo o psicólogo e consultor de recursos humanos Felipe Pierry. “Pode ser que não resolva nada. Mas o inimigo secreto pode diminuir as tensões geradas no cotidiano.”




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