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Seu Chico e família festejam boa música na Vila Humaitá

Há 40 anos, bar na Queirós Filho é conhecido por chorinho, torresmo e caipirinha de lima

Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
27/05/2014 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Quem passa apressado em frente ao Bar do Chico, na Avenida Queirós Filho, na Vila Humaitá, em Santo André, nem desconfia que, aos domingos, ali se reúne gente de toda a cidade para uma canja cujo único compromisso é a boa música. Sob o comando do acordeon do proprietário Francisco Semião de Souza, 82 anos, e degustando torresmo preparado por sua mulher, Leonor Ferrari de Souza, 73, o visitante se sente em casa. E esse é mesmo o objetivo. “Aqui é um bar de família. Tem de manter o respeito. Não pode dançar nem fazer bagunça. É para vir quem gosta de ouvir música”, deixa claro seu Chico.

Com um único balcão quadrado ao centro, apenas os músicos convidados podem se sentar. Não há mesas nem cadeiras para os demais, que se acomodam no entorno da roda, quase sempre de chorinho ou samba, para acompanhar a melodia. “Se a pessoa me diz que sabe cantar ou tocar um instrumento, pode chegar. Tem gente boa e gente mais ou menos, mas aqui todos têm espaço. Só não pode ficar batucando na caixa de fósforo, porque música é coisa séria”, diz o proprietário.

Além dele e da mulher, os filhos Wilson, 50, e Ulisses Semião de Souza, 47, atendem os clientes no balcão diariamente, das 7h às 22h. É Wilson o autor da famosa caipirinha de lima da Pérsia. “Essa sai bem, mas temos muitas frutas e fazemos do que o cliente pedir.”
Wilson acredita que o segredo de manter o negócio por tanto tempo é o clima familiar. “Cheguei a trabalhar fora daqui, mas quis voltar. Minha mulher também ajuda. É bom porque as pessoas sabem que é um lugar de respeito, e que podem trazer mulher e namorada sem problemas.”

Enquanto os filhos e o pai comandam o balcão, na cozinha quem manda é dona Leonor, toda cabelos roxos e sorrisos quando o assunto é o negócio que construiu ao lado da família. “São 52 anos de casamento, completados em dezembro, e 40 anos trabalhando juntos.” Até hoje dona Leonor respeita a paixão do marido pela música, assim como seus filhos. “De domingo, o bar é do meu pai”, garante Wilson.

Quando questionada sobre o segredo do torresmo, carro-chefe da casa, dona Leonor apenas mostra as mãos, que também fazem feijoada às quartas e aos sábados e, diariamente, outro prato famoso da casa: jabá. “Quando a gente gosta do que faz, faz benfeito.”

Clube da praça promove jogos de dominó e baralho

A Praça Benedito Dahy, na Vila Humaitá, reúne diariamente jogadores de baralho e dominó. O grupo é organizado: além dos jogos, há sempre lanches e, uma vez por mês, é realizado churrasco. Os banquinhos de cimento ganham almofadas de tecido para acomodar os jogadores. A atividade preferida é o truco, mas o aposentado Antonio Peres Camova, 72 anos, garante que ali o que eles fazem mesmo é terapia. “Esse grupo é espetacular. Há mais ou menos dez anos que venho aqui e só tenho alegrias. Claro que já perdemos alguns companheiros, mas a vida continua, não podemos parar.”

Um dos mais idosos do ‘clube’ é também um dos mais ativos. Além de gostar do jogo, o aposentado Bernardino Brechanir, 93, é pé de valsa. “Nos bailes, a mulherada sempre me tira para dançar”, diz o simpático senhor de chapéu na cabeça, à moda antiga.

Seu Bernardino faz questão de lembrar que, em apresentação do músico Francisco Petrônio, a voz de veludo do Brasil, em Santo André, dançou a valsa do lenço. “Tínhamos que dar o lenço para a pessoa com quem quiséssemos dançar. Naquele dia, dancei com pelo menos 11 mulheres.”

Para melhorar ainda mais o clube da praça, o aposentado José Rodrigues Botelho, 86, sugere a instalação de banheiros químicos no local. “Também precisava ter aparelhos de ginástica para a terceira idade do bairro poder se exercitar.”

Procurada, a Secretaria de Mobilidade Urbana, Obras e Serviços Públicos, esclarece que moradores podem utilizar equipamentos de ginástica no Cesa (Centro Educacional de Santo André) Humaitá, localizado na Rua Guerra Junqueira. Sobre os banheiros, estudos podem ser implementados para instalação após a realização da próxima plenária do Orçamento Participatico, que acontecerá no dia 3 de junho no bairro, caso seja uma solicitação da maioria da população.

Linhas e agulhas para curar a depressão

A Vila Humaitá também oferece opção para quem quer se dedicar às artes. Em loja de aviamentos, são oferecidas aulas de tricô, crochê, tapeçarias, bordados e ponto cruz, entre outros. A professora é Aparecida de Paula Aires Martins, 60 anos, e garante que muitas de suas alunas deixaram de tomar remédios e venceram a depressão por causa das atividades.

Para participar das aulas, que ocorrem todas as quartas, quintas e sextas-feiras, basta comprar o material na loja e colaborar com taxa de R$ 10 por pessoa. “Qualquer um pode participar. Se a pessoa gostar de fazer, não tem segredo para aprender”, destaca Aparecida. Com tantas linhas, tecidos e lãs coloridas disponíveis no estabelecimento, difícil mesmo é escolher que material usar.

A loja funciona há 22 anos no mesmo endereço, e há senhoras que participam das aulas desde o início. “Muitas mulheres fizeram disso seu negócio próprio, e não dão conta de tantas encomendas que recebem. Outras fazem itens para presentear. Mas todas se sentem bem por ver algo tão bonito sair de suas próprias mãos.” Aparecida garante que é esse o segredo da terapia das linhas e agulhas: o prazer do faça você mesmo.

Tradição em estofados há 48 anos

A oficina de estofamento de Edgar Mattei, 52 anos, está instalada há 48 anos no mesmo endereço, na Avenida Queirós Filho, na Vila Humaitá. Quem deu início ao negócio foi o pai do comerciante, Laércio Mattei, que passou a arte do conserto de móveis e estofados para o filho.

Edgar garante que hoje em dia é muito comum reciclar sofás e poltronas. E vai além: “Por questões de higiene, é indicado trocar o estofamento a cada três anos, pois, assim como os colchões, acumula pó e ácaros que podem prejudicar a saúde.”

Mas Edgar reconhece que a maioria dos que vem à oficina tem estofados antigos, com mais de dez anos de uso. “No passado era comum as pessoas acreditarem que um sofá tinha de durar para sempre. Se for feita a manutenção correta, dura muitos anos, mas é preciso sempre trocar o tecido e a espuma.”

O comerciante afirma que prefere manter as características originais do móvel quando realiza a reforma. “A troca é do tecido, mas o estilo deve ser preservado.”

O estofador Genivaldo Amâncio dos Santos, 46, trabalha na oficina há cinco anos, mas está no ofício desde os 16. “Aprendo diariamente. Cada móvel é um desafio diferente, que me faz melhorar como profissional”, garante.  




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