Atualizada às 21h48

A Câmara de Rio Grande da Serra aprovou instauração de CPI para apurar denúncia de possível fura-fila da vacinação contra a Covid-19 na cidade. A investigação passou na casa por placar apertado, de sete a seis, e imprime a primeira derrota significativa do prefeito Claudinho da Geladeira (Podemos).

De autoria do oposicionista Claudinho Monteiro (PTC), a CPI investigará possível fraude logo no início da vacinação contra o coronavírus no País. A comissão, embora não oficialmente, nasceu sob o argumento de que uma comissionada lotada na Secretaria de Serviços Urbanos teria recebido a Coronavac em janeiro, época em que as escassas doses do imunizante ainda deveriam ser destinadas exclusivamente aos profissionais da saúde que integravam a linha de frente do combate à pandemia.

Silvia Maria Rodrigues da Silva, chefe de setor da pasta, teria sido vacinada no dia 22 de janeiro, apenas cinco dias depois de a primeira brasileira no País ter sido imunizada, na Capital, e três dias depois de Rio Grande da Serra – e as demais cidades do Grande ABC – receber as primeiras. Naquela ocasião, a cidade recebeu tímidas 440 doses. No cargo burocrático, Silvia recebe R$ 3.000 brutos por mês e é defensora ferrenha do prefeito nas redes sociais.

“Temos de investigar para saber se não há mais casos. Isso é uma vergonha. Teve parentes de funcionários que morreram, milhares de pessoas estão morrendo no Brasil. É lamentável (isso ocorrer com) um funcionário indicado pelo prefeito, que tem de dar o exemplo. Que eu saiba, em janeiro, só as pessoas de linha de frente poderiam tomar a vacina”, criticou Monteiro.

Antes de a sessão iniciar, Claudinho da Geladeira teria se reunido com a base governista para tentar enterrar a CPI. Há cinco meses no comando do Paço, o prefeito já enfrenta crise no Legislativo, que ensaia até instaurar impeachment por supostas falhas no enfrentamento da pandemia. O presidente da casa, Charles Fumagalli (PTB), irmão da vice-prefeita Penha Fumagalli (PTB), foi um dos que votaram favorável à CPI e que saiu em defensa das investigações no município.

Durante a sessão, parlamentares governistas tentaram descredibilizar a denúncia, citando que Monteiro abraçou um caso que carece de mais detalhes e que sequer foi informado há polícia. O vereador rebateu. “A CPI serve justamente para isso.”

A CPI será integrada por três vereadores, sendo dois deles de oposição. Por ser autor do requerimento, Claudinho Monteiro integrará a comissão, enquanto os outros dois parlamentares sorteados foram Benedito Araújo (PSB) e Marcelo Akira (Podemos).

Procurado pelo Diário, o governo Claudinho não se manifestou sobre o revés.

OUTROS CASOS
Nos últimos meses, os casos de fura-fila de vacinas contra a Covid explodiram na região. Foram denunciados casos em Diadema, Mauá, e mais recentemente, na FUABC (Fundação do ABC), mantida pelos municípios de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Nesse último caso, diversos profissionais de setores burocráticos da entidade foram vacinados sem figurarem a lista de prioridades. Entre os que receberam as doses estão advogados que atuam na FUABC, que, por sua vez, alega que os servidores foram vacinados por manter contato com equipamentos de saúde que lidam com pacientes de Covid.