Nacional Titulo
Guerra pelo comando do tráfico provoca rebelião em Bangu I
Por Do Diário OnLine
12/09/2002 | 01:16
Compartilhar notícia


Numa investida para eliminar rivais e unificar o poder do comércio de drogas no Rio de Janeiro, o traficante Luiz Fernando da Costa (Fernandinho Beira-Mar) e seus aliados do Comando Vermelho (CV) provocaram uma rebelião que atravessou toda a quarta-feira na penitenciária de segurança máxima Laércio da Costa Pelegrino (Bangu I). Pelo menos quatro traficantes foram assassinados – entre eles Ernaldo Pinto de Medeiros ('Uê'), arquiinimigo de Beira-Mar.

O secretário de Segurança Pública do Rio, Roberto Aguiar, afirmou que a rebelião em Bangu I nasceu de uma investida de Beira-Mar para unificar o comando do crime organizado no Rio de Janeiro e em todo o país. "Quem se opõe a ele é eliminado", comentou Aguiar. As autoridades fluminenses temem que a guerra travada dentro de Bangu I se reproduza pelas ruas do Estado. O 'toque de luto' imposto pelos traficantes para celebrar a memória de colegas assassinados já vigorou entre o comércio de nove bairros do Rio nesta quarta à tarde. A governadora Benedita da Silva (PT) determinou um reforço no efetivo policial Civil e Militar que faz vigilância nas ruas de todo o Estado.

A Secretaria de Segurança Pública do Rio confirmou, no final da noite, quatro mortes. Além de Uê, morreram Wanderley Soares ('Orelha'), Carlos Alberto da Costa ('Robertinho do Adeus') e Marcelo Lucas da Silva ('Café do Andaraí'). Mas o Departamento Geral do Sistema Penitenciário do Rio (Desipe) e o Departamento de Entorpecentes da Polícia Civil chegaram a falar em seis vítimas. Uma delas seria Celso Luiz Rodrigues ('Celsinho da Vila Vintém'), outro arqui-rival de Beira-Mar. Mas a advogada do traficante afirmou à imprensa que ele está vivo, apesar de ter sido espancado pelo bando que lidera o motim.

Poder - A rebelião na penitenciária Bangu I começou por volta das 8h, depois que dois agentes penitenciários foram rendidos por detentos ligados a Beira-Mar. Os amotinados logo conseguiram armas usadas pelos seguranças (dois revólveres calibre 38 e uma escopeta). Os rebelados ainda tem facas artesanais e duas pistolas de procedência desconhecida. Informações preliminares falavam em duas granadas nas mãos dos amotinados.

Depois que Beira-Mar tomou o controle de Bangu I, traficantes de facções rivais foram assassinados. Os aliados do líder do Comando Vermelho deixaram a galeria A do presídio e invadiram a B, que abriga seus adversários. Os mortos eram ligados à facção Amigos dos Amigos (ADA), um grupo que concorre com o CV pelo controle do tráfico de armas e drogas no Rio de Janeiro.

Quatro carcereiros e quatro operários que trabalhavam em obras nos pavilhões foram feitos reféns pelos amotinados. Os oito foram algemados a celas e colocados junto a botijões de gás. Os rebelados ameaçaram provocar uma explosão se a polícia invadisse a penitenciária. Por volta das 19h30, um carcereiro e um operário foram libertados. Seis permaneceram como reféns.

Pelo menos 300 homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar têm autorização para invadir Bangu I desde o final da tarde. Mas a ação foi impedida por integrantes do sindicato dos agentes penitenciários, que se colocaram no caminho dos PMs temendo pela segurança dos reféns. O atraso fez com que a noite avançasse sobre Bangu I, e os rebelados anunciaram que só retomariam as negociações pelo fim do motim às 7h desta quinta-feira. Nestes casos, invasões de presídios pela polícia durante a madrugada são consideradas operações de altíssimo risco.

A autorização para a tomada de Bangu I pela polícia foi dada após uma conversa telefônica mantida entre Benedita e o presidente Fernando Henrique Cardoso por volta das 17h40. A governadora reportou a grave situação na penitenciária e avisou que a invasão se configurava como a opção mais viável para acabar com o motim. "O presidente da República assegurou à governadora que o governo federal respalda suas medidas no sentido do restabelecimento da ordem do presídio", afirmou o porta-voz da Presidência, Alexandre Parolla. Pouco depois da ligação, Benedita autorizou a "retomada do poder dentro das instalações do presídio, que é uma dependência pública estadual, ou seja, entrar nas unidades e libertar os reféns", segundo o assessor de imprensa da governadora, Chico Júnior.

Os amotinados fizeram três exigências às autoridades fluminenses: querem que a polícia não agrida os detentos ao final da rebelião, convocaram as presenças dos secretários de Justiça e de Segurança Pública do Estado e exigiram que ninguém seja transferido para penitenciárias de fora do Rio. O governo concordou com a primeira reivindicação e não aceitou as duas últimas.

Durante a noite, em entrevista coletiva, Aguiar admitiu que a transferência dos líderes da rebelião se tornou inevitável diante da destruição promovida nas instalações de Bangu I. O destino mais provável dos presos, no caso da transferência, é o quartel do Batalhão de Choque da PM fluminense.

Castigo - A governadora determinou o afastamento do diretor do presídio, Ricardo Couto, e outros 12 agentes penitenciários que teriam contribuído com o motim. Os carcereiros terão de responder pelo desaparecimento de quatro armas no almoxarifado da cadeia. Os plantonistas são suspeitos ainda de terem facilitado a ação dos amotinados.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;