Márcio Bernardes Titulo
Campos de várzea

Passei pelo Parque do Povo, na Ponte Cidade Jardim, e voltei no tempo uns 40 anos

Por Especial para o Diário
07/09/2010 | 00:00
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Passei pelo Parque do Povo, na Ponte Cidade Jardim, e voltei no tempo uns 40 anos. O local ficou bonito, a Prefeitura trabalhou direitinho. Tenho certeza que a vizinhança está aproveitando.

Lembrei dos meus tempos de infância, do campinho do Tadeu e do Estigmatinos, lá em Ribeirão Preto. Quem não conheceu esses locais, ainda assim vai recordar um campo de várzea que deixou saudade. Eram tantos!

Quantos craques não foram descobertos na várzea. Aqui em São Paulo, em todas as regiões, jogadores surgiam no terrão e muitas vezes iam direto para os aspirantes. Está aí outra modalidade que conseguiram acabar.

Em qualquer jogo do Campeonato Paulista havia a preliminar com as respectivas equipes de aspirantes. Era possível conhecer e acompanhar os futuros craques.

Cansei de chegar mais cedo à Palma Travassos e Santa Cruz, antes Costa Coelho e Luiz Pereira. As partidas eram vibrantes e quando os times de Ribeirão jogavam contra os grandes, futuros titulares da Seleção Brasileira já mostravam o talento nas preliminares.

Mas, voltando à várzea, lamentavelmente, a especulação imobiliária acabou com os palcos da molecada. Hoje não haveria espaço para um Haroldão, Nego Fufu ou João Menino, que revelaram grandes jogadores do Comercial e Botafogo. As coisas ficaram diferentes, foram profissionalizadas. Ou melhor, se transformaram em um negócio.

Em Ribeirão, onde era o campinho do Tadeu, o local se transformou em uma praça e os arredores estão cheios de casas. Seus proprietários não permitiriam mais a invasão de intrusos para jogar futebol a qualquer hora do dia e fazer barulho, incomodar...

A área do campo do Estigmatinos se transformou em comércio que não preservou nem os belíssimos eucaliptos que enfeitavam parte da Avenida Independência.

Hoje quem quiser ser jogador de futebol deve antes de mais nada assinar um compromisso com um empresário ou procurador. Isso com 12, 13 anos. Claro que os pais precisam anuir. Vai depender do que eles ganharão. Ou então o caminho é encontrar um técnico bem intencionado que o aceite para testes.

Normalmente esses treinadores têm negócios com os procuradores. E a mercantilização da criança que sonha em ser ídolo e ganhar dinheiro na Europa é indisfarçável.

Os campos de várzea acabaram. As preliminares com os aspirantes também. Estão perdendo a chance de revelar mais jogadores para o maior patrimônio cultural do País que é o futebol.




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