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'Bênção malfeita' provoca 3 mortes em Diadema
Luciano Cavenagui
Do Diário do Grande ABC
14/12/2005 | 07:57
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Um trabalho espiritual malfeito em uma sessão de candomblé para benzer uma quadrilha de assaltantes pode ter causado o assassinato de três pessoas em Diadema. Essa é a principal linha de investigação da Delegacia de Homicídios do município sobre os três casos, o último ocorrido segunda-feira à noite no Jardim Ruyce.

De acordo com a investigação, em outubro, o bando solicitou uma bênção antes de realizar um roubo em São Paulo. Como o assalto não deu certo, a quadrilha resolveu se vingar da benzedeira e de sua família.

A benzedeira era a empregada doméstica Ednalva Oliveira Silva, 43 anos. Ela e sua mãe, a pensionista Cleonice Oliveira Silva, 66, em 3 de outubro foram assassinadas a tiros por homens encapuzados no barraco onde moravam, no Parque Real. O filho de Ednalva, O.S., 24, fingiu-se de morto após ser baleado e sobreviveu.

Segundo investigações da Delegacia de Homicídios, alguns dias antes do crime integrantes de uma quadrilha de assaltantes procuraram a empregada doméstica. Eles solicitaram que ela aplicasse uma bênção em sessão de candomblé para que tivessem sucesso total em um roubo que iriam realizar em São Paulo.

Ednalva costumava fazer trabalhos espirituais no quintal do barraco onde morava com a mãe, o marido pedreiro João Batista Vieira, 45 anos, e quatro filhos.

Conforme o combinado com o bando, a empregada doméstica fez a bênção. No entanto, o assalto que a quadrilha realizou em São Paulo foi um fiasco. Seguranças da empresa que seria roubada conseguiram frustrar a ação.

De acordo com a investigação, membros do bando, que tinham a certeza que estavam respaldados pela bênção, ficaram furiosos com a benzedeira. Consideraram que ela não fez o trabalho direito e resolveram se vingar. Juraram de morte Ednalva e sua família.

Em 3 de outubro, os encapuzados balearam todos que estavam na casa da doméstica. Após se recuperar dos ferimentos, o filho de Ednalva voltou para a cidade natal da família, no interior da Bahia, e levou três irmãs.

O pai deles, o pedreiro Vieira, continuou em Diadema, e foi assassinado segunda-feira, às 20h30, em um bar na rua Outono, no Jardim Ruyce. Ele levou dois tiros de espingarda calibre 12 no rosto. Sua face ficou toda desfigurada. Segundo a polícia, o matador se aproximou rapidamente de Vieira e deu os tiros à queima-roupa. Nenhuma testemunha apontou ainda algumas características do assassino.

"Esse pessoal que faz parte da quadrilha acredita muito em candomblé e não admite brincadeira com o assunto. Eles ficaram revoltados depois que o roubo não deu certo e tiveram certeza de que a benzedeira fez algo de errado. Não tem outra explicação para as mortes", contou um familiar do pedreiro, que preferiu não se identificar.

"No mundo do crime, muitas quadrilhas têm códigos e crenças que não podem ser desrespeitadas. Eles levam muito a sério isso. Pelo que investigamos até agora, os três parentes devem ter sido mortos por causa dessa bênção malsucedida", afirmou o delegado responsável pela Delegacia de Homicídios, Flávio Augusto Rodrigues.

"Após as mortes de mãe e filha, instauramos inquérito e ouvimos dezenas de pessoas. Está sendo muito difícil identificar os matadores, pois estavam encapuzados. Também não temos, por enquanto, dados do assassino que agiu ontem (segunda-feira). Muitas testemunhas estão com medo", acrescentou o delegado.




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