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Fusões marcam novo rumo da economia nacional
Nelson Rocco
Do Diário do Grande ABC
13/09/2009 | 07:00
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A fusão entre os bancos Itaú e Unibanco, anunciada no início de novembro do ano passado, tornou-se um marco dos efeitos da crise financeira internacional na economia brasileira. A união formou o maior conglomerado financeiro do Hemisfério Sul, com ativos na época estimados em mais de R$ 575 bilhões, deixando em segundo lugar o Bradesco, até então o maior banco privado do País.

Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da agência de classificação de risco Austin Rating, lembra que, quando o Lehman Brothers quebrou, em setembro de 2008, ainda não havia muita noção das dimensões da crise no mercado brasileiro. “No Brasil, começou-se a suspeitar que alguns bancos poderiam quebrar. O dinheiro do interbancário (operações entre os próprios bancos) começou a secar e o Lehman catalisou a desconfiança.”

Um ponto que jogou mais lenha na fogueira no receio da solvência foram as altas taxas que os bancos começaram a pagar nas aplicações em CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), denotando a necessidade de suprir a falta de crédito. “O Banco Central percebeu isso ainda no primeiro semestre do ano passado, quando a economia estava aquecida”, afirma Santacreu.

O que se seguiu foi um esforço concentrado do governo e do BC para injetar liquidez nos bancos, inclusive liberando depósitos compulsórios para que os mais capitalizados comprassem carteiras de crédito dos mais apertados. Segundo o BC, quase R$ 100 bilhões em compulsórios foram liberados. A transferência de carteiras entre instituições somava R$ 37 bilhões no primeiro trimestre deste ano.

Para Santacreu, neste mês os bancos estão voltando a emprestar. “Este é um semestre de transição, mas o mercado só voltará ao normal em 2011”, prevê.

 


Redução dos estímulos é maior desafio

Um ano após os episódios que simbolizaram a piora da crise internacional, especialistas fazem um balanço positivo da atuação do governo para amortecer os impactos sobre a economia brasileira.

Os analistas, porém, fazem um alerta: passada a fase mais aguda, o governo precisa ser cauteloso para buscar a velocidade certa de retirar os estímulos que deu ao setor privado.

O Brasil foi um dos que mais pesadamente intervieram para tentar frear os impactos da crise. O presidente do BC (Banco Central), Henrique Meirelles, foi um dos que apoiaram desonerações e liberação de crédito como forma de saída do furacão.

Segundo dados divulgados pela ONU (Organização das Nações Unidas), o País utilizou cerca de 5,7% de seu PIB (Produto Interno Bruto) em estímulos. O percentual fica acima do que gastaram em média as nações ricas, 3,7% do PIB.

Um dos estímulos dados pelo governo brasileiro foram reduções de impostos para produtos da linha branca e veículos. “O saldo da atuação do governo foi positivo”, elogia o economista Roberto Teixeira da Costa. “O que se discute agora é saber o tempo certo de os governos tirarem o pé do acelerador, reduzindo as intervenções sem dar um sinal equivocado à população. Os chineses, muito realistas, têm dito que ainda é muito cedo para isso.”

A recuperação da economia, percebida pela melhora do PIB no segundo trimestre, esteve muito ligada à percepção de que os níveis de emprego e renda tendem a melhorar em breve. “Está muito claro que o que amorteceu os efeitos da crise foi o consumo doméstico das famílias”, diz Rossano Oltramari, analista-chefe da XP Investimentos.

A piora da crise, em setembro passado, coincidiu com o início do período em que as empresas começam seus planos e organizam os investimentos para os últimos meses do ano e o começo do exercício seguinte.

Para Ricardo Almeida, professor de Finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração), esse fator fez com que a maioria das empresas fosse conservadora em suas projeções. “O setor privado deixou se afetar pelo pânico que tomou conta do mercado financeiro e agiu como se o Brasil fosse aquele da década de 90” critica. “Muitas empresas não esperavam uma recuperação tão rápida e terão dificuldades para dar conta do aumento da demanda”.

Teixeira da Costa afirma que o mundo só deve ficar mais tranquilo quando a criatividade de bancos e banqueiros for limitada. “Não podemos esquecer as origens da crise. É preciso melhorar as regras.”




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