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Geithner: EUA estão à frente na recuperação econômica
18/01/2013 | 01:27
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Como secretário do Tesouro dos Estados Unidos e, antes disso, presidente do Federal Reserve em Nova York, Timothy Geithner foi um dos guardiães e, mais tarde, um dos homens que participaram do resgate ao sistema financeiro durante os anos mais traumáticos desde a Grande Depressão. Em seus últimos dias no comando do Departamento do Tesouro, Geithner refletiu sobre a crise financeira em uma entrevista de meia hora com o The Wall Street Journal.

 

Entre outras coisas, ele disse que o resgate do governo ao sistema financeiro estava fadado a ser impopular. "Você é visto como se desse ajuda ao incendiário", disse. Mas Geithner previu que a história julgará os esforços como efetivos e com muito menos custos aos contribuintes do que foi inicialmente imaginado.

 

Ao usar uma metáfora com o basquete, Geithner disse que os EUA estão no seu "quarto tempo" de recuperação da crise, ou a uma hora de jogo corrido, mas a Europa está ainda no "segundo tempo", ou seja nos 30 minutos. Ele alertou que os EUA "não podem contar indefinidamente que o mundo tenha mais confiança no nosso sistema político do que seria justificado".

 

Seguem trechos editados da entrevista:

 

WSJ: Você frequentemente usou a analogia dos esportes para dar às pessoas a ideia de onde estamos na recuperação dessa a recessão devastadora. Então, onde nós estamos agora?

 

Geithner: Eu acredito que na recuperação, se você usar o basquete, estamos no começo do quarto tempo porque o desemprego ainda está muito alto e ainda será reduzido ao longo do tempo. Mas se você observar o quanto as pessoas lutaram para trazer a dívida sob controle com a renda e o quanto avançamos para reduzir os riscos no sistema financeiro, como o quanto foi profundo o ajuste no setor imobiliário - nós estamos há cinco anos ajustando o setor imobiliário -, o processo está muito avançado. Estamos na frente de outros países nesse processo.

 

WSJ: Se estamos no "quarto tempo", em que tempo está a Europa?

 

Geithner: Eu diria que a Europa está em um estágio bem inicial no seu desafio de longo prazo e que eles têm um desafio bem mais difícil do que nós. Mas eles fizeram uma coisa muito importante, pelo menos até agora, que foi afastar o risco de algum colapso catastrófico. Eles convenceram as pessoas de que têm a vontade e a capacidade para evitar isso.

 

WSJ: Então eles estão no primeiro tempo? Na metade?

 

Geithner: Eu não sei. Talvez no segundo tempo.

 

WSJ: Em qualquer medida que usemos, os grandes bancos estão maiores do que eram antes da crise. Eles ainda são "muito grandes para quebrar", especialmente se mais de um grande banco quebrar ao mesmo tempo?

 

Geithner: É verdade que houve uma tendência na redução à uma maior concentração no sistema financeiro dos EUA. Também é verdade que a tendência foi algo - mas não dramaticamente - acentuada pela consolidação que aconteceu na crise, e foi bom que ocorresse na crise porque protegeu o contribuinte de ter que absorver perdas muito maiores e protegeu a economia de danos mais perigosos. Mas por causa das reformas adotadas, estamos bem mais capacitados para absorver as consequências de uma falência de uma grande instituição e muito mais protegidos para sermos indiferentes a qualquer falência que eles enfrentem. Isso virou para nós um problema muito menor do que seria antes da crise, mesmo que os bancos estejam um pouco maiores.

 

WSJ: A repercussão à resposta na crise foi inevitável ou existe algo que você ou outros que administraram isso fariam de maneira diferente?

 

Geithner: Não existe explicação forte o suficiente para suavizar o medo inevitável e a raiva, bem como o ressentimento que as pessoas sentem com uma crise que prejudicou tanto os inocentes. O paradoxo disso é que as coisas que são realmente justas em termos de fazer com que as pessoas comuns sejam protegidas de um sistema que fracassa exigem que você faça coisas que parecem profundamente injustas, porque você precisa evitar um colapso. Você parece com alguém que está ajudando os incendiários.

 

WSJ: Existe o risco de que uma combinação entre a oposição aos pacotes, junto às mudanças das autoridades do Tesouro, bem como as do Fed, se confrontadas com algo parecido com 2008, sejam incapazes de responder efetivamente?

 

Geithner: Um risco é que eles não estejam prontos a responder. Se você olhar para a história das crises, o que mais diferencia como os países agem é se as pessoas estão prontas a fazer coisas realmente difíceis ou se elas ficam sentadas esperando - se preocupam com riscos morais, não protegem os inocentes, esperam ser queimadas. Então um risco é que as pessoas fiquem mais tentadas a isso, porque elas prestarão atenção às coisas negativas na crise e podem ficar esperando por uma solução, acreditando que não precisam fazer coisas difíceis.

 

WSJ: Existem acusações recorrentes de que os banqueiros não foram punidos o suficiente e não pagaram pelas coisas que fizeram. Você nunca se sentiu confortável com isso.

 

Geithner: Não, eu sentia desde o começo, e acredito que isso é uma grande força do nosso sistema, de que houve uma forte e poderosa resposta às regras às quais eles estão sujeitos. Duas coisas aconteceram. Uma é que a reposta forçada, que ainda ocorre, levou tempo para ganhar força porque as coisas são muito difíceis. E o público viu um grande atraso. E é claro, a outra coisa é que uma parte enorme do que aconteceu ao redor do sistema foi uma mistura de ignorância e cobiça, ou de esperança sobre a experiência, e que não foi algo ilegal. Muitas crises financeiras não são provocadas por fraudes ou abusos. Elas são provocadas por pessoas que tomam riscos que não compreendem, riscos enormes.

 

WSJ: Existe algo que saiu errado e que as pessoas devem saber?

 

Geithner: Eu acho que a coisa mais difícil é a sabedoria convencional a respeito da crise, que ela foi dura e injusta muito cedo. Mas pense quando as pessoas olham para as nossas respostas contra o histórico de crises no passado, bem como para o histórico de qualquer outra economia, eu acho que dessa vez os resultados foram muito bons, muito mais efetivos. Isso é um pequeno conforto, no entanto, para as pessoas que, compreensivelmente, pensam que nós não deveríamos ter de passar por isso... A maioria das pessoas ainda acha que seu governo deu US$ 800 bilhões para um pequeno número de bancos que nunca veremos novamente. Quando essa história é contada, vamos ter ganhado dezenas de milhões de dólares para o contribuinte, que você pode colocar para reduzir os déficits de longo prazo ou destinar aos programas Head Start, ou à educação ou infraestrutura, isso quando as pessoas pensavam que iriam perder um trilhão de dólares.

 

WSJ: Olhando para todas essas questões, tanto fiscais quanto financeiras, o senhor está confiante de que o nosso atual sistema político e a nossa cultura política estão à altura da tarefa?

 

Geithner: Eu acho que as pessoas estão muito negativas sobre a economia agora, em parte por causa da sombra do pessimismo, do ceticismo sobre o nosso atual sistema político. Mas, e para o momento é muito difícil de fazer, se você olhar atrás da disfunção política, a economia parece bem resistente. Nós temos muito mais diversidade de forças, da energia à alta tecnologia para a fabricação, do que é verdadeiro para qualquer grande economia, e as pessoas devem encontrar conforto e algum otimismo nisso... Embora o mundo irá nos dar algum tempo para encontrar um consenso em torno das reformas fiscais de longo prazo, eles não vão nos dar tempo para sempre. E você não pode contar indefinidamente que o mundo tenha mais confiança no nosso sistema político do que seria justificado. As informações são da Dow Jones.




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