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Quinta-Feira, 18 de Abril de 2024

O começo do fim da obesidade?
Por Antonio Carlos do Nascimento
15/02/2021 | 00:33
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Tal qual em avançados computadores, nossos sistemas são criados para funcionarem à perfeição, sem falhas, porém, alguns defeitos podem vir das origens, sejam para estas máquinas, ou em seres humanos. Por outro lado, a maior parte dos danos são adquiridos, seja por desgaste, mau uso, ou ocorrências relacionadas ao meio ambiente.

A sustentação do peso corporal é administrada por requintada estrutura cerebral, que nos leva ao consumo calórico exato para a compensação dos gastos e manutenção da reserva energética. É tudo estabelecido com tal precisão, que ingestas alimentares exageradas devem promover longos intervalos entre as refeições, ou, ao menos, forte diminuição da fome subsequente.

Substâncias adicionadas no processamento de alimentos, compostos químicos suspensos no ar e as alterações orgânicas patrocinadas pelo estresse contemporâneo estão entre os fatores que modificam este estreito controle entre gasto e consumo energético. De outro modo, o sedentarismo retira o exercício físico da modulação desse processo, entre tantos benefícios orgânicos que deixam de ocorrer.

O conhecimento adquirido acerca do enorme número de doenças derivadas do ganho de peso estabeleceu o consenso que a intervenção é crucial para evitarmos contexto inadministrável em futuro próximo. Infelizmente, apenas atividades físicas e perfil alimentar saudável, embora nos proteja de ganhos adicionais, não nos emagrece, pois, para isso é necessário balanço energético negativo com necessária submissão a graus variáveis de fome, situação desconfortável e dificilmente sustentada.

Sem que resolvamos as causas, as empresas farmacêuticas caminham a passos largos para encontrar um medicamento que corrija nossa matemática calórica equivocada e assessore nossos sensores para maior satisfação com menor ingesta e/ou diminuição da fome. Atualmente, os fármacos mais promissores para este objetivo são cópias quase exatas de um hormônio produzido fisiologicamente pelas células da parede intestinal durante o processo de absorção dos nutrientes, o Glucagon-like peptide*-1 (GLP-1).

A produção de GLP-1 é contínua durante toda a sequência absortiva e sua vida média é de dois a três minutos. Esta substância participa do mais importante eixo fisiológico na conclusão do consumo alimentar, com indispensável atuação na fisiologia pancreática

A indústria farmacêutica desenvolve análogos de GLP-1 há aproximadamente duas décadas, inicialmente para o diabetes tipo 2, mas rapidamente se tornou a opção mais impactante para o tratamento da obesidade e sobrepeso.

Um análogo de GLP-1, a semaglutida (Ozempic), lançado oficialmente no Brasil em 4 de maio de 2019 para o tratamento de diabetes tipo 2 (1 mg em dose única semanal), vem sendo avaliado avidamente em seu potencial de emagrecimento por cinco frentes de pesquisas (Step – Semaglutide Treatment Effect in People with obesity – Efeitos do Tratamento com Semaglutida em Pacientes com Obesidade) em estudo idealizado e desenvolvido pela Novo Nordisk, empresa que detém sua patente.

A prestigiosa revista New England Journal of Medicine acaba de publicar os dados relativos ao primeiro braço desta investigação (Step-1), com a utilização da semaglutida, na dose de 2,4 mg, uma vez por semana, no tratamento da obesidade. Os resultados obtidos após 68 semanas de administração semanal desse fármaco são absolutamente fabulosos, com média de 14,9% de diminuição de peso no período.

Porém, em análise mais precisa, o estudo deduz que no grupo que respondeu ao medicamento 86% perderam ao menos 5% do peso; 69% diminuíram ao menos 10%; 50% baixaram mais que 15%, e inacreditavelmente, 32% obtiveram redução ponderal além de 20% do peso inicial.

Em breve estará nas prateleiras de nossas farmácias, provavelmente com altíssimo custo, e ainda pior, continuaremos evitando bulir no nascedouro da obesidade com suas arrecadações milionárias. Mas, com olhar otimista, talvez estejamos caminhando definitivamente para substancial queda nas incidências e prevalências de diabetes tipo 2, hipertensão arterial, doenças articulares, psiquiátricas e todas as mazelas impostas pela obesidade e excesso de peso.

Então, sejam bem-vindas semaglutida e afins! 




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